Depois de se transformar, em poucos anos, no principal exportador de carne bovina do mundo, o Brasil prepara-se agora para agregar valor ao seu produto. “Não queremos apenas exportar volume, mas aumentar a receita e o preço da nossa carne no mercado internacional”, afirmou o presidente da Abiec, Marcus Vinícius Pratini de Moraes.
Como parte importante desta estratégia, a carne bovina brasileira marcou presença, ontem, na festa oferecida pelo presidente Jacques Chirac nos jardins do Palácio do Eliseu, sede do governo francês, nas comemorações do aniversário da Queda da Bastilha. A tenda organizada pela Abiec foi a que mais fez sucesso entre as demais, nas quais os cerca de seis mil convidados podiam experimentar comidas de vários países.
Sob um calor escaldante, os franceses devoraram uma tonelada de carne brasileira, que rendeu cerca de três mil porções de picanha aos convidados, regadas com cerca de três mil doses de caipirinhas. Três churrasqueiros foram levados especialmente do Brasil para o evento. Ao todo, a Abiec pretende investir neste ano cerca de R$ 6 milhões na realização de churrascos de degustação da carne brasileira em vários países do mundo.
Depois do sucesso francês, a próxima parada é Kuala Lumpur, na Malásia, em uma feira de alimentos a ser realizada entre 28 e 31 de julho. A feira, voltada para consumidores muçulmanos que demandam cortes especiais, colocará o Brasil em contato com 150 potenciais importadores. Pratini acredita que o Brasil precisa aumentar o investimento em marketing.
Depois de Kuala Lumpur, o Brasil participa, em setembro, da World Food Moscou. A Rússia já é o principal importador de carne bovina brasileira in natura. No acumulado de janeiro a junho de 2005, a Rússia importou do Brasil 163.719 toneladas de carne in natura equivalente-carcaça, aumento de 95,57% em relação a igual período de 2004. A receita gerada foi de US$ 199,8 milhões, um crescimento de 136,34%. O segundo lugar é ocupado pelo Egito, com importações de 110.550 toneladas no primeiro semestre e uma receita de US$ 119,9 milhões.
Na festa de ontem, enquanto centenas de franceses enfrentavam uma enorme fila para comer o churrasco de carne brasileira, Pratini fazia duras críticas ao protecionismo comercial francês e de outros países ricos que limitam a entrada de produtos agrícolas brasileiros. “Estou cada vez mais convencido que a Organização Mundial do Comércio é um cartel para defender os interesses neocolonialistas dos Estados Unidos, União Européia, Japão e companhia”, disse. “Este churrasco que estamos promovendo às margens do rio Sena mostra o enorme potencial que existe para a carne brasileira na França”, avaliou.
Segundo ele, uma tonelada de carne custa entre US$ 3 mil e US$ 4 mil no Brasil. “Mas como aqui na Europa as nossas exportações de carne são limitadas por cotas, uma tonelada chega a custar o dobro, US$ 8 mil”, disse. Pratini acredita que, se as barreiras impostas à carne brasileira fossem aliviadas, as atuais exportações para a União Européia de cerca de 400 mil toneladas anuais, aumentariam em cerca de 60%.
Segundo o presidente da Abiec, o governo brasileiro deve se concentrar nas negociações para fechar um acordo comercial com a União Européia. “Esperamos que as negociações, que vivem um prolongado impasse, possam ser retomadas para podermos ter uma chance concreta de abrir esse mercado no médio prazo”.
Além da abertura do mercado da UE, o Brasil também aguarda a abertura do mercado chinês. O diretor-executivo da Abiec, Antonio Jorge Camardelli, acredita que a liberação das vendas para a China já está praticamente definida. “É aguardada para breve uma última missão técnica chinesa para terminar os trabalhos de inspeção sanitária”.
Fonte: O Estado de S.Paulo (por João Caminoto e Eduardo Magossi), adaptado por Equipe BeefPoint