Por A.A Jacewicz1, A.S.M.Teles Lôbo2, M.P. Martins3,M.I.S. Teles Lobo4, G.R. Galvão5 e I.M.S. Gomes6
Introdução
O presente trabalho representa a terceira avaliação efetuada em anos consecutivos, sobre carcaças de bovinos de corte da raça Nelore, pertencentes à empresa CARPA SERRANA AGROPECUÁRIA RIO PARDO S/A, oriundos da fazenda CIBRAPA, localizada no município de Barra do Garças, estado de Mato Grosso.
No ano de 1.995 com a primeira avaliação, a empresa tinha o objetivo de comprovar a qualidade da carcaça da raça Nelore como capaz de produzir novilhos, ditos precoces, capazes de competir comercialmente nos mercados exigentes. Com este, foi quebrado o paradigma de que esta raça não alcançaria padrão de Novilho Hilton só conseguindo bons resultados através de cruzamentos com raças européias produtoras de carne, onde o Nelore entraria com sua rusticidade e o europeu com sua maior capacidade de produção.
Para a segunda avaliação efetuada no ano seguinte, motivada pelos resultados da primeira, a empresa preparou um novo lote de bovinos, desta vez machos inteiros, procurando então quebrar novo paradigma, qual seja: os machos inteiros podem ser iguais ou superiores aos castrados quando criados em condições onde a genética, o bom manejo e a alimentação andam juntos para a melhor qualidade do produto final.
No entanto, a confiabilidade da comparação dos dados foi comprometida devido a fatores ambientais, e outros tais como: tempo de confinamento, alimentação diferenciada, e o próprio manejo em si, que não permitiu efetuar uma comparação segura com os dados obtidos em relação aos machos castrados.
Para que pudesse então ter dados comparativos confiáveis, optou a empresa em desenvolver nova avaliação, por nós orientada, com a finalidade de minimizar os efeitos de outros fatores que poderiam mascarar o resultado final.
Materiais e Métodos
Para este trabalho, foi separado um lote de bovinos machos nascidos no mesmo período (meses de agosto à outubro de 1.995), desmamados no mesmo dia e que sofreram manejos idênticos como vacinações e vermifugações, além de passarem juntos pelas mesmas variações ambientais. Deste lote, de forma aleatória, foram separados 300 animais dos quais 150 foram castrados no dia 28/03/97. A partir daí, constituíram os dois grupos que entraram na avaliação do diferencial entre machos inteiros e machos castrados.
Estes dois grupos foram submetidos a partir do dia 13/05/97, a uma terminação em regime de confinamento aberto por 81 dias, onde foi ministrada a mesma alimentação, composta de volumoso a base de silagem de sorgo e ração concentrada com 18 % de proteína bruta.
Durante a terminação, os animais permaneciam em dieta hídrica por aproximadamente 16 horas para serem pesados. Este procedimento de pesagem teve como objetivo fornecer dados para uma primeira avaliação de seu desempenho no confinamento.
Na véspera do abate (dia 03/08/97), mais uma vez em dieta hídrica de aproximadamente 16 horas, os bovinos foram embarcados, pesados e a seguir transportados para o matadouro frigorífico pertencente à empresa SADIA OESTE – Unidade de Barra do Garças, SIF 042, situada a aproximadamente 120 Km da propriedade, onde após o desembarque iniciaram o repouso pré abate, com dieta hídrica por aproximadamente 20 horas.
No dia 04/08/97, o trabalho de tipificação de carcaças foi desenvolvido no decorrer do abate, conforme preconiza a Portaria Ministerial no 612 de 15/10/89.
Terminados os trabalhos da sala de matança, as carcaças foram encaminhadas a câmara fria com a temperatura ambiente média de 2oC, por 24 horas. Na saída foi determinado o pH de 26 (vinte e seis carcaças) de cada grupo. A seguir foram selecionadas 6 (seis) carcaças de cada grupo que apresentavam paridade em maturidade, conformação, acabamento, tipo e peso.
Dando seqüência ao trabalho, cortes de carnes foram embalados à vácuo e armazenados em câmara fria com temperatura controlada, para uma completa maturação. Foram enviados à UNICAMP para os testes de qualidade, realizados pelo Dr. Pedro E. de Felício, que necessitou dos seguintes equipamentos e métodos:
Textura: realizado em 26/08/97, com carne maturada por 14 dias à 0-2oC, assada em forno elétrico pré aquecido à 170oC, com aquecimento por cima, até o centro do bife de 2 cm de espessura atingir 70oC
pH: Medições feitas por contato, com eletrodo de vidro
Umidade e gordura: determinações feitas por métodos oficiais nos bifes de contrafilé, com e sem gordura externa
Cor: medições feitas na porção muscular do contrafilé com colorímetro Minolta CR300, expressas em unidades L (luminosidade), a (intensidade de vermelho) e b (intensidade de amarelo), pelo sistema CIE
Resultados e Discussão
Desempenho no Confinamento
Análise de Variância do peso de 296 carcaças quentes, abatidas em 04/08/97, mediante a influência de castração ou não dos animais
Tipificação de Carcaças
Os dados foram processados e chegamos aos resultados apresentados a seguir:
Isto mostra que o lote tem em média de 22 à 24 meses, provando a sua baixa maturidade.
Desossa
Critérios de escolha para as carcaças destinadas à desossa
Testes de Qualidade
Nos testes de qualidade obtivemos os seguintes resultados:
Este experimento veio demonstrar que bovinos machos inteiros e castrados da raça Nelore, pertencentes à mesma faixa etária, submetidos ao mesmo manejo e ao mesmo plano nutricional, apresentam um desenvolvimento ponderal diferenciado com vantagem para o grupo dos inteiros.
Os machos inteiros obtiveram uma melhor conversão alimentar, resultando um melhor aproveitamento dos alimentos ministrados, reduzindo assim os custos de alimentação em 16,39 %, garantindo assim a sua melhor viabilidade econômica.
Na avaliação das carcaças, aplicando-se as normas de tipificação preconizada pela Portaria Ministerial no 612 de 05/10/89, aparecem os bovinos dos dois grupos reunidos na conformação retilínea, porém com pequena vantagem dos inteiros, que no período, tiveram um melhor desenvolvimento muscular em relação aos castrados.
Em relação ao acabamento, concluímos que os animais inteiros no terço final do confinamento, continuaram utilizando seu alimento para o aumento da massa muscular e conseguindo apenas o acabamento 2 (espessura de 1 a 3 mm). Já os castrados, transformaram este alimento em gordura de cobertura, chegando ao acabamento 3 (espessura de mais de 3 e até 6 mm), de maior aceitação pelo consumidor nacional.
O tipo B recebeu a maior parte dos representantes de ambos os grupos, com leve predominância de 7,43 % a favor dos castrados. Estes últimos, se fossem analisados em padrão internacional, seriam considerados em sua maioria esmagadora como “Novilhos Hilton”, isto é B*. Os inteiros aí não foram admitidos porque a diretiva da União Européia, que define esta categoria, só aceita animais que estejam castrados.
Em relação ao pH medido em ambos os grupos, verificou-se que os inteiros apresentaram-no mais elevado que os castrados, fato que determina a diminuição do prazo da vida comercial da carne e não satisfaz as exigências do comércio internacional. Diversos fatores podem ocorrer para sua elevação e entre eles está a inquietação dos lotes dos inteiros, observado durante o repouso dos animais no curral do frigorífico na noite anterior ao abate.
Outro aspecto que analisamos, referem-se as proporções observadas na relação traseiro e dianteiro das carcaças. Chegamos a conclusão que nesta maturidade não houve diferença estatística significativa entre os grupos.
Nos resultados obtidos nos testes de qualidade nota-se que não houve diferença entre os grupos testados, com exceção do pH, demonstrando haver a necessidade de maiores cuidados no manejo pré-abate dos animais inteiros.
Com o avanço da tecnologia e abertura de novas fronteiras, como o Mercosul e a globalização, as indústrias devem procurar novos mercados para seus produtos visando atender o consumidor desde o mais simples até o mais exigente, em termos de qualidade de carne. Deve também incentivar o produtor através de um diferencial de preços, motivando a produção de animais que forneçam carne de melhor qualidade, como por exemplo “Novilhos Hilton”, que com certeza em um futuro próximo, terão no Brasil um mercado certo.
Agradecimentos
CARPA Serrana Agropecuária Rio Pardo S/A – Barra do Garças – MT
SADIA OESTE – Industria e Comércio S/A – Unidade de Barra do Garças – MT
Equipe do Serviço de Inspeção Federal – 042 – Barra do Garças – MT
CLIVECO – Clínica Veterinária Centro Oeste – Barra do Garças – MT
Referência Bibliográficas
RIISPOA – Regulamento de Inspeção Sanitária e Industrial de Produtos de Origem Animal.
Portaria 612 de 05 de Outubro de 1989.
Jacewitz A. e Teles Lobo A.S.M.-Avaliação de um Lote de 285 Novilhos Castrados da Raça Nelore através da Tipificação de Carcaças.1995.
Anjos J.B. , Teles Lobo A.S.M. e Martins M.P. – Avaliação de um lote de 396 Machos Inteiros da Raça Nelore, através da Tipificação de Carcaças. -1996.
Barra do Garças, 08 de Setembro de 1.997.
Anexo: Legenda da Portaria Ministerial no 612 de 05/10/89
2Antonio Sergio Marques Teles Lôbo é Médico Veterinário CRMV – MT 0633 – Serviço de Inspeção Federal – Poins DFA – MT
3Marcelo Presoto Martins é Médico Veterinário CRMV – SP 9402 – Carpa Serrana Agropecuária Rio Pardo S/A
4Maria Ines de Szechy Teles Lôbo é Médica Veterinário CRMV – MT 0634 – Serviço de Inspeção Federal 042
5Geraldo Rosa Galvão é Médico Veterinário CRMV – MT 1117 – Serviço de Inspeção Federal 042
6Isidoro Manoel Soares Gomes é Médico Veterinário CRMV – MT 1137 – Serviço de Inspeção Federal 3964