Antonio do N. Rosa1 , Luiz Otávio C. da Silva2 e Luiz Roberto Lopes de S. Thiago3
1. Introdução
O sucesso da pecuária depende da produtividade das matrizes. O ideal é que cada vaca produza, a cada ano, um bezerro de boa qualidade. Ausência de cio no início da estação de monta e baixa taxa de concepção no primeiro serviço comprometem drasticamente esta meta. Sabe-se que o organismo animal cuida, em primeiro lugar, de sua própria sobrevivência, de sua mantença e somente depois deflagra os processos fisiológicos envolvidos na reprodução. Decorre deste fato a necessidade de um acompanhamento da avaliação da condição corporal, como suporte a programas de seleção e de manejo, especialmente nas regiões tropicais e subtropicais, onde a oferta de alimentos é muito variável em função das alternâncias dos períodos seco e chuvoso.
Este acompanhamento tem sido feito mais freqüentemente pela aferição do peso corporal. Esta medida, no entanto, além de exigir equipamento adequado, pode não refletir as reais condições corporais. Peso é resultado da estrutura do animal, envolvendo esqueleto, órgãos internos, musculatura e gordura. Poderá ocorrer que elevados pesos não sejam associados a animais com boas condições corporais e, sim, a animais de grande porte. Outros, embora com pesos inferiores, podem estar em melhores condições, em função de seu menor tamanho e de suas melhores reservas energéticas. As variações no peso podem, ainda, ser devidas a variações no enchimento do rúmen, à condição fisiológica associada à gestação, ao parto e à hidratação de tecidos, em vez de representarem alterações consistentes nos conteúdos de gordura e de proteína.
Por outro lado, a condição corporal, que expressa estas características de uma forma mais abrangente, pode ser avaliada facilmente, dependendo apenas da capacidade de observação, discernimento e treinamento do pessoal envolvido.
2. Por quê avaliar o escore?
Diferenças entre animais, em termos de condição corporal, indicam diferenças genéticas e/ou de meio ambiente, entre eles. Desta forma, o escore da condição corporal pode ser útil em várias situações, dentre as quais salientam-se:
3. Como fazer a avaliação?
A condição corporal deve ser avaliada, preferencialmente, no período da manhã, após jejum de água e alimento, pela observação e/ou palpação de estruturas do corpo dos animais. Pode ser aplicada a várias categorias sendo, no entanto, mais freqüente para fêmeas em reprodução (novilhas e vacas).
A maioria dos métodos com este propósito foram desenvolvidos na Escócia e Nova Zelândia, para raças taurinas, que diferem das zebuínas em aspectos anatômicos e na forma de deposição de gordura. O método pioneiro para raças zebuínas foi proposto por Nicholson e Butterwoth (1986). Além de específico para o zebu este método apresenta a vantagem de contemplar, em relação aos seus congêneres, uma escala mais abrangente, de nove pontos, considerada ideal quando se deseja uma avaliação detalhada da condição corporal. A proposta deste artigo, embora já divulgado em forma de folder, na Embrapa Gado de Corte, e por seminários diversos, desde 1992, é apresentar uma simplificação desta metodologia, reduzindo a pontuação para 6 pontos.
O objetivo é facilitar sua aplicação prática em programas de larga escala, quando o tempo de avaliação pode ser limitante, em função do grande número de animais envolvidos, e se torna necessária a participação de diferentes avaliadores. A redução do número de níveis pode evitar possíveis prejuízos em razão de diferenças de interpretação, sem, entretanto, baixar a qualidade da classificação estratificada dos animais, quanto às suas diferentes condições corporais, principal objetivo da avaliação.
Desta forma, após análise da cobertura muscular e de gordura e pela observação de pontos anatômicos, tais como processo transverso da coluna vertebral (vértebras lombares, na altura do vazio), ossatura da bacia e costelas, forma da musculatura correspondente às regiões da anca e coxão (côncava, plana ou convexa), cobertura muscular na região dorso-lombar e inserção da cauda (Figura 1), os animais deverão ser classificados em três categorias básicas: MAGRA, MÉDIA e GORDA, cada uma das quais sendo subdividida em dois níveis, inferior e superior, perfazendo-se, então, a escala total de 1 a 6 pontos, conforme ilustrado nas figuras correspondentes.
Rebanho com elevado potencial genético, saudável e bem alimentado será sempre eficiente e produtivo. Para que estes resultados sejam permanentemente alcançados as vacas devem apresentar, ao parto, escores entre 4 e 5.
Para que isto aconteça é necessário especial atenção no momento da desmama. Esta é uma época crítica para as vacas de cria. Além de terem sofrido o desgaste da amamentação elas precisam enfrentar, logo em seguida, o período seco, como ocorre na maioria das condições do Brasil Central. Muitas, além disto, podem também ter ficado prenhes na estação de monta anterior, demandando ainda mais cuidados.
Desta forma, nesta ocasião, o criador deve adotar os procedimentos que se seguem:
Na programação de estação de monta devem ser eleitas, preferencialmente, matrizes com escores 4 e 5. Na prática da seleção devem ser valorizadas as vacas que, além de desmamarem bons produtos, se mantêm em boas condições ou apresentam facilidade de recuperação, após o parto e a desmama.
Agradecimentos
Ao Dr. Edison B. Pott – Embrapa Pecuária Sudeste, pelo acesso ao trabalho original revisado nesta oportunidade.
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Adaptado de:
Nicholson, M. J. e Butterworth, M. H. A guide to condition scoring of zebu cattle. Addis Ababa : International Livestock Centre for Africa, 1986. 29p.
1Eng.-Agr., D. Sc., CREA Nº 11763-SP, Embrapa Gado de Corte; anrosa@cnpgc.embrapa.br
2Zoot., Ph.D., CRMV-MS Nº 0022-Z, Embrapa Gado de Corte
3Eng.-Agr., Ph.D., CREA Nº 1522-MS, Embrapa Gado de Corte