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Avaliação da retenção de brincos de identificação em bezerros de corte sob sistema extensivo de criação

Um experimento foi conduzido na Estação Experimental de Zootecnia de Sertãozinho, em 2003 e 2004, com o objetivo de identificar fatores de importância para a retenção de brincos de identificação visual em bovinos de corte mantidos em sistema extensivo.

Por Anita Schmidek¹, Leopoldo A. de Figueiredo², Maria Eugênia Z. Mercadante²,
José Rodolfo P. Ciocca¹ e Mateus J. R. Paranhos da Costa¹

Com a crescente importância da segurança alimentar, a rastreabilidade vem se tornando exigência entre os consumidores de carne bovina. Em países cuja criação é caracterizada por deslocamentos entre propriedades com distintos sistemas de criação, a identificação individual desde o nascimento é relevante para assegurar a rastreabilidade. Para o produtor, mais importante que a rastreabilidade em si, a identificação individual dos animais do rebanho permite otimizar o controle interno da atividade pecuária na propriedade, facilitando o gerenciamento da empresa rural.

Deste modo, para que a identificação individual atinja seu objetivo, é imprescindível que a mesma permaneça nos animais durante toda a sua vida, ou seja, que apresente retenção vitalícia.

Um experimento foi conduzido na Estação Experimental de Zootecnia de Sertãozinho, em 2003 e 2004, com o objetivo de identificar fatores de importância para a retenção de brincos de identificação visual em bovinos de corte mantidos em sistema extensivo. A aplicação de brincos foi realizada em 504 bovinos puros, sendo avaliados os efeitos de época de aplicação (verão/águas, inverno/seca), tamanho do brinco (médio, grande), posicionamento do brinco na orelha do bezerro (meio, meio-cabeça e cabeça) e vigor do bezerro ao nascimento (vigoroso/saudável, pouco vigoroso/fraco).

A aplicação de brincos no período das águas (em metade dos bezerros) foi realizada entre setembro e novembro, em bezerros com um dia de idade, juntamente com a pesagem e a tatuagem. Nesta ocasião, os bezerros receberam 1ml de Doramectin®. No restante dos bezerros, os brincos foram aplicados no manejo de desmama (abril e maio), quando os mesmos tinham em média 7 meses de idade, procedimento comumente utilizado por produtores.

Foram aplicados brincos de dois tamanhos diferentes: “Grande” (5,4g; PAT´D®; Allflex) ou “Médio” (4,0g; PAT´D®; Allflex), em três posições na orelha do animal: meio, meio-cabeça ou cabeça (Figura 1).

Em todos os casos, a assepsia consistiu em revestir a parte macho do brinco com repelente de moscas em pasta e desinfetar o brinco com iodo antes da aplicação. Após a aplicação foram registradas informações referentes a problemas de cicatrização (inflamação, bicheira), com a respectiva data de ocorrência. Foram também registrados aspectos relacionados ao vigor do bezerro ao nascimento, sendo considerados pouco vigorosos bezerros apáticos, desidratados e/ou que não haviam mamado e os demais considerados vigorosos.


Figura 1. Caracterização do posicionamento do brinco (círculos) na orelha de bovinos.

Após a aplicação dos brincos, foram realizadas vistorias, de modo a acompanhar a cicatrização. Em casos de bicheira, o brinco foi retirado e aplicou-se larvicida. Nestes casos, considerou-se falha de retenção do brinco. Deve ser destacado que a equipe da fazenda não possuía prática na utilização de brincos de identificação, tendo sido esta a primeira experiência neste procedimento.

Após um ano de aplicação, a taxa de retenção de brincos aplicados no período das águas foi de 74,0%. Todos os casos de falhas de retenção foram associados à ocorrência de bicheiras. Para a aplicação no período da seca, a retenção foi de 99,6%, verificando-se uma falha de retenção devido a rasgo da orelha, que ocorreu no momento da aplicação, em decorrência da má contenção do animal. Nos brincos aplicados no período da seca ocorreram três casos de bicheira (1,3%), que não resultaram em falhas de retenção do brinco.

A identificação de bicheira no período das águas ocorreu quando os bezerros tinham em média 71,9 dias de idade, com idades mínima e máxima de 39 e 129 dias, aparentemente coincidindo com o final do período de proteção do medicamento utilizado. Entretanto, era de se esperar que no período de um mês após a aplicação dos brincos, os furos já estivessem cicatrizados, com baixa probabilidade de ocorrência de bicheira. Mas isto não ocorreu, talvez devido à elevada umidade do ar no período.

O posicionamento do brinco na orelha dos bezerros é importante para a ocorrência de bicheiras no local do furo do brinco, de modo que, quanto mais próximo à cabeça do animal, maior o risco. As falhas de retenção de brincos aplicados próximos à cabeça foram de 24,3%, quando aplicados entre o meio e a cabeça de 16,9% e quando aplicados no meio da orelha (local recomendado, Figura 2) a falha de retenção foi somente 5,3%. Este resultado pode estar relacionado com a anatomia da orelha, em que se verifica maior espessura e irrigação na base da orelha (próximo à cabeça) em comparação ao meio.


Figura 2. Brinco posicionado no meio da orelha (baixo risco de bicheira ou de rasgar a orelha).

Entretanto, deve-se evitar aplicar o brinco na extremidade da orelha, pois apesar do baixo risco de bicheira, há elevado risco de perda devido ao fato da região da orelha ser mais fina em comparação ao meio, incorrendo em menor resistência física, além do brinco ficar mais exposto e mais sujeito a enroscar em cercas ou arbustos (Figura 3).


Figura 3. a) brinco fixado na extremidade da orelha (maior risco de perder o brinco); b) brinco perdido por rasgo da orelha; c) e brinco perdido por quebra do brinco; o círculo verde indica o meio da orelha.

Para brincos aplicados na época das águas, houve maior falha de retenção de brincos em bezerros pouco vigorosos (28,0%) em comparação aos vigorosos (17,8%). Bezerros pouco vigorosos podem apresentar menor imunidade, com cicatrização mais lenta e sujeita a inflamações. Portanto, para otimizar a retenção de brincos, deve-se evitar aplicá-los em animais pouco vigorosos ou doentes, esperando os mesmos se fortalecerem para, numa próxima oportunidade, realizar a identificação destes indivíduos.

Um aspecto importante para a boa retenção dos brincos é a experiência do vaqueiro na identificação de problemas de cicatrização após a aplicação dos brincos É muito importante que esses problemas sejam identificados o mais precocemente possível. Assim, devem ser observados sinais que indiquem risco de ocorrência de bicheira, como, por exemplo, chacoalhar muito a cabeça, marcas de sangramento na orelha, animais com a orelha caída, insistência da mãe do bezerro em lamber a orelha deste, animais apartados do grupo e presença de odor característico de bicheira.

Literatura recomendada

FERREIRA, L. C. L, MEIRELLES, M. B. Avaliação da eficiência de quatro métodos para identificação de bovinos, Monografia apresentada ao Departamento de Economia e Administração da Universidade Federal de Mato Grosso do sul para obtenção do título de Especialista, Campo Grande-MS, 2002.

GARIN, D.; LAMAS, A.; GIMENO, D.; CAJA, G. Performance of a double identification system for suckling beef calves under Uruguay´s natural grazing conditions. In: World Conference on Animal Production, 9, 2003, Anais… Porto Alegre, 1997, 284.

ICAR International Agreement of Recording Practices, 2002.

_________________________________

¹ Grupo ETCO – Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal, Depto. Zootecnia, FCAV-UNESP, 14884-900, Jaboticabal-SP, Brasil, etco@grupoetco.org.br

² Pesquisador – EEZS-SP – IZ/APTA/SAA-SP, Sertãzinho-SP.

Projeto desenvolvido em parceria pelo Grupo ETCO e Allflex do Brasil

8 Comments

  1. Juliano de Faria Santos disse:

    Boa Tarde

    Parabéns pela pesquisa, ela demonstra que a aplicação de maneira correta e o capricho do vaqueiro em perceber possíveis problemas de cicatrização podem resultar em sucesso no processo de identificação animal.

  2. Breno J P Barros disse:

    Artigo e trabalho, extremamente úteis e de grande aplicabilidade. Trabalhamos com brinco e bottom SISBOV na orelha pela terceira vez (3 maternidades em 3 anos), melhorando a técnica a cada ano e de maneira nenhuma trocamos pelo método antigo quando usávamos tatuagem.

  3. Leonardo Rodrigo Sallum Bacco disse:

    Artigo muito útil, rico e esclarecedor. São dúvidas desse tipo que auxiliam os pecuaristas.

    Me assustou um pouco o alto índice de retenção dos brincos.

  4. Luiz Cláudio Gugelmin Junior disse:

    Esta questão é muito importante. Já sou usuário de brincos há 15 anos e a colocação na época das águas é fria e sempre temos final de estação com chuvas.

    Uma sugestão é usar um vasador antes de aplicar o brinco. Por sinal, os aplicadores de brinco são muito ruins, já deveriam ter feito um melhor é só experimentar num papelão para ver como fica tudo arrebentado. Outra coisa seria melhorar o material do brinco, uso somente brincos da Allflex considero os melhores, mas mesmo assim a perda é muito grande, não por bicheira, mas pela quebra do brinco. O macho com o toco da fêmea fica perfeito na orelha, mas a parte aonde esta o numero quebra e cai.

    Somente teremos uma identificação perfeita quando ficar viável o uso de identificadores eletrônicos implantados dentro do animal, mas aí como poderemos saber o numero de um respectivo animal de longe em cima de um cavalo? Alguém tem que inventar uma identificação melhor.

  5. Breno Augusto de Oliveira disse:

    Parabéns aos pesquisadores pelo artigo, muito esclarecedor e prático, provando que com planejamento e higiene, o Sisbov pode ser operacionalizado com eficiência.

  6. Márcio William Meira Gomes disse:

    Muito bom o artigo.Todos os pesquisadores estão de parabéns!

  7. Leonardo de Melo Menezes disse:

    Ao amigo Luiz Cláudio,

    Creio que o processo de identificação animal deve evoluir mesmo, com identificadores dentro do animal. Há poucos dias vi no canal Rural um identificador interno, colocado junto ao rúmen do animal. No bebedouro havia um leitor para este identificador, e abaixo dele uma balança eletrônica. Assim, todo o dia, o animal era pesado (no momento em que bebe agua), e o produtor pode ter um relatorio semanal, mensal sobre o Ganho médio diário, podendo avaliar se a influência é dos insumos utilizados, sal, ou mesmo ter uma idéia de como está seu desempenho nas aguas ou na seca.

    Achei interessante deixar este depoimento, é bom lermos que mesmo no setor primário, estamos avançando tecnologicamente dia-a-dia, isto nos estimula a trabalhar sempre mais e visando o futuro.

  8. Tarcisio Rosseto disse:

    Parabens aos pesquisadores.
    Veriquei que no inicio da matéria foi informado que foram avaliados os efeitos tamanho do brinco (médio, grande), no entanto, não vi na conclusão se o resultado foi diferente entre o tamanho médio e grande.
    Estou para iniciar em uma propriedade a identificação de um pequeno rebanho de gado nelore e fiquei na dúvida se devo usar o brinco medio ou o grande (devo usar identificação com 4 dígitos numéricos). Outra dúvida é se deveria usar antes um vazador de orelha e se positivo em quanto tempo depois seria aplicado o brinco.