A recente alta do boi gordo e conseqüente valorização dos cortes bovinos está fazendo ressurgir um quadro que não era visto no mercado de carnes há um bom tempo. Com o aumento dos preços da carne bovina nos últimos 30 dias, devido à menor oferta, mais consumidores estão migrando para o frango e sustentando as cotações da ave. Segundo apurou a Jox Assessoria Agropecuária, entre 23 de julho e 23 de agosto passado, o quilo do frango resfriado no médio atacado de São Paulo subiu 19,4%. Em igual período, os cortes bovinos também tiveram ganhos expressivos no atacado: 16,7% no caso do dianteiro e 14,5% para o traseiro.
“A carne bovina mais cara cria mais demanda pelo frango”, observa também o consultor José Carlos Teixeira da Silva. Essa demanda vem sustentando, em parte, o aumento das cotações da ave.
Ele lembra que a influência do mercado de carne bovina sobre o de frango diminuiu quando o setor avícola teve ganhos de produtividade que possibilitaram o aumento da oferta de aves. Com a maior disponibilidade, os preços do frango caíram e chegaram até limitar avanços nas cotações da carne bovina, segundo Silva.
“Tradicionalmente, o frango se valorizava na entressafra do boi. Mas isso não ocorria há muitos anos”, diz José Carlos Godoy, da Associação Brasileira dos Produtores de Pinto de Corte (Apinco).
No último mês, porém, apesar de a oferta de carne de frango continuar em níveis elevados, as cotações tiveram fôlego para subir. Isso ocorre porque, mesmo em alta, o frango ainda é muito mais barato que os cortes bovinos, destaca o consultor da FNP Consultoria, José Vicente Ferraz. Segundo ele, a tendência, no médio prazo, é o consumo de carne de frango ultrapassar o de carne bovina, hoje em 37 quilos per capita.
O diretor da empresa Flamboiã, Salvador Ortega, afirma que, além da demanda, o aumento dos custos de produção também pressiona a alta do frango. “Ou o setor eleva os preços ou quebra”, diz. Conforme ele, na mesma época de 2001, o milho, principal componente da ração das aves, custava R$ 10 por saca na granja. Hoje sai por R$ 17,00.
A freada na produção de frango em São Paulo também explicaria a valorização, para o analista da Jox, Oto Xavier. Para o diretor do Instituto de Economia Agrícola, Nelson Martin, o atual cenário do mercado de carnes pode ser passageiro. A situação deve se alterar com a entrada de animais de confinamento no mercado.
Ferraz observa que o aumento dos custos de produção também afetou os confinadores, que em conseqüência, reduziram o número de animais confinados este ano. A volatilidade do câmbio também contribuiu para a menor oferta de animais, dizem analistas, já que leva o pecuarista a segurar os animais no pasto.
Fonte: Valor On Line (por Alda do Amaral Rocha), adaptado por Equipe BeefPoint