Em fase final de negociações para incorporar o banco Matone, a direção do Banco JBS, do grupo que controla o frigorífico de mesmo nome, desenha com cautela o novo modelo de negócios para operar no crédito consignado. A instituição contará com um aporte de capital total superior aos R$ 300 milhões previstos inicialmente - R$ 200 milhões do JBS e R$ 100 milhões do Matone. A holding do JBS, a J&F, fará essa injeção adicional e, com isso, terá uma fatia acionária superior à imaginada anteriormente, de 60%. Comenta-se que poderia ficar com 70% a 80%. "Será uma posição majoritária relevante. Queremos ter uma estrutura de capital robusta", diz Emerson Loureiro, o presidente do banco.
Em fase final de negociações para incorporar o banco Matone, a direção do Banco JBS, do grupo que controla o frigorífico de mesmo nome, desenha com cautela o novo modelo de negócios para operar no crédito consignado. A instituição contará com um aporte de capital total superior aos R$ 300 milhões previstos inicialmente – R$ 200 milhões do JBS e R$ 100 milhões do Matone. A holding do JBS, a J&F, fará essa injeção adicional e, com isso, terá uma fatia acionária superior à imaginada anteriormente, de 60%. Comenta-se que poderia ficar com 70% a 80%. “Será uma posição majoritária relevante. Queremos ter uma estrutura de capital robusta”, diz Emerson Loureiro, o presidente do banco.
O capital robusto será um dos pré-requisitos para o banco reformar completamente o modelo de operação do Matone no crédito consignado com vistas a torná-la rentável. Loureiro não economiza nas palavras e chama o mercado de consignado de “terra arrasada”. “Desde a crise de 2008 o setor tem dificuldades para operar, o que culminou com o evento PanAmericano.”
Ele conta que o desenho idealizado pelo grupo prevê que a maior parte da concessão dos empréstimos será própria, ou seja, independerá dos chamados “pastinhas” – agentes terceirizados, ligados a correspondentes bancários e que recebem gorda comissão para vender o produto. A ideia é reter as carteiras em seu próprio balanço em vez de cedê-las a instituições maiores. Hoje, a cessão de carteiras é uma das principais fontes de captação de recursos para os bancos que operam no consignado.
Como muita gente nesse mercado, a conta do Matone não fechava. “O modelo do consignado tem várias inconsistências. Uma delas é a remuneração do pastinha, feita logo que o empréstimo é concedido”, constata Loureiro, tocando num tema que os participantes mais tradicionais desse mercado não gostam muito de detalhar.
Segundo ele, essa comissão está hoje, em média, em 15%. “Se o pastinha gera uma operação de R$ 10 mil, isso quer dizer que R$ 1,5 mil já ficam com ele a título de comissão. Daqui a seis meses o cliente resolve refinanciar esse empréstimo com outra instituição, pré-paga o crédito e o primeiro banco sai no prejuízo”, resume. A venda da carteira para levantar “funding”, com um deságio, só amplifica a perda, diz ele. “No Matone também há essas inconsistências, como em todo o mercado.”
Loureiro diz que o banco quer estar preparado para a mudança contábil definida pelo Banco Central para janeiro de 2012, que impedirá os bancos que cedem carteiras de antecipar o reconhecimento da receita da venda, prática hoje dominante no mercado. Essa reforma contábil representará um forte aperto para as instituições pequenas e médias.
Por conta disso, diz, a rentabilidade do banco ainda não será a desejável ao longo de 2012. O Matone tem uma carteira de crédito de R$ 2 bilhões e o estoque cedido é de R$ 1,6 bilhão. “Todos os bancos pagarão um pênalti na virada do ano, mas estaremos preparados.”
“Tornar a originação dos créditos própria será o grande pulo do gato do modelo”, avalia Loureiro. Hoje, os pastinhas trazem a maior parte dos empréstimos. A ideia é inverter as proporções e, idealmente, ter 80% da produção dentro de casa. “O negócio já se torna rentável com um percentual menor que esse.”
O banco quer se apoiar na rede própria de 85 lojas do Matone para estruturar esse modelo. “Essas lojas hoje não estão trabalhando no máximo de seu potencial e representam um custo fixo. Será preciso aumentar a eficiência da rede.”
A autorização do Banco Central para a incorporação do Matone deve sair em 60 dias. Bem antes disso, o executivo espera concluir a fase negocial com o novo sócio, Alberto Matone. Questionado sobre a participação do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) na operação, Loureiro diz que “ainda não houve”. Segundo ele, entretanto, um dos modelos estudados prevê recursos do fundo, que tem atuado em algumas operações de consolidação quando uma instituição deficitária está envolvida. O Matone estava com deficiência de capital. Já em setembro do ano passado apareceu nas estatísticas do Banco Central com índice de Basileia inferior ao mínimo exigido de 11% e em dezembro o número já batia em 4,3%. Em março o índice aparecia negativo em 3,77%.
Ex-executivo do mercado financeiro, com passagens pelos antigos SRL e BankBoston, Emerson Loureiro foi convidado a montar a área de câmbio da JBS em 2003, quando as exportações do grupo passaram a ser relevantes e a oferecer risco. Em 2009, Joesley Batista, então presidente do frigorífico, o convidou a montar o banco, que acaba de completar três anos.
“Agora queremos cortar os laços com o grupo JBS e ter vida própria”, diz o executivo. Para isso, além de trocar de nome, a instituição está de mudança da atual sede do grupo, na Marginal Tietê, em São Paulo, para um prédio na Marginal Pinheiros, próximo à Universidade de São Paulo. “Procuramos na avenida Faria Lima e no Itaim, mas não há prédios para alugar em São Paulo. Só se conseguem andares fracionados”, diz, queixando-se do aquecimento imobiliário.
No lugar de recém-formados em administração, economia ou contabilidade, o Banco JBS foi buscar em escolas como Esalq/USP, Unesp e federais do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul seu exército de vendas. Zootecnistas, veterinários e agrônomos foram treinados em matemática financeira, normas bancárias e crédito para vender os produtos do banco.
“Poderíamos ter ido à FGV e ensinado aos formandos a diferença entre o boi e a vaca, mas preferimos o caminho inverso”, diz Emerson Loureiro, presidente do banco JBS, em fase final para unir suas operações com o Matone. Para o executivo, essa fórmula criativa deu à força de venda do banco grande capacidade de avaliar os negócios com mais potencial e oferecer linhas de crédito a eles.
O JBS foi criado para trazer para o setor bancário o pecuarista. “Por causa da informalidade do setor, diferentemente do agricultor, o pecuarista não é bancarizado”, diz ele. “O pecuarista tem a fazenda e os bois, mas muitas vezes não tem dinheiro disponível para fazer um investimento, por exemplo.”
Dentro do novo banco, essa ainda será uma área muito importante, ao lado do consignado. Hoje, a carteira de crédito “agrária” do banco é de apenas R$ 600 milhões, comparada aos R$ 2 bilhões do Matone. “Num prazo longo, queremos que as duas áreas sejam equivalentes. Mas a dinâmica do crédito no setor pecuário é mais lenta que a do consignado.”
De acordo com Loureiro, no futuro o banco não descarta atuar em outros ramos do agronegócio. Da mesma forma, o banco faz planos para atuar no segmento de crédito imobiliário. “O Matone é o único banco médio que tem autorização para atuar em crédito imobiliário. Mas no momento não temos os recursos humanos nem o conhecimento para entrar no segmento”, diz o executivo.
A matéria é de Vanessa Adachi, publicada no Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.