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Avaliação de sistemas para formulação de dietas na suplementação de bezerros em amamentação

O período de amamentação nos rebanhos comerciais de bovinos de corte dura aproximadamente 210 dias. Nesse período, o potencial de produção de leite e condição corporal da mãe, assim como a qualidade e quantidade das pastagens disponíveis aos bezerros, são fatores importantíssimos para o desenvolvimento dos mesmos. Quando um desses fatores apresenta-se deficiente, pode-se lançar mão utilizar da suplementação, denominada creep-feeding, para a máxima exploração do potencial genético do animal. Além de permitir melhora no desenvolvimento dos bezerros, o creep-feeding também poderá proporcionar aumento na condição corporal das matrizes, melhorando assim suas funções reprodutivas. Como citado no artigo anterior, a suplementação de bezerros deve ser minuciosamente planejada, pois seus méritos poderão ser pequenos ou compensados logo após a desmama pelos maiores desempenhos dos animais não suplementados após a desmama.

A utilização do creep-feeding pode trazer as seguintes vantagens e desvantagens (Taylor e Field, 1999).

Vantagens:
– Maior peso à desmama
– Expressão do potencial genético de animais melhorados
– Melhora na comercialização de animais puros
– Redução do estresse à desmama
– Melhora na condição corporal das matrizes

Desvantagens:
– Custo do ganho adicional
– Pouca diferença de peso ao sobreano entre animais suplementados ou não
– Pouca diferença na comercialização dos bezerros

Para qualquer tipo de suplementação é muito importante precisão na formulação dos suplementos, evitando gastos desnecessários de nutrientes. Outro fator de grande importância para o sucesso econômico do creep-feeding seria a quantidade de suplemento fornecido, evitando-se a substituição da ingestão de forragens pelo suplemento. Pacola et al. (1977), citados por Brito et al. (2002), observaram aumento no desempenho de animais suplementados em relação a não suplementados, apresentando 27 kg a mais aos 7 meses de idade, e 22 kg aos 15 meses. Após confinamento de 120 dias, com aproximadamente 18 meses de idade, 56% dos animais que receberam creep-feeding atingiram peso de abate (430 kg), enquanto somente 12% dos animais controle atingiram o mesmo peso. Os mesmos autores também avaliaram por três anos consecutivos o efeito do creep-feeding em animais da raça Nelore, e observaram um aumento de 5,6 e 13 kg/cab aos 4 e 7 meses respectivamente, com diminuição na taxa de mortalidade de 3 para 1,28%.

Brito et al. (2002) avaliaram o desempenho de bezerros de corte suplementados segundo recomendações de diferentes sistemas de avaliação de dietas. Foram utilizados 29 bezerros da raça Canchim, divididos em três tratamentos, suplementados durante a estação chuvosa sob pastejo rotacionado de Brachiaria bryzantha. As avaliações se iniciaram quando os animais atingiram 55 dias de idade, com o fornecimento de suplemento específico para cada tratamento segundo as recomendações do CNCPS (Cornell net carbohidrate and protein system), MP (AFRC-Sistema de proteína metabolizável) e PDI (Sistema de proteína digestível no intestino). O experimento teve duração de 140 dias, dividido em 4 períodos. Os suplementos foram compostos de milho moído, farelo de soja e farelo de algodão, como descrito na tabela 1.

Tabela 1. Composição dos suplementos utilizados nos diferentes períodos.

As formulações foram feitas seguindo as recomendações para minimização de custos nos casos do MP e PDI, e no CNCPS buscou-se manter o máximo de requisitos pretendidos pelo sistema de ajustes. Após o segundo período, as rações foram reajustadas e mantidas até o final do período experimental. A ingestão do suplemento variou entre os tratamentos, sendo superior para o PDI na maior parte do período experimental, sendo superado pelos outros tratamentos no último período (tabela 2). No período total foi observada maior ingestão para o PDI (0,73/kg/cab/dia), porém a maior ingestão relativa ao peso vivo (PV) foi no tratamento MP (0,42% PV).

Tabela 2. Ingestão de suplemento (kg MS/cab/dia e %PV) nos diferentes tratamentos nos diferentes períodos experimentais.

A ingestão de proteína variou tanto dentro dos períodos, como entre os tratamentos. Nota-se maior consumo de proteína para o tratamento MP em relação aos demais, devido a maior quantidade de PB recomendada por esse sistema e o maior consumo relativo desse suplemento (tabela 3).

Tabela 3. Ingestão de PB do suplemento (kg/cab/dia e %PV) nos diferentes tratamentos nos diferentes períodos experimentais.

Em relação ao desempenho, foi observada igualdade de ganho de peso entre os tratamentos na avaliação do período total, havendo diferenças no terceiro e quarto períodos (tabela 4). Isso mostra que provavelmente os animais atingiram o máximo potencial genético.

Tabela 4. Peso inicial, final e ganho de peso nos diferentes períodos experimentais.

A não observância de diferenças no desempenho final, mesmo com as grandes diferenças na formulação, pode ser explicada pelo fato de haver um limite fisiológico para as taxas de ganho. O declínio nos períodos finais pode ser explicado pela diminuição no aporte lácteo e a queda na disponibilidade e qualidade da forragem com o início das secas. O decréscimo significativo no ganho de peso no período final dos tratamentos PDI e CNCPS, em contraste com o aumento do tratamento MP, sugere que os dois primeiros poderiam estar suplementando de forma mais efetiva a dieta dos animais, enquanto o tratamento MP estaria realizando algum efeito de substituição na ingestão de alimentos.

O sucesso zootécnico e econômico da suplementação de bezerros vai depender basicamente das condições nutricionais a que estão submetidos os animais, e da condição corporal das mães. Os melhores resultados vão acontecer em situações em que os bezerros estiverem com pequena disponibilidade e/ou qualidade de forragens, ou quando as vacas estiverem produzindo quantidades limitadas de leite. Apesar dos três sistemas analisados apresentaram diferentes formulações, todos apresentaram desempenho semelhantes, o que os habilita a serem utilizados na formulação de dietas para bezerros em amamentação. A escolha de determinado sistema deverá ser baseada no custo final apresentado por cada um deles.

Referências bibliográficas

TAYLOR, R.E.; FIELD, T.G. Beef Production and Management Decisions. 714 p., Prentice Hall, New Jersey, 1994.

BRITO, R.M.; SAMPAIO, A.A.M.; CRUZ, G.M.; ALENCAR, M.M.; BARBOSA, P.F.; BARBOSA, R.T. Comparação de sistemas de avaliação de dietas para bovinos no modelo de produção intensiva de carne. II – Creep-feeding. Rev. Soc. Bras. Zoot., v. 31, n.2, p 1002-1010, 2002.

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