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27 de abril de 2006
Síntese agropecuária BM&F – 30/04/2006
30 de abril de 2006

Boi de pasto pode ter carne macia?

Por Dr. Rafael Cervieri1

Boi de pasto pode ter carne macia ou só o cruzamento industrial atende essa qualidade? Além disto, por que produzir carne de qualidade se os frigoríficos estão mais interessados em peso?

É perfeitamente possível produzir um novilho com boa qualidade de carne a pasto. Combinando estratégias de suplementação (como sal proteinado, semiconfinamento, por exemplo) aliadas ao manejo adequado da pastagem, é possível abater este Nelore com até 2 anos de idade e com acabamento razoável.

Entretanto, o zebuíno apresenta a carne mais dura que animais taurinos. Esta é uma característica ligada aos seus genes, sendo mais difícil de contornar (está relacionada a uma enzima chamada calpastatina que dificulta o amaciamento da carne após o abate). A idade ao abate e o acabamento mínimo de gordura são fundamentais para qualquer grupo genético e exercem grande influência na qualidade final da carne.


Os frigoríficos remuneram peso (com raras exceções), mas precisam de acabamento para proteger a carne dos efeitos do resfriamento na câmara fria. Precisam também de cortes com pesos adequados para seus clientes.

Se permanecermos nesta queda de braço da qualidade X preço não evoluiremos. Por exemplo, as indústrias exportadoras têm demandado carcaças de melhor qualidade, o que pode acelerar esta questão da remuneração por qualidade. É uma tendência certa, pode demorar e não ser a que desejamos, mas haverá pagamento diferenciado!

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1Rafael Cervieri é zootecnista, professor de nutrição de ruminantes e bovinocultura de corte do curso de Zootecnia da Universidade São Marcos, São Paulo, SP. Estas são algumas dúvidas respondidas pelo Dr. Cervieri no treinamento online Produção de Gado de Corte – conceitos técnicos e econômicos que está em andamento.

0 Comments

  1. José Luiz Gonçalves de Andrade disse:

    Considerando-se que a qualidade da carne vem da carcaça e não da “certificação”, qual seria o motivo para sermos nós, os pecuaristas, levados a fazer rastreabilidade de nossos animais se isto não determina qualidade e não nos remunera?

    Recentemente li neste mesmo site, de um produtor do Mato Grosso que, ao ter uma de suas vacas abatidas classificada por um problema sanitário, ouviu do frigorífico que não poderia identificá-la no lote pois, uma vez tirada a orelha não seria possível identificar o animal!!!

    O pagamento por animal rastreado é ínfimo, não remunera o trabalho, faz apenas o jogo do frigorífico que tem tido alta margem de ganho na exportação e, o pior, emperra o sistema de comercialização, o processo de seleção animal pois não estimula as práticas corretas que fariam com que a melhoria na carcaça e seleção andasse a passos largos pela melhor remuneração dos animais de qualidade.

    Para ganharmos de verdade, não teríamos que deixar de fazer o jogo dos frigoríficos e vendermos apenas um animal bom, sem rastro, para que os frigoríficos corressem atrás de estimular pecuarista a lhes fornecer um animal adequado à exportação a preço compatível com seu custo de produção?

    O preço do animal rastreado não paga trazê-lo no curral para colocar o brinco. O que o pecuarista tem ganho com isso? Por que o faz? Fez, nos tornamos o maior exportador do mundo e daí? Fizemos o rebanho ter um baita crescimento e agora não conseguimos pagar as contas!

    Por que se aborda tanto a qualidade, a produtividade, e não se fala das mazelas, dos custos elevados, do excesso de oferta, onde todos estão continuamente à busca de aumentar a produção, aumentar a oferta, deprimindo os próprios preços?

    A comida barata tem permitido fazer com que sobre algum dinheiro no bolso do consumidor sem renda para que ele gaste com outras coisas para seu consumo.

    Estamos bancando outros setores da economia. Se o dinheiro só desse para alimentação, faltaria para a compra de supérfluos. Não é nossa culpa, e são as políticas governamentais que são inadequadas.

    José Luiz G. de Andrade
    Gurupi-TO

  2. Luiz Ribeiro Villela disse:

    Com nossa mania de grandeza, fixamos o raciocínio em carnes nobres.

    Se não me engano, a maioria dos americanos comem churrasco de hamburger,bife de filé não é para qualquer um. Os europeus comem mais carne de porco do que bovina, porque seu custo interno de produção lhes sai mais barato. O Japão não tem espaço para produzir carne bovina.

    Os estrangeiros que chegam ao Brasil ficam maravilhados com nossa fartura de carne bovina e não ficam reclamando de nossa qualidade.

    O que dizer então de dezenas de outros países menos ricos que americanos e europeus, porém com condições financeiras de adquirir nossa boa carne bovina, muito mais barata e saborosa do que qualquer outra proteína animal normalmente disponível em suas mesas.

    Assim, concordo totalmente com a carta /comentário de José Luiz Gonçalves de Andrade. Repetindo suas palavras: “deprimindo os próprios preços?”

  3. Oscar Rodrigues Alves Filho disse:

    Temos, já há alguns anos, produzido boi de pasto, com um sistema rotacionado, sal à vontade no cocho, pastos adubados, bois ratreados e castrados, sadios e com razoável ganho de peso.

    Nosso controle de peso é individual, hoje, maio, estamos com 3,6 cabeças de bois por hectare em UA (450 kg). Mas o que acontece no momento é a dificuldade de vender…com todos esses quesitos em perfeita ordem, ninguém se interessa pela qualidade, precocidade, bons tratos, ocasionando em nós um desânimo pela atividade. Será esse o Brasil de nossos filhos?

  4. Ramiro Fogiatto disse:

    Concordo plenamente com o sr. Luiz Ribeiro Vilela.

  5. Belmiro Zamperlini disse:

    Concordo com o Oscar Alves Filho, já temos tecnologia para produzir animais precoces e bem acabados, mas infelizmente, não conseguimos dominar os planos econômicos e essa política cambial do governo. Só com muita união dos produtores conseguiremos romper esses obstáculos.