A GDM, empresa de origem argentina que tem sede institucional em Londrina (PR) e atua em melhoramento genético de soja, obteve neste ano a aprovação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para a primeira soja tolerante à seca do país obtida por meio de edição gênica.
Há outra tecnologia que confere essa característica ao grão, a HB4 – desenvolvida pela também argentina BioCeres -, mas ela é transgênica. Outros estudos que buscam soja tolerante a ambiente seco também estão em curso no Brasil.
Segundo representantes da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), a brasileira Tropical Melhoramento Genético (TMG) e a Embrapa conduzem pesquisas. Esse tipo variedade é a “bola da vez” no universo das sementes, sobretudo depois das secas que castigaram pelo menos as últimas três safras no Sul do país.
A diferença entre os dois processos é que a edição gênica “acelera” mutações que já ocorreriam na planta na natureza. No organismo geneticamente modificado (OGM, ou transgênico), por sua vez, a alteração depende de engenharia genética, por meio da qual ocorre a inserção de gene de um outro organismo doador a uma determinada planta.
Segundo André Beló, gerente de novas tecnologias da GDM, a “soja editada” tolerante à seca da companhia foi aprovada pela CTNBio em maio e recebeu o sinal verde do governo argentino em novembro. O plano da empresa, que lidera o segmento de melhoramento genético em soja no Brasil, é comercializar a variedade no mercado brasileiro na temporada 2027/28.
Por ter sido desenvolvida a partir de material de clima temperado, a soja deverá ser lançada antes nos Estados Unidos e na Argentina. A previsão para lançamento nesses mercados é o ciclo 2025/26. A chegada ao Brasil vai levar um pouco mais de tempo porque exigirá ajuste ao clima tropical.
Beló diz que a nova soja é mais tolerante a ambiente seco, mas difere das plantas que são resistentes a esse clima, como o cacto. A soja editada da companhia, por ser tolerante, será mais produtiva do que a convencional, mas não vai render o mesmo que uma planta que estivesse na condição ideal de regime hídrico, explica.
“Ainda não temos as métricas [de produtividade]”, continua. A partir de 2023, a GDM vai realizar ensaios de campo em localidades diferentes dos EUA para mensurar o rendimento. “Vamos plantar a soja editada ao lado da convencional e observar as diferenças”, diz.
Nos estudos, que começaram em 2018, os pesquisadores da GDM isolaram um gene da planta que é responsável por detectar o estresse hídrico. Quando esse gene funciona em potencial máximo, ele acaba influenciando a resposta de crescimento da planta em ambientes secos. “Anulamos esse gene para que ele deixe de influenciar os outros, fazendo com que a planta cresça normalmente”, relata.
As empresas que estudam soja tolerante à seca olham paralelamente para o desenvolvimento de tecnologia, para a produtividade e para a precificação, afirma Idone Grolli, presidente do conselho da Abrasem. Se esse tipo de soja chegasse ao mercado hoje, diz, os produtores gaúchos seriam os mais interessados.
A precificação precisará ser bastante estudada, explica, porque comprar esse tipo de semente será como contratar um seguro sem a certeza de que haverá seca – e as plantas produzem menos que as convencionais.
Fonte: Valor Econômico.