Este texto é uma síntese dos procedimentos básicos aplicados nos programas de melhoramento genético coordenados pela GenSys. Muitos dos conceitos aqui apresentados foram desenvolvidos e aprimorados a partir de sugestões dos próprios criadores no decorrer de vários anos de coleta de dados para o melhoramento genético.
Vanerlei Mozaquatro Roso, Fernanda Varnieri Brito, Vânia Cardoso, Roberto Carvalheiro, Luiz Alberto Fries*, Carlos Dario Ortiz Peña, Mario Luiz Piccoli, Flávio Schramm Schenkel e Jorge Luiz Paiva Severo1
Este texto é uma síntese dos procedimentos básicos aplicados nos programas de melhoramento genético coordenados pela GenSys. Muitos dos conceitos aqui apresentados foram desenvolvidos e aprimorados a partir de sugestões dos próprios criadores no decorrer de vários anos de coleta de dados para o melhoramento genético. Num programa de melhoramento genético, antes de selecionar os animais e planejar os acasalamentos, temos muitas etapas a serem cumpridas. Começamos pela identificação dos animais.
Identificação dos animais
A identificação de todos os animais (produtos, touros e vacas) é pré-requisito básico para o monitoramento individual, controle de produção e melhoramento genético dos rebanhos. Todos os animais devem ser identificados de forma permanente já nos primeiros dias de vida.
Um bom sistema de identificação, contendo 12 caracteres (formato A12), pode ser obtido pela concatenação de Programa, Fazenda, Número e Ano de Nascimento, conforme descrito a seguir:
• Programa (01 caractere) – Uma letra para indicar o programa de melhoramento genético no qual o animal nasceu e foi controlado (exemplo: A para Aliança; C para CFM, G para Conexão Delta G, N para Natura, P para PAINT, Z para ABCZ, etc).
• Fazenda (04 caracteres) – Combinação de quatro caracteres (letras e/ou números) para identificar a fazenda na qual o animal nasceu (exemplo: ALV para Alvorada, SJO para indicar São João, etc). Não é permitido duas ou mais fazendas utilizarem um mesmo código dentro do mesmo programa.
• Número (05 caracteres) – Este campo pode conter até cinco caracteres. Ele contém um número seqüencial, que indica a ordem de nascimento do animal dentro da safra e fazenda. O número 210, por exemplo, indica que o animal é o 210o na ordem de nascimento dentro da safra (ano de nascimento). Embora exista a possibilidade para se utilizar até cinco caracteres, geralmente utilizam-se até quatro dígitos, o que contribui grandemente para minimizar erros na leitura e transcrição das identificações. Algumas fazendas combinam uma letra e um número para indicar, respectivamente, o ano de nascimento e a ordem de nascimento do animal dentro da safra e fazenda.
• Ano de Nascimento (02 caracteres) – Contém os dois últimos dígitos do ano de nascimento do animal.
Por exemplo, o animal 210, nascido em 2007, na fazenda Alvorada, no Programa da Conexão Delta G, ficaria com a identificação GALV21007.
Tabela 1. Detalhamento da identificação no formato A12
A tatuagem do número nas duas orelhas se constitui na identificação básica. Além da tatuagem, recomenda-se utilizar pelo menos mais um método complementar, pois nenhum método reúne todas as vantagens. Conforme a raça, diferentes combinações de métodos de identificação podem ser utilizadas. Por exemplo:
• nas raças Zebuínas – Tatuagem combinada com marca a fogo ou tatuagem combinada com brinco.
• nas raças Taurinas e nos cruzamentos entre Zebuínas e Taurinas – Tatuagem combinada com brinco.
Estas combinações de métodos garantem segurança e permitem ótima visualização das identificações nas atividades de rotina com os animais.
Características desejáveis de uma boa identificação
O sistema e os métodos de identificação devem aliar uma série de características desejáveis:
• Única – A identificação de cada animal deve ser encontrada apenas uma vez, não importando a fazenda, a raça, a categoria e o ano de nascimento. Dois animais não podem possuir a mesma identificação.
• Permanente – A identificação base deve ser a tatuagem do número nas duas orelhas. Este método garante segurança contra perdas de identificações.
• Insubstituível – Ao receber uma identificação logo após o nascimento, o animal deve permanecer com esta mesma identificação durante toda a sua vida.
• Prática – A utilização de brincos ou marca a fogo facilitam a leitura das identificações. A combinação destes métodos complementares com a tatuagem nas duas orelhas (identificação base) permite comprovar a identificação do animal sempre que existir alguma dúvida ou a necessidade de vistoria.
• Universal – Se a identificação for baseada num formato semelhante aos utilizados em vários outros programas de melhoramento genético no país, haverá maior facilidade na troca de informações entre programas.
Coleta de dados
A coleta de dados é uma das tarefas mais importantes num programa de melhoramento genético. Esta tarefa geralmente envolve boa parte da equipe de pessoal da fazenda, desde o peão até o técnico. As pessoas responsáveis pela coleta de dados devem ser devidamente treinadas para executá-la. Alguns detalhes relativos à coleta de dados, bem como as características coletadas em cada fase do ciclo biológico dos bovinos de corte, são abordados a seguir:
Fase de controle do estoque de vacas e touros– A função desta fase é atualizar os cadastros gerais das vacas e dos touros (inclusive os touros de inseminação artificial) a serem usados na reprodução. Neste momento, pode-se proceder a inclusão de animais no sistema de controle, fazer correções, informar baixas e atualizar a localização dos animais.
Fase de reprodução – Ao iniciar a fase de reprodução é emitida uma listagem atualizada contendo as vacas disponíveis para reprodução. Neste formulário deverão ser transcritas diariamente informações de reprodução, tais como a data do acasalamento e a identificação do touro utilizado. Com este procedimento é possível detectar e corrigir em tempo hábil erros de identificação de vacas e dados reprodutivos.
As principais informações coletadas na reprodução são:
• Identificação da vaca;
• Identificação do touro usado no acasalamento;
• Tipo de serviço (I = inseminação artificial, C = monta controlada, M = monta múltipla);
• Data ou período do acasalamento;
• Diagnóstico de gestação (P = prenha, F = falhada);
• Grupo de manejo;
• Código do inseminador;
• Peso, altura e condição corporal da vaca (opcionais).
Fase de nascimento – As informações coletadas no nascimento são anotadas na caderneta de campo e/ou no pró-coleta de nascimento. Geralmente estas informações são coletadas junto com as práticas sanitárias rotineiras ao nascer, tais como no momento das aplicações de cicatrizante no umbigo e de vermífugo.
As principais informações coletadas no nascimento são:
• Identificação do produto;
• Data do nascimento;
• Sexo do produto;
• Peso do produto;
• Grupo de manejo;
• Identificação da mãe.
Fases de desmama e sobreano – A regra é avaliar geneticamente os animais em dois momentos-chave do ciclo de produção bovina: na desmama (entre 6 e 8 meses de idade) e no sobreano (entre 14 e 18 meses de idade).Assim como nas fases de reprodução e nascimento, as informações coletadas nas fases de desmama e sobreano são anotadas em formulários apropriados (pró-coletas).
Os formulários organizam a coleta dos dados e minimizam erros, pois trazem impressas as identificações dos animais, evitando que as mesmas sejam re-escritas. Os formulários de desmama e de sobreano contêm espaços para anotar o peso de cada animal, a data da coleta dos dados, o código do grupo de manejo e demais características avaliadas.
As principais informações coletadas na desmama são:
• Peso com jejum completo de 12 a 14 horas (kg);
• Conformação (escores de 1 a 5);
• Precocidade de terminação (escores de 1 a 5);
• Musculatura (escores de 1 a 5);
• Tamanho (escores de 1 a 5);
• Prepúcio/umbigo (escores de 1 a 5);
• Data da avaliação;
• Grupo de manejo.
As principais informações coletadas no sobreano são:
• Peso com jejum completo de 12 a 14 horas (kg);
• Conformação (escores de 1 a 5);
• Precocidade (escores de 1 a 5);
• Musculatura (escores de 1 a 5);
• Tamanho (escores de 1 a 5);
• Altura (cm);
• Prepúcio/umbigo(escores de 1 a 5);
• Perímetro escrotal (cm);
• Área de olho de lombo (cm2);
• Espessura de gordura subcutânea (mm);
• Resistência ao carrapato Boophilus microplus (contagem na região entrepernas);
• Caracterização racial (escores de 1 a 5);
• Temperamento (escores de 1, 2, 4 ou 5);
• Pigmentação ocular (ausente, parcial ou total);
• Comprimento do pêlo (curto, médio, longo);
• Pelagem;
• Chifre (mocho, batoque ou padrão);
• Data da coleta dos dados;
• Grupo de manejo.
Grupo de manejo
O grupo de manejo caracteriza um conjunto de indivíduos manejados sob as mesmas condições ambientais (nutricionais, sanitárias, etc) e que, portanto, receberam as mesmas oportunidades para expressar o potencial genético.
Os grupos de manejo devem ser formados nas fases de reprodução, nascimento, desmama e sobreano. O rigor na formação dos grupos de manejo está fortemente relacionado com o grau de sucesso em separar adequadamente os efeitos genéticos dos efeitos ambientais nas avaliações genéticas.
A simples determinação dos grupos de manejo em confinados, semi-confinados e a pasto, na maioria das vezes, compromete seriamente as avaliações genéticas. Será que os níveis nutricionais proporcionados por todos os pastos da propriedade são semelhantes? Será que os pastos não poderiam ser melhor especificados de acordo com a qualidade, pelo menos em baixa, média e alta qualidade?
Sistema de controle de dados
A digitação e o armazenamento dos dados devem ser realizados através de um sistema informatizado de controle de dados de produção. O uso de um sistema informatizado de controle de dados proporciona uma série de benefícios:
• Não permite que, por erro de leitura, transcrição ou digitação, dois animais sejam cadastrados com a mesma identificação;
• Possibilita a validação e consistência dos dados a serem utilizados nas avaliações genéticas;
• Fornece informações sobre o desempenho da fazenda, por safra, fase do ciclo biológico, categoria, animal e funcionário;
• Fornece dados para comercialização dos animais;
• Fornece elementos que auxiliam na seleção dos animais;
• Permite o controle automático da composição racial dos animais.
O uso de um sistema informatizado de controle é absolutamente necessário quando se trabalha com animais cruzados/compostos, pois é impossível controlar manualmente a composição racial dos produtos num grande programa de cruzamento, principalmente quando são usados touros e vacas cruzadas. O sistema de controle de dados deve calcular automaticamente a composição racial dos produtos com base na composição racial dos touros e das vacas.
A maioria dos criadores ainda prefere anotar nos formulários (pró-coletas) os dados das avaliações para, posteriormente, no escritório, fazer a digitação através do sistema informatizado de controle. Entretanto, se o criador dispuser de um computador portátil, a digitação dos dados pode ser feita ainda no curral/mangueira, no momento da avaliação.
Avaliações genéticas
Depois de finalizadas as etapas de coleta e digitação dos dados, a próxima etapa do programa de melhoramento genético é a realização das avaliações genéticas.
As avaliações genéticas são realizadas por técnicos especializados em dois momentos-chave para a seleção dos animais: na desmama e no sobreano. Nas avaliações genéticas, para cada característica de interesse econômico, são geradas estimativas de DEP (Diferença Esperada na Progênie). As DEPs de cada animal são combinadas de acordo com o valor econômico e a ênfase que se quer dar a cada característica formando os Índices Desmama e Final.
Seleção dos animais
De posse dos relatórios contendo as DEPs de cada característica e dos Índices, o criador e/ou seu técnico faz a seleção dos animais, destinando os melhores à reprodução e os inferiores à engorda. Por congregarem num único valor as diversas DEPs, os índices facilitam o processo de seleção.
As avaliações genéticas dão origem aos seguintes relatórios:
• Relatório da desmama – Este relatório contém as DEPs e o índice de cada animal considerando o seu desempenho no período do nascimento até a desmama. Com base nas informações contidas no relatório da desmama pode-se descartar uma percentagem dos machos imediatamente após a desmama.
• Relatório de vacas – Juntamente com a avaliação genética dos produtos na desmama, o criador recebe o relatório da avaliação genética das vacas. De posse deste relatório, é possível descartar as piores vacas com base nas suas DEPs e índices.
• Relatório final – As DEPs e índices apresentados no relatório final consideram o desempenho dos animais desde o nascimento até o sobreano. De posse deste relatório, o criador deve fazer a separação dos tourinhos e novilhas destinados à reprodução daqueles destinados a terminação.
• Certificado Especial de Identificação e Produção (CEIP) – Após descartar uma parte dos animais inferiores na desmama e outra no sobreano, somente os 20% melhores tourinhos e novilhas da safra, aprovados na revisão final, estão aptos para receber o CEIP, autorizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. O CEIP confere isenção de ICMS na comercialização do animal e possibilita o seu ingresso em centrais de inseminação artificial para coleta e comercialização de sêmen.
• Sumário de touros – O sumário de touros é uma ferramenta de grande importância para promover o melhoramento genético tanto das fazendas participantes do programa de melhoramento genético quanto das fazendas externas ao programa. O sumário de touros é geralmente publicado uma vez por ano. Além da forma impressa, o sumário de touros pode ser apresentado na forma informatizada.
Planejamento dos acasalamentos
Para planejar os acasalamentos, o criador/técnico pode contar com o auxílio de um programa de computador denominado PAD (Programa de Acasalamentos Dirigidos). O PAD simula os acasalamentos de cada matriz com todos os touros disponíveis na propriedade.
As informações das avaliações genéticas das vacas e dos touros são combinadas na forma de índices médios esperados na futura progênie. Com base nestes índices e nas orientações, restrições e objetivos de cada rebanho, o programa indica os melhores acasalamentos.
Além de possuir opção para maximização dos índices, o programa proporciona o controle da endogamia e a realização de acasalamentos corretivos. Todas estas opções podem ser consideradas simultaneamente através da aplicação de restrições. As restrições impostas sobre os acasalamentos visam à obtenção de animais harmônicos e produtivos, sem defeitos que os desclassifiquem para o recebimento do CEIP e que diminuam o valor comercial. O programa de acasalamentos dirigidos também permite controlar a intensidade de uso de cada touro.
Programa de touros jovens
O programa de touros jovens, além de promover e disseminar o progresso genético entre os rebanhos participantes do programa, fornece informações da progênie para identificar de forma mais rápida e precisa os touros superiores, que no futuro poderão ser usados intensivamente na reprodução.
Para participar do programa de touros jovens, os animais devem ser submetidos a uma forte pressão de seleção. Eles devem estar entre os 1% melhores machos com CEIP, sendo eles escolhidos através do PAD.
O PAD simula o acasalamento de cada candidato (macho com CEIP) com todas as novilhas participantes do programa e indica os touros jovens que produzirem os melhores resultados nos seguintes critérios básicos:
• Acasalamentos para maximização do índice final da futura progênie;
• Acasalamentos corretivos para características produtivas e raciais;
• Manutenção da endogamia em níveis aceitáveis.
O sêmen congelado dos touros jovens aprovados para o teste de progênie é distribuído entre os rebanhos participantes do programa, de modo que pelo menos 10% dos produtos de cada rebanho sejam filhos destes touros jovens.
1Equipe GenSys
*Dr. Luiz Alberto Fries, sócio do Gensys, faleceu em 09/11/2007.
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Quero saber onde posso comprar um programa, para que possa ter um melhor gerenciamento do meu rebanho de fêmeas comercial?
Obrigado.