A balança comercial fechou a terceira semana de janeiro com déficit de US$ 258 milhões e acendeu um sinal amarelo no mercado, que já está promovendo uma discreta revisão das projeções para o saldo de 2002 e admite a possibilidade de pressão sobre o câmbio. O superávit acumulado no mês é de US$ 12 milhões, mas se não fossem contabilizados os quatro aviões devolvidos pela Varig , haveria déficit de US$ 314 milhões.
Apesar de janeiro ser um período tradicionalmente ruim para o comércio exterior, o desempenho é considerado incompatível com uma previsão de superávit entre US$ 5 bilhões e US$ 6 bilhões em 2002, embora especialistas ponderem que é cedo para tomar os primeiros resultados do ano como tendência. Para o BBV Banco, o teste será a primeira metade de fevereiro.
Se a balança continuar apresentando saldos menores do que o esperado, o câmbio pode se depreciar para calibrar as exportações. “É possível que haja alguma pressão”, afirma Fernando Barbosa, economista do BBV, que prevê o dólar valendo US$ 2,58 no fim do ano.
A recente valorização do real, segundo ele, tirou o fôlego das vendas externas e fez o banco rever suas projeções: espera um superávit de US$ 4,2 bilhões em 2002 – contra estimativa anterior entre US$ 4,7 bilhões e US$ 5 bilhões. Os números não levam em conta a diminuição dos negócios com a Argentina. Pesquisa do Banco Central junto às instituições financeiras mostra que o mercado está menos otimista: baixou de US$ 5 bilhões para US$ 4,8 bilhões sua previsão de saldo.
Nas três primeiras semanas do mês, as exportações caíram 14% sobre igual período do ano passado e atingiram o nível mais baixo desde janeiro de 2000. A média diária de vendas – US$ 177,5 milhões – só é comparável ao desempenho obtido imediatamente após a desvalorização do real, em janeiro de 1999, quando os exportadores ainda iniciavam a retomada do espaço perdido no mercado externo.
Os embarques de manufaturados estão diminuindo 26,3% na comparação anual. Aviões, telefones celulares, suco de laranja, calçados, motores e gasolina puxam a queda. Nos semimanufaturados, a redução é de 25,2% – com destaque para açúcar, celulose e couro.
As vendas de produtos básicos ficam praticamente paradas nesta época do ano, mas deverão mostrar um ritmo de aumento bastante inferior ao do ano passado, como resultado de um crescimento mais modesto do volume exportado e da manutenção dos preços agrícolas deprimidos no mercado internacional, segundo boletim de comércio exterior divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Barbosa, do BBV, acredita que a queda das exportações está fortemente relacionada ao agravamento da crise argentina, que paralisou os negócios com o país. Para ele, as empresas brasileiras encontrarão novos mercados, como Rússia e China. Ainda que dificultado no primeiro semestre pelo aprofundamento da desaceleração mundial, esse movimento deve continuar acontecendo.
Fonte: Valor Econômico (por Daniel Rittner), adaptado por equipe BeefPoint