Anúncio do novo status sanitário do país vizinho será feito depois de sete anos de trabalho, no Enipec
Representantes do governo boliviano vão anunciar durante o Encontro Internacional dos Negócios da Pecuária (Enipec) a nova situação sanitária do rebanho bovino, que, após sete anos de trabalho intensivo, vai adotar em 2003, o título de zona livre de febre aftosa com vacinação. Na quinta-feira (14/03), a comitiva boliviana formada por representantes de entidades públicas e privadas e produtores de gado vai apresentar o resultado de uma análise sorológica realizada no ano passado no rebanho do país.
Para o Mato Grosso, além de segurança na fronteira, a elevação da Bolívia à categoria de área controlada por meio da vacinação vai beneficiar o controle de fronteira. “O vírus não conhece fronteira. Com essa nova realidade, uma extensão de mais de mil quilômetros de comprimento e cerca de 300 quilômetros de largura vai deixar de ser região tampão para ser tornar livre com vacinação. No futuro, a região certamente terá erradicado a doença”, explica o secretário executivo do Fundo Emergencial da Febre Aftosa do Estado de Mato Grosso (Fefa), Antônio Carlos Carvalho de Souza.
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Zeca D´Ávila, além de se controlar a entrada de gado boliviano no Brasil, a medida vai assegurar ainda mais a qualidade do rebanho do país vizinho. “O gado boliviano é bom porque é concebido por meio de matrizes e reprodutores brasileiros. Agora, com esse controle sanitário, o ganho será refletido em todo circuito pecuário brasileiro. A partir de agora o calendário de vacinação está padronizado e o rebanho dos dois países será imunizado no mesmo período”, completa o presidente.
No dia 24, representantes da Famato participam na cidade de Santa Cruz, na Bolívia, do pronunciamento oficial do controle sanitário do rebanho local, que será feito pelo presidente Jorge Quiroga Ramírez. O país estará enquadrado na nova categoria somente em maio do ano que vem, quando sairá a decisão oficial da Organização Internacional de Epizootias (OIE), que congrega 152 países.
Mesmo de posse dos resultados da análise sorológica que garante a posição anunciada, a OIE vai reavaliar em janeiro de 2003 a situação do gado e emitirá aos seus países membros o parecer que será votado em maio do ano que vem, quando será oficialmente decretado o status de região livre de febre aftosa com vacinação na Bolívia.
Estado e empresários de MT ajudaram nas ações
O poder público e a iniciativa privada brasileira atuaram juntos para implementar ações de combate à febre aftosa na Bolívia. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul foram os parceiros mais interessados, já que possuem a maior faixa de fronteira com a Bolívia, cerca de 710 quilômetros. A ação tinha como meta sanear a ameaça constante que rondava o rebanho dos dois estados, e que ameaçava os outros rebanhos brasileiros. Em 1992, o Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa permitiu abertura a parcerias com a iniciativa privada, quando houve uma remodelação do programa.
Em Mato Grosso, uma ação conjunta, iniciada em 1994, de produtores, entidades governamentais e empresas privadas, por meio do Fefa, chamou para si a responsabilidade sobre a questão, que impedia principalmente a exportação da carne mato-grossense. O resultado do trabalho começou a surtir efeito em 1996, quando o Estado obteve junto à OIE o reconhecimento de área livre com vacinação, habilitando algumas regiões de Mato Grosso a exportar carne para o Mercado Comum Europeu (MCE). Em 2000, o Estado obteve o título de região onde a doença está erradicada. O último registro de aftosa foi em 1996.
Com os olhos voltados para sanidade animal no país vizinho, o Fefa iniciou, no final de 1995, um trabalho de combate à doença, voltado para a área de fronteira, com a realização de treinamentos de técnicos, seminários, reuniões e conscientização junto aos produtores bolivianos. O próximo passo foi a doação de mais de 900 mil doses de vacina e instalação, coordenação e construção de postos de controles.
Atualmente o poder público boliviano criou órgãos com funções semelhantes às da Famato, com o propósito de fortalecer o programa de erradicação da aftosa na Bolívia. “Hoje, o que acontece na Bolívia equivale ao acontecido no Brasil. Passamos de região tampão para região livre da aftosa com vacinação e hoje erradicamos a doença em Mato Grosso. São estágios de controle à doença que levam em um período de médio prazo ao combate efetivo da febre aftosa”, acredita o presidente da Famato, Zeca D´Ávila.
Fonte: Diário de Cuiabá (por Marianna Peres), adaptado por Equipe BeefPoint