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Bezerro em SP já não vale mais que no MS

O bezerro no estado de São Paulo, em função de vários fatores conjunturais, sempre foi o mais valorizado do País. De alguns anos para cá, este cenário vem se modificando. Apesar da arroba do estado continuar a mais cara do Brasil, a procura por animais de reposição não é mais tão intensa como anos atrás

Buscar bezerros no Mato Grosso do Sul e colocá-los em propriedades em São Paulo, a preços mais convidativos que no próprio estado, arcando com frete e ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), como se costumava fazer, não é mais realidade há algum tempo.

Analisando a série histórica de preços de bezerros apurada entre fevereiro do ano 2000 e a primeira quinzena de outubro de 2004 pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), observamos uma valorização de 47,19% para o bezerro do MS no período, e de 33,02% para o bezerro paulista. Veja o gráfico.

Cotação do bezerro em SP e no MS (de 2000 a setembro de 2004)


Em fevereiro de 2000, quando o Cepea iniciou a cotação dos bezerros no MS, o macho de até 12 meses valia R$ 252,91, enquanto o bezerro paulista era cotado a R$ 280,19, diferença de 9,74% a favor do bezerro de São Paulo.

Na segunda quinzena de janeiro de 2001, ocorreu a maior defasagem entre o valor do bezerro do MS e o de SP: o animal para reposição no MS estava valendo 15,59% a menos que o bezerro de São Paulo, segundo o Cepea. Em abril de 2003, a cotação do bezerro mato-grossense superou pela primeira vez a cotação do bezerro de São Paulo. Em setembro de 2004 os valores praticamente se igualaram novamente, com diferenças de preços inferiores a R$ 1,00.

Confira no gráfico abaixo as oscilações percentuais de preço entre o bezerro do MS em relação ao bezerro paulista.

Variação percentual entre o valor do bezerro no MS em relação ao bezerro paulista


“Em janeiro irá fazer um ano que não vendo nenhum bezerro de fora do estado em meus leilões”, afirma Júnio Ambrósio, proprietário da J.A. Leilões, empresa que semanalmente realiza dois remates em Presidente Prudente, SP, cidade localizada perto da fronteira com o Mato Grosso do Sul.

Do outro lado da divisa, Antônio de Oliveira Pena, diretor da Leilotrês, em Três Lagoas, MS, diz que há 5 ou 6 anos atrás, enviava por mês, 15 a 20 caminhões de animais magros, para invernistas de São Paulo. “Cerca de 30% da oferta do leilão ia para São Paulo, hoje esse negócio acabou”, diz Pena.

Os dois empresários do ramo do leilão colocam a culpa no avanço da agricultura sobre áreas de pastagem, principalmente no Estado de São Paulo, que tornaram-se muito caras, inviabilizando a produção pecuária, causando a saída destes produtores do mercado, ou sua migração para outros estados. Em algumas vezes o destino continua sendo o próprio MS.

Mesmo que em valores percentuais, a valorização das terras tenha sido maior no MS em relação à São Paulo, em valores reais, o hectare paulista continua muito mais valorizado. O avanço da cana-de-açúcar, em regiões tipicamente pecuárias, como a de Araçatuba, considerada a capital do boi, dá a entender que a valorização das terras no estado paulista chegou a um patamar em que a pecuária de corte, exceção feita a alguns casos, tornou-se inviável, daí se explica a menor procura por bezerros.

O leiloeiro Guillermo Sanchez, que trabalha em ambos os estados, diz que o MS é um estado eminentemente agrícola, muito dependente da pecuária. “No MS tem muita área que não vai virar agricultura nunca, como o Pantanal. Chega uma hora que não tem jeito, o invernista tem que repor. Já em São Paulo, muita gente está saindo da pecuária e quase ninguém quer entrar, o mercado está muito retraído”, explica Sanchez. O leiloeiro diz que em São Paulo, vacas com cria, que no passado valiam R$ 850, estão saindo por R$ 650. “É de dar dó”, completa.

O aumento do abate de matrizes em cada estado é uma forma de termômetro, capaz de medir os ânimos dos pecuaristas. O gráfico abaixo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), reforçam a idéia de que os pecuaristas paulistas andam mais desanimados que os produtores do Mato Grosso do Sul, e isto talvez explique a igualdade nas cotações dos bezerros nos dois estados.


Fonte: Equipe BeefPoint

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  1. Hamilton carneiro da Costa disse: