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Avaliação genética internacional

Por Ana Carolina Espasandin1

O contínuo intercâmbio de material genético (animais, sêmen e embriões) entre países tem incrementado o interesse pela realização de comparações do mérito genético dos animais pertencentes a diferentes países. Dispor dessas informações permitiria não só a otimização do progresso genético nos rebanhos, mas também a promoção de preços mais justos adequando as cotações à qualidade genética dos animais.

No entanto, os valores genéticos para um mesmo caráter publicados em diferentes países, não são diretamente comparáveis, tendo sido necessário o desenvolvimento de alguns procedimentos que permitem a comparação internacional.

Algumas das razões mais comuns que impedem essas comparações de forma direta são as bases genéticas usadas como referência em cada país, assim como as escalas e a ordenação dos animais (ranking) pelos respectivos méritos genéticos.

A maioria dos trabalhos desenvolvidos em avaliação internacional tem sido aplicados a bovinos produtores de leite, sendo escassas as publicações encontradas para comparar animais especializados na produção de carne.

Métodos de avaliação internacional

No intuito de reduzir os problemas derivados dos antigos métodos de comparação internacional, foi desenvolvido um procedimento alternativo de comparação do mérito genético, conhecido como MACE (Multiple-trait Across Country Evaluation; Schaeffer, 1994), usado atualmente nas avaliações internacionais de reprodutores leiteiros realizadas pela INTERBULL (Figura 1).

Esse processo de avaliação internacional é similar ao utilizado nas avaliações nacionais. A partir dos dados observados e, sob modelo pré estabelecido que liga os dados com os valores genéticos que se pretende estimar, são obtidas as estimativas genéticas resolvendo um sistema de equações resultante de predições BLUP.

Figura 1. Esquema de Avaliação Internacional utilizado pela INTERBULL
(método MACE)

Clique aqui para ver a figura

Fonte: Adaptado de Carabaño e Pena, 1999

Previamente à entrada na avaliação internacional, as provas nacionais dos touros têm de ser corrigidas pelas chamadas “provas de desregressão”, as que levam em a quantidade de informação (número de filhos) e o parentesco conhecido entre os touros.

Esse sistema de avaliação internacional apresenta várias vantagens em relação aos sistemas antigos de comparação genética entre países, entre elas:
A – utilização dos valores genéticos de todos os touros provenientes das avaliações nacionais, e não apenas dos animais com resultados em dois países;
B – utilização de toda a informação de parentesco entre os touros; e
C – obtenção de estimativas genéticas para a base e escala de cada país, para todos os touros dos países participantes.

Além disso, existe a possibilidade de se avaliar número infinito de países, de forma diferente dos antigos métodos não aplicáveis para mais de dois países simultaneamente.

No entanto, apesar de ser recomendável, podem existir algumas restrições do seu uso para a realização de avaliações internacionais em bovinos para produção de carne. A pouca difusão em relação ao uso da inseminação artificial, e o menor intercâmbio de material genético em relação ao exercido com a raça Holandesa, dificultam as ligações entre os países a estudar. Também, a existência de maior número de raças produtoras de carne, com suas correspondentes instituições, assim como a não existência de organismos centralizadores da informação, tornam mais difícil o controle dos registros e avaliações dentro e entre países.

Em gado de corte, poucos trabalhos têm sido realizados em avaliação conjunta entre países. Meyer (1995) realizou uma avaliação genética entre Austrália e Nova Zelândia, em que cada país foi considerado como um subconjunto de dados pertencentes à mesma população. As correlações genéticas entre os países (próximas de 1,0) indicaram ausência de interação genótipo-ambiente.

No entanto, algumas pressuposições deste método aplicado, como o uso de (co)variâncias e parâmetros genéticos semelhantes entre países, assim como classificações (ranking) iguais dos animais, podem ter condicionado os resultados obtidos.

Por outro lado, esse procedimento que combina conjuntos de dados de diferentes países num único modelo, é manejável apenas para número reduzido de países.

Em geral, os trabalhos publicados para avaliação conjunta em gado de corte são realizados levando implícita a ausência de interações genótipo-ambiente dentro e entre países.

Estudos conduzidos dentro de alguns países da região do MERCOSUL têm encontrado resultados significativos em relação a importância dessas interações. Ignorar estes resultados à hora de comprar os reprodutores pode trazer conseqüências sérias nos resultados globais das empresas rurais.

A diversidade ambiental que existe entre os países da região, assim como os resultados observados de interação dentro deles, invalidam de certa forma a aplicação de métodos tradicionais de estimação de componentes genéticos que ignoram esta fonte de variação do modelo.

O planejamento de avaliações conjuntas entre países da região deveria por tanto considerar os fatores ambientais (climáticos, físicos, de manejo, etc.) causais de interações genótipo-ambiente mediante estudos detalhados dos diferentes ambientes de produção.

Considerando estes fatores, seria possível a obtenção de valores genéticos dos reprodutores nos diferentes ambientes, permitindo dessa forma a escolha dos animais mais adaptados a cada sistema de produção.

Bibliografia citada

CARABAÑO, M.J.; PENA, J. Comparación Internacional del Mérito Genético. Tratado de Veterinaria Práctica, n. 91, p. 73-92, 1999.

MEYER, K. Estimates of genetic parameters and breeding values for New Zealand and Australian Angus cattle. Aust. J. Agric. Res. 46:1219-1229, 1995.

SCHAEFFER, L.R. Multiple-Country Comparison of Dairy Sires. Journal of Dairy Science, v. 77, p. 2671-2678, 1994.

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1Ana Carolina Espasandin é doutoranda pela UNESP/Jaboticabal – Convênio PEC/PG e Profesora de Bovinocultura de Corte, Universidad de la R.O. del Uruguay – EEMAC, Paysandú

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