A volta de Argentina e Uruguai ao mercado internacional de carne, que se ausentaram em 2001 em razão dos casos de febre aftosa, pode ter um impacto negativo para o Brasil maior que o esperado. Além do aumento da concorrência para os exportadores, o custo médio de produção do boi gordo nos países vizinhos é 15% inferior ao do Brasil.
Dados da Sociedade Rural Argentina (SRA) mostram que o custo de produção de um quilo de carne no país sempre foi inferior a US$ 1. Em maio, oscilou em US$ 1,29, enquanto em janeiro era de US$ 0,75. No Uruguai atinge US$ 1,25.
Gastos com pastagens
Segundo o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Pecuária de Corte), Fernando Paim, o custo de produção do quilo no Mato Grosso do Sul é de US$ 1,33. Como não existe um levantamento do custo geral de produção de carne bovina no Brasil, a Embrapa fez levantamento médio do sistema mais utilizado naquele estado, principal produtor do País. “Vale lembrar que o sistema mais utilizado não é o mais evoluído e o Brasil possui vários sistemas”, diz.
Segundo o representante agrícola da embaixada da Argentina, em Brasília, Miguel Campos, o custo argentino é determinado basicamente pelos gastos com pastagens, que não são muito caros. “As chuvas favoráveis, o clima apropriado e a qualidade do solo proporcionam pastagens para o consumo animal ao longo de todo o ano”, diz.
Sementes nacionais
Mesmo quando o peso tinha paridade com o dólar o custo de produção na Argentina era inferior ao brasileiro. “Os insumos consumidos são todos nacionais. O único produto importado são as sementes para pastagens. Além disso, a suplementação animal é feita a base de silo, que possui um custo muito baixo para o produtor”, afirma Campos.
Para o diretor da FNP Consultoria, José Vicente Ferraz, antes de fazer a comparação entre os custos de produção de Brasil e Argentina é necessário verificar se estão sendo consideradas as mesmas metodologias.
De acordo com o consultor, será possível verificar com mais precisão a diferença de custos depois de um ano com câmbio flutuante na Argentina. “Em curto prazo é possível que os custos sejam inferiores aos brasileiros, mas a pressão inflacionária vai provocar ajustes nos preços”, afirma.
Ferraz acredita que em situações financeiras normais o custo do Brasil é inferior ao uruguaio e ao da província de Buenos Aires. “O preço médio da arroba no mercado argentino é de US$ 9,80, enquanto no Brasil é de US$ 15. É preciso ver até que ponto é viável negociar a US$ 9,80”, afirma.
Concorrência maior
Em relação ao Uruguai, como o custo brasileiro também é superior de acordo com os dados do Instituto Nacional de Carne do Uruguai (Inac), as exportações brasileiras também sofrem maior concorrência. Já no caso da Austrália, maior exportador de carne do mundo, o custo é de US$ 3 por quilo, enquanto os dados do USDA mostram que nos Estados Unidos, em equivalente carcaça, ele é de US$ 1,17.
O pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, Sérgio de Zen, acredita que se o custo argentino e uruguaio estão mais em conta é apenas por conta da situação econômica deles. “A pecuária brasileira teve um salto tecnológico maior do que os outros países”, diz. Para ele, deve se levar em conta a qualidade dos produtos. “O gado argentino é criado a pasto como o brasileiro, porém a origem do rebanho é européia, enquanto no Brasil o gado é zebuíno”.
A explicação para a afirmação é que a gordura dos animais europeus está entre as fibras, fato que torna a carne mais macia e de maior aceitação. Já nas raças zebuínas a gordura fica localizada na parte externa da carne, característica que a deixa menos macia, porém, segundo representantes, “mais saudável”.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Alexandre Inacio), adaptado por Equipe BeefPoint