Por Andrea A. F. Brasil Vieira José1, Adriana K. Tarouco2 e Camila F. Guedes3
A bovinocultura nacional tem demonstrado, no cenário atual, importantes avanços tanto na produção de carne (i.e. mercado interno e externo) quanto de leite, avanços estes resultantes de contribuições conjuntas entre grupos de pesquisas, universidades e produtores.
O quarto trimestre de 2005 registrou o abate de 6,892 milhões de cabeças de bovinos, indicando um aumento de 4,28% sobre o mesmo período do ano anterior e queda de 6,53% sobre o terceiro trimestre de 2005. O menor número de abates em relação ao terceiro trimestre foi devido ao impacto da descoberta de focos de febre aftosa na região Centro-Oeste do país, mais especificamente no Estado do Mato Grosso do Sul, refletindo em uma queda de 52% sobre o mês de setembro e 35% em outubro.
As exportações de carne bovina no quarto trimestre de 2005 alcançaram 208 mil toneladas e o preço da tonelada ao final do ano fechou em U$ 2.228, segundo a Secretaria de Comércio Exterior – SECEX (fonte IBGE). Em janeiro deste ano, as exportações brasileiras de carne bovina, in natura, foram 22,6% superiores às de dezembro do ano passado, em volume, mas nem sempre este cenário se mantém ou se eleva devido, entre outros fatores, à qualidade inferior da carne que acarreta em queda de preços e exportações.
O Brasil compartilha do falso conforto de possuir o 2º maior rebanho do mundo e de ser o maior exportador de carnes em equivalente carcaça. Entretanto, para partir do “maior” para o “melhor” e obter uma melhora efetiva nos preços, é necessário investir no rebanho e dar devida importância às tecnologias disponíveis no mercado.
A identificação dos animais de alto potencial genético para as características de carcaça irá possibilitar a concretização e estabilidade do produto brasileiro, no mercado externo, e agregar mais valor ao produto (carne). Alguns programas de carnes certificadas e frigoríficos já estão pagando por um melhor acabamento e por animais padronizados quanto ao peso e à idade, garantindo ao produtor até 6% no valor da arroba, para produtos Premium.
Atualmente, um fator relevante tem sido o interesse na produção de animais com carcaças com pouca gordura subcutânea, inter e intramuscular, resultando em cortes com maior proporção de carne. Além disso, estudos têm demonstrado a preferência do consumidor por carnes mais macias, fator determinante na fidelização da “marca”.
A maciez é um dos mais importantes componentes da qualidade da carne, de acordo com consumidores norte-americanos, fato facilmente confirmado pela relação positiva entre um corte de carne e sua maciez com o preço final deste corte (Koohmaraie et al., 1994).
Desta forma, a busca por animais que forneçam carne de qualidade e em maior quantidade, e a inclusão de características de carcaça em programas de melhoramento genético tornou-se muito importante. Não existe processo tecnológico pré e pós abate que anule totalmente a importância do efeito genético sobre as características quantitativas e qualitativas da carcaça e carne dos animais. Por este motivo um ponto crítico de controle da qualidade da carne produzida é a informação do mérito genético individual dos animais escolhidos para progenitores.
A utilização de novas ferramentas biotecnológicas, no processo do melhoramento genético, permite que o potencial genético de um animal seja determinado com maior precisão e mesmo antes da expressão de seu fenótipo, isto é, o potencial genético de um embrião pode ser determinado sem a necessidade de avaliar sua produção ou a de sua progênie (Regitano & Coutinho, 2001).
Alguns exemplos destas ferramentas são os marcadores moleculares que identificam genótipos desejáveis como sexagem em frangos, maior concentração de proteína no leite, BLAD (bovine leukocyte adhesion deficiency), miostatina, Gene TG5 associado com o marmoreio (tiroglobulina 5´), entre outros.
As biotécnicas de reprodução assistida possibilitam a multiplicação de material genético superior em um intervalo de gerações mais curto, favorecendo não somente a utilização de reprodutores testados como também de fêmeas. Neste contexto, um resultado altamente positivo para o Brasil é sua condição de segundo lugar em número de transferências de embriões e o primeiro em número de embriões e gestações produzidas por fertilização in vitro (FIV) (Meirelles, 2004).
Entretanto, um dos gargalos da produção in vitro de embriões (PIV) é a ineficiência do processo de congelação dos embriões produzidos que não originam taxas satisfatórias de concepção após congelação e descongelação. A melhoria nestas etapas, por sua vez, permite utilização de cio natural, além da venda de embriões para mercados distantes (e.g. exportação). Apesar desta dificuldade, existem vantagens na utilização de biotécnicas, como a PIV, seja na pesquisa básica ou até mesmo em aplicações no campo.
A produção in vitro de embriões bovinos de animais de alto valor genético e zootécnico pode ser realizada em animais postmortem, com a coleta das gônadas, ou através da técnica de punção folicular (ovum pick up; OPU) efetuada em doadoras vivas. A OPU associada aos programas de produção in vitro permite a redução do intervalo entre gerações de fêmeas (Kurtz Filho et al., 2003). Outra associação vantajosa com a PIV é a utilização de sêmen sexado, que traria vantagens econômicas ao produtor.
A transferência comercial de embriões bovinos tem sido bem estabelecida em grande parte do mundo, com aproximadamente mais de 500.000 embriões transferidos por ano. Mesmo resultando em um número reduzido de descendentes, considerando o número total de bezerros nascidos por monta natural ou inseminação artificial, o impacto é grande devido à qualidade dos animais produzidos (Mapletoft & Hasler, 2005).
Este fato acarreta em uma melhor utilização dos animais de qualidade superior. Assim, a utilização do melhoramento genético aliado às biotécnicas hoje disponíveis, permitirá um aumento do rendimento e, principalmente, da qualidade da carne produzida.
Referências bibliográficas
IBGE Indicadores: estatística da produção pecuária. Março de 2006.
KOOHMARAIE, M., WHEELER, T.L., SHACKELFORD, S.D.. Beef tenderness: regulation and prediction. US Meat Animal Research Center, 11p. 1994.
KURTZ FILHO, MA.; RUBIN, M.I.B.; SILVA, C.A.M.; RAUBER, L.P.; ALVES, D.F.; SÁ FILHO, M.F.; SILVA, J.H. In vitro production of bovine embryo in tubes without gaseous atmosphere control. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci. vol.40, no.3, p.209-216, 2003.
MAPLETOFT, J.R. e HASLER, J.F. Assisted reproductive technologies in cattle:
a review. Rev. Sci. Tech. Off. int. Epiz. 24 (1), 393-403, 2005.
MEIRELLES, F.V. Biotecnologia Genômica na Pecuária. In: Mir, L. (Ed.) Genômica. São Paulo: Atheneu, 2004. p.997-1009.
REGITANO, L.C.A. e COUTINHO, L.L. Uso de marcadores moleculares na indústria animal. In: REGITANO, L.C.A. e COUTINHO, L.L (Ed.). Biologia Molecular aplicada à produção animal. São Carlos: Embrapa, 2001.
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1Andrea A. F. Brasil Vieira José, Engª Agrª e D.Sc. pela ESALQ-USP, Pós-doutoranda – FZEA-USP
2Adriana K. Tarouco, M.V. e D.Sc. pela UFRGS, Pós-doutoranda FZEA-USP
3Camila F. Guedes, Engª Agrª pela ESALQ-USP e M.Sc. pela FZEA-USP, Técnica da AVAL Serviços Tecnológicos.