A Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) firmou uma parceria com a Sociedade Brasileira de Transferência de Embriões (SBTE) para lançar, até o fim de 2025, o Índex Embrião, o primeiro levantamento nacional sobre a produção e a comercialização de embriões bovinos no país. A proposta é consolidar dados técnicos de um setor que cresce de forma acelerada, mas que ainda opera com baixa integração estatística.
“O Brasil tem uma produção expressiva de embriões, mas ninguém sabe quanto. Estima-se que haja entre 60 e 70 pequenos laboratórios atuando com essa biotecnologia, além de estruturas maiores. É um mercado com volume, mas sem base de dados estruturada”, afirma Luiz Adriano Teixeira, presidente da Asbia.
A meta é que os primeiros dados sejam apresentados em 2026. “O Índex Embrião vai permitir entender o tamanho real da atividade e trazer consistência para o planejamento do setor”, diz ele.
A nova ferramenta segue o modelo do Índex Asbia, que há mais de uma década acompanha o mercado de inseminação artificial no país. Os dados mais recentes mostram que, em 2024, foram comercializadas 17,5 milhões de doses de sêmen para corte, com alta de 4% em relação a 2023. No leite, foram 5,94 milhões de doses, com crescimento de 9%. A expectativa para o primeiro semestre de 2025 é de aumento de 3% a 5% no corte e de 5% a 7% no leite.
“A genética deixou de ser custo e passou a ser investimento. E isso muda o jeito de planejar a atividade. Hoje, a compra de sêmen ocorre ao longo de todo o ano, não apenas na estação de monta. O pecuarista está entendendo o papel da genética na eficiência, na qualidade e no desempenho reprodutivo”, afirma, Teixeira.
O novo comportamento é estimulado também pela expansão do uso da inseminação em tempo fixo (IATF) e de ferramentas como o sêmen sexado, especialmente nas propriedades leiteiras. “A curva de adoção do sêmen sexado no Brasil é crescente. Nos Estados Unidos e na França, mais de 90% das inseminações leiteiras já usam essa tecnologia. Aqui, ainda não chegamos a esse patamar, mas o avanço é constante e relevante”, diz.
A proposta é que o Índex Asbia o Índex Embrião passem a ter um papel mais direto nas decisões técnicas e comerciais dos diferentes elos da cadeia. “Estamos estruturando a base técnica da pecuária nacional. E isso começa na genética. Se a genética for boa, todo o resto pode ser construído com mais solidez”, diz ele.
O Brasil é dono do maior rebanho comercial do mundo, com 234,4 milhões de animais, segundo o IBGE. Há estimativas de abate acelerado de fêmeas nos últimos anos, por conta da mudança de ciclo da pecuária, mas o posto permanece.
Sêmen de alta qualidade assegura que as características desejadas, como ganho de peso, precocidade sexual, produção de leite, resistência a doenças, conversão alimentar e qualidade da carcaça, sejam efetivamente transmitidas aos descendentes. Isso acelera o progresso genético dos rebanhos.
“Se a genética for boa, todo o resto pode ser construído com mais solidez”, diz Teixeira. Sêmen com parâmetros técnicos adequados (motilidade, morfologia e concentração espermática) aumenta as chances de fecundação e reduz perdas reprodutivas. Isso se traduz em maior eficiência da inseminação artificial, especialmente em programas de IATF.
O Brasil consolidou sua posição como potência mundial em genética bovina, com tecnologia nacional já sendo utilizada por pecuaristas de 21 países. O país exporta cerca de 850 mil doses de sêmen por ano, principalmente para países da América Latina. Ao mesmo tempo, importa genética leiteira, sobretudo das raças holandesa e jersey, com origem majoritária nos Estados Unidos. “Essa dependência de genética importada exige atenção. Alterações tarifárias ou sanitárias podem impactar o acesso à tecnologia”, afirma Teixeira.
A genética se tornou uma das principais estratégias para ampliar a produtividade com eficiência de recursos. “Ela reduz o tempo de abate, melhora a conversão alimentar e permite uma gestão mais precisa dos nascimentos. Isso impacta diretamente o uso de insumos, o custo de produção e a pegada ambiental da atividade”, diz. “É a partir da genética que se constrói sustentabilidade com consistência.”
Não por acaso, a Asbia tem ampliado sua base de associados. Além das centrais de inseminação, a entidade passou a integrar empresas de nutrição, sanidade, frigoríficos, programas genéticos e iniciativas de rastreabilidade. “A Asbia deixou de ser uma associação só de centrais. Ela representa hoje a cadeia da reprodução bovina como um todo. Esse movimento é estratégico, porque a reprodução está conectada com toda a lógica de produtividade e certificação”, afirma.
Para fortalecer essa estrutura, a entidade desenvolve um novo portal digital com previsão de lançamento em 2026. A plataforma vai reunir os dados dos índices, artigos técnicos, conteúdos dos associados, relatórios de mercado e informações destinadas à imprensa. “A gente vai consolidar tudo em um único ambiente. A ideia é oferecer ao setor uma fonte técnica segura, atualizada e acessível. Os dados precisam ser utilizados por produtores, pesquisadores, empresas e formadores de política pública”, explica Teixeira.
Fonte: Forbes.