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Avaliação genética internacional: alguns resultados da produção da raça Angus no Brasil e Uruguai

Por Ana Carolina Espasandin1 e Maurício Mello de Alencar2

Introdução

Em melhoramento genético animal sempre definimos a produtividade (fenótipo) de um animal ou rebanho como o resultado do seu genótipo, do ambiente de criação que lhes oferecemos, assim como da interação entre ambos.

Para melhorar a produtividade dos nossos sistemas, Genótipo e Ambiente são possíveis de se considerar, seja através dos resultados das avaliações genéticas (DEP) disponíveis nos sumários de touros, ou pela melhora alimentar e sanitária, entre outras medidas de manejo.

No entanto, a interação entre os genótipos que utilizamos e os ambientes que oferecemos é, em geral, uma incógnita. Conhecê-la implicaria contar com avaliações genéticas dos reprodutores para diversas situações ambientais, tarefa difícil de se implementar na prática, porém comprovada para várias raças bovinas no Brasil (Cardellino et al., 1997; Mascioli et al., 2000, Mercadante et al., 2000).

Na hora de comprar os reprodutores, especialmente quando estes provêm de sistemas de produção diferentes (ex. outros países), esta informação nos seria de grande utilidade, permitindo-nos avaliar em termos físicos e econômicos a compra de sêmen ou embriões desde um determinado país.

Um conhecimento mais profundo dos sistemas de produção de países com que intercambiamos materiais genéticos permitiria detectar fatores, talvez essenciais, a serem considerados nas avaliações genéticas. Desta forma os resultados são obtidos com maior precisão, além de possibilitar a geração de predições para diferentes situações de produção.

Conscientes desta realidade, desde o ano 2000 as Sociedades Criadoras da raça Aberdeen Angus dos países do MERCOSUL, têm se reunido com o fim de criar bases (critérios comuns) para a realização de futuras avaliações genéticas internacionais.

Este trabalho descreve numa primeira etapa, em termos de semelhanças e diferenças o manejo realizado durante a fase pré-desmama nas fazendas criadoras da raça Aberdeen Angus do Rio Grande do Sul-Brasil e Uruguai, integrantes do “Programa de Melhoramento de Bovinos de Corte” (PROMEBO/Brasil) e do Sistema Nacional de Avaliação de Reprodutores Angus (SER/Uruguai).

Base de dados

A base de dados analisada compreende um total de 87.636 animais de ambos países (74.361 e 13.275 no Brasil e Uruguai, respectivamente). Uruguai esteve representado por 33 estabelecimentos localizados em vários departamentos (politicamente o Uruguai se divide em 19 departamentos), enquanto que no Brasil, os 74.361 dados se originaram de 161 fazendas localizadas no Rio Grande do Sul, próximas aos municípios indicados no mapa (Figura 1).


Figura 1: Localização (aproximada) das fazendas criadoras da Raça Angus no Rio Grande do Sul e Uruguai

Os registros utilizados foram tomados durante o período 1990-2001, obtendo em cada fazenda informações referentes aos animais, pais e mães; datas e pesos ao nascimento, desmama e 18 meses; e idade da vaca ao momento do parto.

Estas informações permitiram calcular as médias de pesos, datas, idades e ganhos em peso em diferentes idades.

Características produtivas

A cria apresenta em geral, semelhanças nos resultados produtivos alcançados em ambos países (Tabela 1). Os animais nascem com pesos aproximados de 32 kg e 34 kg no Brasil e Uruguai, respectivamente. Os ganhos em peso obtidos pelos bezerros durante o período de amamentação são iguais, podendo tal vez indicar semelhanças nos potenciais de produção de leite das vacas (habilidade materna). A idade média das mães no momento do parto não teve diferenças sendo de 5,7 anos.


Em termos de manejo, no Brasil as desmamas são realizadas mais tardiamente que no Uruguai, fato que explica os maiores pesos atingidos pelos dos bezerros no Rio Grande do Sul.


No Gráfico 1 observamos a freqüência dos nascimentos ocorridos em cada mês do ano, para cada país. Ainda sendo registradas parições em forma contínua, a maioria deles se concentra durante a primavera, especialmente nos meses de agosto a novembro, comportamento semelhante nos dois países.

No Brasil, 83% dos partos são registrados neste período, ocorrendo a maior concentração nos meses de setembro e outubro (58%). Por outro lado, um pico de menor escala de nascimentos é observado no outono, nos meses de março e abril com apenas 8% dos nascimentos totais.

No Uruguai a estacionalidade é muito marcante, com 90,2% dos partos na primavera, entre agosto e novembro, sendo outubro o mês de maior concentração com 34% do total.

Com pouco mais de seis e sete meses de idade os bezerros são desmamados no Uruguai e Brasil respectivamente, principalmente nos meses de maio e abril, conforme se observa no gráfico 2.


Em concordância com os nascimentos, nas fazendas do Rio Grande do Sul se registra um segundo nos meses da primavera, onde são desmamados os animais nascidos no outono.

Esta distribuição, com marcante estacionalidade na produção, surge em ambos países a conseqüência de manejos que tendem a acompanhar os maiores requerimentos animais com períodos de superávit forrageiros, minimizando desta forma as perdas em produção (perdas de peso, mortes, entre outras).

Após a desmama, os bezerros são submetidos às oscilações da pastagem. As fortes restrições alimentares impostas pelo inverno determinam ganhos em peso quase nulos, ou até negativos em muitos casos. Já com os picos de produção primaverais o crescimento dos animais é retomado, obtendo aumentos de peso superiores aos normais, mediante o conhecido mecanismo de crescimento compensatório. Sob estas circunstâncias, os ganhos em peso médios diários não superam os 400 gramas por dia tanto no Brasil quanto no Uruguai.

Considerações finais

Os resultados apresentados neste resumo correspondem às médias calculadas considerando o total de animais compreendidos nas 194 fazendas avaliadas. Estes valores são capazes de fotografar de maneira rápida a produção da raça em cada país, mas não são suficientes para estabelecer semelhanças ou diferenças em produção obedecem a causas genéticas, ambientais ou uma combinação de ambas.

Uma caracterização geral das fazendas criadoras da raça Angus na região revela mais semelhanças que diferenças no manejo realizado e os resultados produtivos alcançados. A complementação destes estudos com outros fatores ambientais, provavelmente nos direcione ao conhecimento dos sistemas de produção existentes na região.

Uma vez determinados os fatores ambientais causais de interação genótipo-ambiente, deverão ser incluídos nas futuras avaliações genéticas com o fim de obter estimativas mais precisas da produção da raça Angus nos países do MERCOSUL.

Bibliografia

CARDELLINO, R.A., CAMPOS, L.T., CARDOSO, F.F., 1997. Interação Genótipo Ambiente nas raças Hereford e Aberdeen Angus: DEPs nos EUA e no Brasil. Anais da XXXIV Reunião Anual da SBZ. Juiz de Fora, MG, Julho, 1997. P. 190-192.

MASCIOLI, A. S. Interação genótipo x ambiente sobre o desempenho de animais Canchim e cruzados Canchim x Nelore. Universidade Estadual paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. Jaboticabal, 2000.

MERCADANTE, 2000. Avaliação de touros da raça caracu segundo o desempenho aos 378 dias das progênies em dois sexos/ambientes distintos. Anais da 37a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Viçosa, MG, 24-27 de julho de 2000.
_________________________
1Ana Carolina Espasandin é estudante de Doutorado em Zootecnia – UNESP/Jaboticabal – Bolsista Convênio PEC/PG; Prof. Univ. de la R.O. del Uruguay – Depto. Prod. Animal y Pasturas

2Maurício Mello de Alencar é Pesquisador EMBRAPA Pecuária Sudeste, São Carlos/SP

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