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Bendito ponderal

Por Orestes Prata Tibery Júnior1

Não podemos deixar de reconhecer a importância do peso ponderal na evolução da nossa seleção de zebu. O ponderal chegou no momento certo, na hora que precisávamos mostrar que as raças zebuínas tinham potencial para concorrer com qualquer outra raça de corte do mundo. A mudança começou forte, pois os animais desfilavam nas pistas conforme a ordem do melhor ponderal. Não teve jeito. O criador-expositor teve que mudar o foco da seleção, usando touros mais pesados e tratando melhor seus animais de cocheira.

Aí virou mania. Assustamos quando apareceram os primeiros animais com ganho de peso em torno de 1.200g/dia, e depois os de 1.300g/dia. Hoje, quando queremos dar um basta para animais que chegaram a 1.660g/dia, enfrentamos a barreira dos que são favoráveis ao princípio de que quanto mais, melhor.

Na época em que surgiram os animais de 1.300 g/dia, nós dizíamos que os zebuínos, principalmente os da raça nelore, tranqüilamente ultrapassariam os 2Kg/dia. Isso é desejável? E as conseqüências? Os bezerros continuarão nascendo normalmente? A fertilidade será preservada? Os aprumos suportarão? E o consumo de alimento desses animais não aumentará em função do tamanho?

Atualmente, existem vacas tão pesadas, cupinzudas e cabeçudas que, se colocarmos uma capa no traseiro delas, quem não é do ramo dificilmente conseguirá dizer se é macho ou fêmea. O nosso mal é que não sabemos a hora certa de parar. Isso aconteceu com os pernaltas que também, em sua época, passaram da conta.

Enquanto não dermos um basta o peso continuará sem limites e não trabalharemos o que precisa ser valorizado agora, que é o acabamento da carcaça. Já temos peso suficiente, vamos cuidar melhor das garupas, aprumos e do acabamento precoce para que tenhamos um tipo definido nas diversas raças zebuínas. Alguém contesta as qualidades do red angus, aberdeen, limousin e outras, como raças de corte? Existem “gigantes” nessas raças?

Todas elas encontraram o seu ponto de equilíbrio e padronizaram seus animais. Está na hora de fazermos o mesmo. Comparado às raças européias, em sistemas tropicais de produção a pasto, o zebu ganha em tudo: rusticidade, fertilidade, longevidade, conversão alimentar (adquirindo peso com menor quantidade de alimentos), rendimento de carcaça e carne mais saudável, por não ter gordura entremeada. O único item em que precisamos nos igualar aos europeus é quanto a definição do tipo. O zebu precisa ter uma definição da carcaça ideal, mediana, com garupas bem revestidas, com profundidade e ossatura forte sem ser grosseira, com acabamento precoce, para que logo possamos abater nossos animais com média geral de 20 ou 24 meses.

O zebu responde rapidamente a todo tipo de seleção e pode ser padronizado respeitando tanto as características raciais, quanto uma carcaça acabada e precoce. Sabemos que muitos dos animais que alcançam pesos fantásticos, mais do que a herança de pai e mãe, enquadram-se nas diferenças de manejo, onde o tratamento dado aos bezerros é o de fechá-los já no primeiro mês de vida com uma ou duas amas de leite. É trato dia e noite, com luz acesa na cocheira, rações especiais, vitaminas, etc. Isso é natural? Muitas vezes o mais pesado não alcança o maior peso por que não é o mais bem tratado. A verdade é que esse tipo de atitude está virando competição de quem trata melhor e com isso as características de fertilidade e rusticidade dos zebuínos, que fazem a grande diferença com as outras raças, vão para o espaço.

Já disseram que essas mudanças são coisas minhas, particulares, o que não é verdade, pois tudo isso vem sendo desenvolvido pelo departamento técnico da ABCZ, que está, inclusive, à disposição de todos os associados. Através do nosso departamento técnico, o criador pode tomar conhecimento do método que usamos para chegar aos pesos máximos, método que foi aprovado com a concordância da diretoria da ABCZ e demais associações de raças, além de grupos de selecionadores, a maioria com mais de 35 anos de seleção, nos quais me incluo.

Somos conscientes de que mudanças como essas geram polêmica, e que expositores que têm animais que excedem o peso máximo e ganham campeonatos não estão satisfeitos, porém temos certeza que esses exemplares continuarão em evidência por outras qualidades que possuem. Caso contrário, não estariam sendo premiados por nossos juízes, já que os mesmos têm tarimba e competência suficientes para escolher o melhor.

Podemos afirmar que o abuso de alimentação e o confinamento excessivo prejudica muito os animais e temos certeza que todo criador de bom senso concorda com isso. É uma nova etapa, todos os caminhos percorridos foram válidos, só que até o momento não trabalhamos o modelo ideal que é o animal mediano, de aprumos corretos e ossatura forte, com garupa larga, profunda e bem revestida, com paletas bem revestidas também, mas nunca em desproporção com a garupa ampla, com acabamento e peso precoce, além, naturalmente, do respeito às características raciais.

Esse é o modelo universal, não estamos inventando nada. Vamos dar um voto de confiança ao Departamento Técnico da ABCZ e demais associações das raças zebuínas. Não queremos e não podemos tirar o peso do zebu e, sim, a maneira extremamente artificial de conseguí-lo.

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1Orestes Prata Tibery Júnior é presidente da ABCZ

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