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Brasil tenta retomar as vendas de carne à China

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, desembarca nesta quarta-feira na China, principal parceiro comercial do agronegócio brasileiro, com a expectativa de conseguir a autorização para o Brasil retomar as vendas de carne bovina para o país asiático e novas habilitações de frigoríficos para enviar suas carnes para Pequim.

O ministro aposta também em um avanço nas tratativas para a aceitação de certificações eletrônicas nos processos de exportação de produtos agropecuários para os chineses, o que pode encurtar prazos e facilitar a expansão dos negócios. O pacote inclui ainda a continuidade de conversas para a abertura do mercado chinês para gergelim, sorgo e uva e a retomada das negociações em torno de um acordo fitossanitário para a exportação de arroz do Brasil para lá.

Tudo leva a crer que as autoridades chinesas vão anunciar ainda nesta semana o levantamento do embargo para as exportações de carne bovina do Brasil, disse uma fonte. A suspensão completará um mês nesta quinta-feira. Ela foi adotada para atender ao protocolo sanitário firmado entre os dois países que obriga a interrupção dos embarques por conta do caso atípico do mal da vaca louca e não prevê prazo para encerrar a barreira.

A presença da comitiva de Fávaro no país reforça a expectativa do lado brasileiro pela retomada das vendas. A possibilidade de reabertura do mercado “nos próximos dias” já foi sinalizada por Pequim à Brasília. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) informou que “discute possíveis atualizações ou revisões nos protocolos do ministério para acelerar a retomada das exportações”.

Novas habilitações

Sem novas habilitações desde 2019, cresce a expectativa de que a China autorize frigoríficos brasileiros a iniciar a exportação de carnes bovina, suína e de frango para lá. As autoridades chinesas pediram ao Ministério da Agricultura a lista completa de plantas que cumprem os requisitos para habilitação.

Ao todo, são 83 estabelecimentos aptos a receber o aval, disse uma fonte. Integrantes da comitiva acreditam, inclusive, em uma habilitação em massa das plantas. Atualmente, cerca de 100 empresas brasileiras exportam carnes para a China. Em 2022, foram exportadas 2,2 milhões de toneladas, em negócios de US$ 10,4 bilhões, segundo o Agrostat do Ministério da Agricultura.

A equipe de Fávaro deve adiantar as negociações com as autoridades técnicas da China para que possam ser aceitas certificações eletrônicas dos estabelecimentos exportadores e dos produtos agropecuários enviados do Brasil para lá. O acordo nessa área deverá ser assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na outra semana.

Desburocratização

Se concretizada, a digitalização pode significar a desburocratização dos processos e um passo diplomático relevante, ressaltou Larissa Wachholz, sócia da Vallya Participações e ex-coordenadora do Núcleo China do Ministério da Agricultura na gestão da ex-ministra Tereza Cristina. “É um sinal de visão de longo prazo na parceria, de aposta, de potencial de incremento na quantidade de produto a ser demandado do Brasil pela China. É um voto de confiança grande no nosso produto”, disse ao Valor. “Nenhum governo gasta tempo com negociações que exigem tamanha interação entre as equipes se não for dentro de uma estratégia de longo prazo. É super favorável para a gente, não só no efeito imediato mas na visão de futuro”, completou.

Diversificação

Pauta recorrente da agenda brasileira com a China, a diversificação do mercado exportador é outro item que será abordado nas conversas bilaterais. Recentemente, o Brasil conseguiu aberturas importantes, como a do milho. Os chineses também deram aval para a entrada de farelo de soja, proteína concentrada de soja, polpa cítrica e soro fetal bovino. Continuam no radar os acordos para gergelim, sorgo e uva.

No caso da uva, está prevista uma visita de auditoria dos chineses em áreas de produção no Vale do São Francisco, na Bahia, para os próximos meses. A assinatura do protocolo de abertura de mercado só deve ocorrer após esse processo. A expectativa do setor é que o aval para as exportações seja oficializado na próxima reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Cooperação e Concertação (Cosban), em julho.

Já a indústria brasileira do arroz espera restabelecer o diálogo com os chineses para buscar a abertura do mercado. Em 2016, o Ministério da Agricultura encaminhou um relatório técnico visando o estabelecimento de um acordo fitossanitário para exportação do produto. Nos últimos anos, a China solicitou mais informações sobre o processo de beneficiamento do cereal, mas as tratativas não avançaram.

A agenda de Fávaro inclui reuniões com os ministros da Agricultura e da Administração-Geral de Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês) na quinta e na sexta-feira. Na próxima semana, o ministro acompanha a comitiva presidencial em outros encontros em Pequim.

Fávaro foi acompanhado dos secretários de Comércio e Relações Internacionais, Roberto Perosa, e de Defesa Agropecuária, Carlos Goulart, além do assessor especial Carlos Augustin e outros integrantes da Pasta. A comitiva também vai participar de reuniões com empresários brasileiros e chineses das áreas de soja, carnes, algodão e frutas.

Fonte: Valor Econômico.

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