O Brasil tende a endurecer esta semana sua posição sobre a entrada da Rússia na Organização Mundial de Comércio (OMC), reagindo à resistência de Moscou em melhorar as condições de acesso de exportações de carnes brasileiras a seu mercado.
Numa lenta mudança de estratégia, a delegação brasileira deverá vincular o problema das carnes ao acesso russo na OMC, na negociação bilateral marcada para esta sexta-feira em Genebra. Ou seja, os dois precisam ser resolvidos, ou então Moscou pode enfrentar mais dificuldades para entrar na OMC.
Até agora, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) acreditava que o problema podia ser resolvido bilateralmente, o que levou o ministro Luiz Fernando Furlan a Moscou fazer negociações inconclusivas com as autoridades russas no mês passado.
A Rússia, em todo caso, não muda de posição. Ontem, o vice-ministro Maxim Medvedkov, disse que a proposta na mesa é a mesma: cota específica para as exportações brasileiras de carnes dentro do volume destinado a “outros fornecedores”. “Queremos dar as melhores condições para a carne brasileira dessa maneira. Esperamos resolver esse problema ainda esta semana”, disse Medvedkov.
Pelo sistema de cotas definido pelo país para este ano, os Estados Unidos poderão exportar 771,9 mil toneladas de carne de frango à Rússia , de um volume total de 1,050 milhão de toneladas. “Outros fornecedores” teriam de disputar um volume de 68 mil toneladas. A Rússia quer dar ao Brasil uma cota específica dentro deste volume. O mesmo ocorreria com as carnes suína e bovina.
A proposta não agrada aos exportadores brasileiros que temem ficar com um volume menor do que o que poderiam vender se permanecessem dentro de “outros fornecedores”. “Concordamos com a fixação de uma cota dentro de “outros”, desde que não seja menos do que o Brasil poderia conquistar sozinho”, afirmou o presidente da Abipeces (reúne exportadores de carne suína), Pedro Benur Bohrer.
Uma nova rodada de negociações para a entrada da Rússia na OMC começou ontem, com discussões bilaterais com Japão, União Européia e Canadá. Medvedkov admite que os problemas são “duros” nas questões agrícolas, aduaneiras e de cotas para importação de carnes.
O vice-ministro disse alimentar a esperança de a Russia poder entrar este ano na OMC. Mas o endurecimento do Brasil é apenas um a mais, entre 60 países que reclamam de concessões tímidas feitas por Moscou, em troca do acesso que terá a 140 países já membros do clube.
Fonte: Valor OnLine (por Assis Moreira e Alda do Amaral Rocha), adaptado por Equipe BeefPoint