Brasil e Argentina registram, nos primeiros sete meses do ano, o mesmo percentual de crescimento de vendas externas, cerca de 35% em volume, na comparação com igual período de 2004. Ambos são favorecidos pelos problemas sanitários e climáticos detectados na produção dos Estados Unidos e da Austrália, os maiores concorrentes da carne do Mercosul.
No entanto, quando o assunto é o mercado interno, a atividade pecuária dos dois países vive situações opostas, marcadas por um período de grande incerteza, motivado pelas fortes oscilações nos preços da carne, para baixo, no caso do Brasil, e para cima, no país vizinho, com significativo impacto nos índices de inflação.
No Brasil, o preço do boi gordo atingiu o fundo do poço, para desespero dos pecuaristas e alívio do consumidor. As carnes, ao lado de outros alimentos, são os principais responsáveis pelo comportamento da inflação.
Na Argentina, ocorre o contrário: a cotação do boi disparou, favorecendo os produtores, mas com resultados desastrosos para a inflação: a carne naquele país é responsável pelo descontrole inflacionário. Por isso, presidente da Argentina, Néstor Kirchner chegou a decretar, na semana passada, o congelamento por 90 dias dos preços do produto.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), os preços das carnes em Buenos Aires aumentaram 11,3% entre janeiro e agosto. No mesmo período, a inflação foi de 7,7% (IPC-GBA). Já no Brasil, o preço caiu 6,1% e a inflação foi de 3,6% (IPCA).
Segundos analistas, as crises de preços vivenciadas no Brasil e na Argentina podem prejudicar a pecuária no curto, médio e longo prazos. No caso argentino, a maneira encontrada pelo governo para segurar o preço da carne e, por tabela, a inflação, foi criticada pelos produtores. O presidente da Sociedade Rural Argentina, Luciano Miguens, criticou Néstor Kirchner, chamando a medida de “eleitoreira”.
Para Miguens, o congelamento de preços por três meses pode afetar a qualidade da carne argentina. O bife do país é exportado para o mundo todo, a preços entre 15% e 25% acima dos obtidos pelos frigoríficos brasileiros, pois as cotações dos melhores animais estão, agora, no mesmo patamar daqueles de qualidade inferior.
No Brasil, a medida argentina também repercutiu mal. O professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA), da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Pichetti, também não aprova o mecanismo de controle artificial de preços. “A experiência brasileira (Plano Cruzado, em 1986) demonstrou a ineficácia do sistema”, disse o especialista em inflação, lembrando que o congelamento adotado no governo José Sarney resultou no desabastecimento do mercado e na desobediência ao plano.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Denis Cardoso), adaptado por Equipe BeefPoint
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Este é o famoso “EFEITO ORLLOFF”, para quem não se lembra, nós somos amanhã, a Argentina de hoje. Vamos assistir ao filme do Plano Cruzado de novo.
Fico cada vez mais impressionado pela incompetência de nossas lideranças e de nossos governantes. Meus pêsames para a CNA e Ministério da Agricultura e em última análise para nós pecuaristas.