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Benchmark pecuário

Por Alexandre de Abreu Sampaio Doria1

Bench Mark, significa ponto de referência, ou unidade padrão para comparação entre produtos, títulos, serviços, processos etc. Por exemplo, as taxas de juros dos títulos de 90 dias do Tesouro norte-americano servem como benchmark para todas as taxas de juros praticadas nos EUA. A prática do benchmarking vem sendo cada vez mais utilizada na indústria, devido ao acirramento da competição.

Na prática, acontece o seguinte, busca-se referências de excelência em alguma atividade dentro da sua indústria, ou alguma que tenha atividades correlatas. Problemas com logística e distribuição? Estude como a Coca Cola faz para disponibilizar seus produtos nos pontos mais remotos da terra. Daí, quando se diz que a TA (Transportadora Americana) é benchmark em contratação de terceiros para transporte de carga, quer dizer que ninguém, é tão eficiente e eficaz neste processo quanto ela.

O grande problema é imaginar o presidente da Firestone ligando para o Presidente da Michelan pedindo “umas dicas” sobre determinado processo. Torna-se necessário lançar mão de alguns recursos como contratação de empresas de pesquisa, comprar e estudar o produto da concorrência etc.

No caso da agropecuária, o problema torna-se bem menor. Grande parte das empresas e seus proprietários são acessíveis aos demais. Um dos grandes exemplos disso é o Sr. Carlos Arthur Ortenblad. Em seu site, não só estão disponíveis informações valiosíssimas sobre como realizar a administração financeira e estratégica de uma propriedade rural, como ele ainda por cima escreve artigos repartindo com outros pecuaristas suas experiências e previsões.

Acabo de retornar das minhas férias profissionais, ou seja, uma viagem onde além de descansar aproveitei para me atualizar e trocar experiências com outros pecuaristas, e, não só estou encantado com a recepção que tive, como com a quantidade de coisas que aprendi.

Não pretendo chover no molhado discorrendo sobre as dificuldades que temos enfrentado em nosso setor, ou sobre a complexidade de gerenciar uma fazenda, principalmente no que tange à diminuição das margens de lucro no setor. É fato incontestável não podermos nos dar ao luxo de administrar nossas fazendas da forma “tradicional”, precisamos utilizar novas tecnologias, controlar nossos custos e buscar formas de otimizar a produção (desculpem pela chuva no molhado).

Surgem, portanto algumas opções, contratação de assessoria especializada, leitura de periódicos, cursos e palestras etc. Esses meios de atualização são importantíssimos e muito úteis, mas não podemos nos esquecer que temos, literalmente, milhares de colegas em situação muito parecida com a nossa, encarando problemas e soluções por ângulos diferentes.

Em uma atividade como a nossa em que vivemos em situação de oligopsônio, dependemos de fatores climáticos, somos achacados pelo governo, tanto o nosso como de outros países com barreiras tributárias e não tributárias ao nosso produto e tantas outras dificuldades, é reconfortante saber que podemos contar com a experiência de nossos pares.

O leitor perguntará: mas como determinar a “Coca Cola” da pecuária? Minha resposta inicial seria: não precisa. O simples fato de visitar outra fazenda, conversar sobre o assunto com os colegas, já nos levam ao aprimoramento mútuo de processos e práticas, mas isso não quer dizer que não podemos ir além, fazer um benchmark em outras indústrias.

Muitas indústrias realizam, em conjunto, estudos sobre melhores práticas em determinados segmentos. É um processo trabalhoso, mas relativamente simples, principalmente se houver um mediador. Diversas empresas rurais desenhariam um fluxograma de atividades, com descrição dos processos envolvidos, de forma a sistematizar e padronizar linguagem e atividades, a partir daí seria relativamente simples identificar as melhores práticas dentro de cada segmento (gado geral, elite, leite) e especialização (cria, recria, engorda), sendo que existem vários overlaps de processos análogos úteis a todos os empresários do ramo.

Tal estudo comparativo, além de trazer vantagens imediatas aos envolvidos, melhorando as práticas de cada empresa, poderia trazer também vantagens comerciais, pois poderia criar-se um “selo” de melhores práticas na pecuária e até mesmo facilitar a negociação com os próximos elos da cadeia, mas tendo isso como conseqüência e não causa da empreitada.
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1Alexandre de Abreu Sampaio Doria é administrador de empresas e pecuarista em Três Lagoas/MS

0 Comments

  1. Marco Garcia de Souza disse:

    Prezado Alexandre,

    Parabéns pelo artigo, o seu conhecimento em administração de empresas, somado ao conhecimento adquirido na prática com a pecuária, tem muito a somar para este setor.

  2. Joao Paulo Bicalho Dias disse:

    Caro Alexandre,

    Compartilho com vc esta visao. Sugiro ao beef point elaborar um manual de calculo de certos indices e solicitar a participacao de todos os produtores de carne bovina, criando assim um benchmark a ser publicado e atualizado anualmente pelo Beefpoint.

    Att.