Patricia Menezes Santos, Marco Antonio Alvares Balsalobre
O uso de adubação em pastagens tem sido intensificado nos últimos anos. O objetivo desta tecnologia é o aumento da taxa de lotação e, consequentemente, da produção por unidade de área. Sob uma ótica nacional, é importante colocar a fertilização de pastagens como a principal alternativa para se atingir maior produção de carne, uma vez que a possibilidade de aumento da área de pastagens é limitada. No entanto, o uso de fertilizantes deve ser analisado do ponto de vista de sua economicidade.
Balsalobre et al (2002) desenvolveram uma série de simulações com o objetivo de avaliar a viabilidade econômica da adubação de pastagens e do confinamento em uma sistema de produção animal. Para a realização das simulações, foi idealizada uma propriedade de pecuária de corte no Brasil Central com uma área de 1000 ha, sendo 20% de reserva e 80% em pastagens. A taxa de lotação animal desta área é de 0,83 UA/ha (lotação média das pastagens artificiais não adubadas no Brasil), os índices zootécnicos e o manejo de pastagens são bons, sendo que os animais recebem apenas sal mineral e é adotado o pastejo rotacionado com controle de oferta de forragem.
Os resultados das simulações mostram que, a medida que se intensifica o sistema de produção, o custo da arroba engordada tende a se elevar. Assim, sistemas mais intensificados dependerão do valor de venda da arroba para que sejam viáveis economicamente. Os gráficos a seguir (Figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6) apresentam as lucratividades de sistemas não adubados, adubados e recebendo adubação com terminação em confinamento. As simulações foram realizadas para quatro cenários de venda de arroba (R$35,00; R$40,00; R$45,00 e R$50,00). Nota-se que os sistemas mais intensivos se viabilizam apenas em valores da arroba alto, enquanto o menos intensivo é viável em qualquer cenário. Por outro lado, quanto maior o valor da arroba vendida menor ganho é alcançado por esse sistema, comparativamente aos outros mais intensivos.
Figura 1- Relação do lucro/ha (R$) para três sistemas de produção e quatro cenários de valor de venda da arroba. Os três sistemas de produção são: sem adubação com taxa de lotação de 0,83 UA/ha; com adubação e taxa de lotação de 1,50 UA/ha e com adubação e parte dos animais confinados com 2,20 UA/ha. Considerando o valor de compra do bezerro de R$350,00. Fonte: Balsalobre et al. (2002).
Figura 2- Relação do lucro/receita (%) para três sistemas de produção e quatro cenários de valor de venda da arroba. Os três sistemas de produção são: sem adubação com taxa de lotação de 0,83 UA/ha; com adubação e taxa de lotação de 1,50 UA/ha e com adubação e parte dos animais confinado com 2,20 UA/ha. Considerando o valor de compra do bezerro de R$350,00. Fonte: Balsalobre et al. (2002).
Figura 3- Relação do lucro/PL (%) para três sistemas de produção e quatro cenários de valor de venda da arroba. Os três sistemas de produção são: sem adubação com taxa de lotação de 0,83 UA/ha; com adubação e taxa de lotação de 1,50 UA/ha; e com adubação e parte dos animais confinado com 2,20 UA/ha. Considerando o valor de compra do bezerro de R$350,00. Fonte: Balsalobre et al. (2002).
Figura 4- Relação do lucro/ha (R$) para três sistemas de produção e quatro cenários de valor de venda da arroba. Os três sistemas de produção são: sem adubação com taxa de lotação de 0,83 UA/ha; com adubação e taxa de lotação de 1,50 UA/ha e com adubação e parte dos animais confinado com 2,20 UA/ha. Considerando o valor de compra do bezerro com ágio de 20%. Fonte: Balsalobre et al. (2002).
Figura 5- Relação do lucro/receita (R$) para três sistemas de produção e quatro cenários de valor de venda da arroba. Os três sistemas de produção, sem adubação com lotação de 0,83 UA/ha; com adubação, lotação de 1,50 UA/ha e com adubação e parte dos animais confinado com 2,20 UA/ha. Considerando o valor de compra do bezerro com ágio de 20%. Fonte: Balsalobre et al. (2002).
Figura 6- Relação do lucro/PL (R$) para três sistemas de produção e quatro cenários de valor de venda da arroba. Os três sistemas de produção são: sem adubação com taxa de lotação de 0,83 UA/ha; com adubação e taxa de lotação de 1,50 UA/ha; e com adubação e parte dos animais confinado com 2,20 UA/ha. Considerando o valor de compra do bezerro com ágio de 20%. Fonte: Balsalobre et al. (2002).
As Figuras 1 e 4 apresentam o lucro por área alcançado para cada sistema. Em uma situação onde o ágio na arroba do bezerro é constante com a variação do valor da arroba vendida (Figura 4), observa-se que em nenhum momento ocorre prejuízo, e que quanto maior a intensificação maior a lucratividade, exceto para o valor de arroba de R$35,00, em que o sistema sem adubação e sem confinamento é mais viável economicamente. Entretanto, para um valor fixo de R$350,00/bezerro (Figura 1), a adubação de pastagens trás vantagens somente para valores na arroba superiores a R$42,00, sendo que o confinamento só se torna viável quando o valor da arroba se encontra acima de R$43,00. Observa-se também que valores menores que R$36,00; R$38,00 e R$40,00 inviabilizam os sistemas sem adubação, adubado e adubado e confinado, respectivamente.
A relação de lucro/receita, no entanto, é sempre maior para o sistema sem introdução de insumos, o que mostra o menor risco deste sistema (Figuras 2 e 5). Entretanto, como avaliação financeira, a relação de lucro/PL mostra que a adubação de pastagens e o confinamento passam a ser interessantes a partir de valores de venda da arroba de R$43,00 e de R$38,00, respectivamente, para o cenário de bezerro a R$350,00 e para o de ágio constante de 20% sobre o valor da arroba do bezerro (Figuras 3 e 6).
Comentário dos autores: no artigo de Balsalobre et al. (2002), o mais importante é observar o raciocínio desenvolvido, sem se prender muito aos número em si. A adoção de novas tecnologias, tanto em fazendas de corte quanto de leite, deve ser avaliada dentro do contexto do sistema de produção como um todo, considerando-se os índices zootécnicos e os custos envolvidos. Além disso, a análise deve ser feita caso a caso e sempre revalidada. As diferenças existentes entre propriedades e regiões e as variações nos índices econômicos tornam a extrapolação de resultados muito arriscada.
BALSALOBRE, M.A.A.; SANTOS, P.M.; MENDONÇA DE BARROS, A.L. Inovações tecnológicas, investimentos financeiros e gestão de sistemas de produção animal em pastagens. In: Peixoto, A.M.; de Moura, J.C.; Pedreira, C.G.S.; de Faria, V.P. Simpósio sobre Manejo da Pastagem, 19. Anais. Piracicaba, 2002. p.1-30.