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Cade aprova fusão BRF-Marfrig e cria gigante do setor de carnes

A fusão entre as gigantes BRF e Marfrig foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) nesta sexta-feira, 05. A decisão consolida a criação da MBRF Global Foods Company — a maior companhia de proteínas animais do mundo. A empresa passa a reunir marcas como Sadia, Perdigão e Qualy, com presença em mais de 100 países e faturamento estimado em R$ 152 bilhões anuais.

Durante o processo, a Minerva Foods participou como terceiro interessado, apresentando questionamentos sobre possíveis impactos concorrenciais. Entre os principais argumentos, a companhia alertou para o risco de concentração excessiva de mercado. 

Outro ponto abordado foi a situação do fundo soberano saudita Salic, que tinha participação relevante tanto na Minerva quanto na BRF. Durante o processo, entretanto, o fundo converteu sua posição na BRF em derivativos, deixando de ter direitos políticos. Com isso, o Cade ressaltou que a eventual retomada de participação de Salic — ou de outros fundos como o SIC — dependerá de nova análise regulatória, caso venha a ocorrer.

Apesar dos conselheiros do Cade reconheceram que a participação da Minerva trouxe pontos relevantes ao debate, por maioria, o órgão decidiu não conhecer o recurso da empresa, entendendo que suas contribuições não alterariam o mérito do caso. 

O caminho da fusão

O caminho que levou à fusão entre Marfrig, maior produtora de hambúrguer do mundo, e BRF, maior produtora e exportadora de carne de frango do Brasil, começou em 2019. Na época, surgiram os primeiros estudos de união entre as duas empresas, embora a negociação inicial não tenha prosperado. 

Em 2021, no entanto, a Marfrig adquiriu 24,99% das ações da BRF, tornando-se o maior acionista da companhia. Um ano depois, em 2022, assumiu o controle efetivo da BRF. 

Como a nova gigante MBRF vai mudar a indústria de carnes?

A fusão entre BRF e Marfrig, aprovada nesta sexta-feira, 5, que deu origem à MBRF Global Foods, não apenas cria a maior companhia multissetorial de proteínas animais do mundo, mas também mexe com a dinâmica da pecuária brasileira. O movimento levanta debates sobre os efeitos futuros dessa nova configuração para o equilíbrio da cadeia. 

O diretor da HN Agro, Hyberville Neto, não vê, neste primeiro momento, implicações aos criadores. “A nossa leitura é de que para o produtor não vai mudar nada. Marfrig tem atuação no mercado de bovinos e BRF no mercado de aves e suínos, pensando no início da cadeia. Então, não estamos falando em alterações que nós acreditamos que sejam relevantes”, disse. 

A visão da HN Agro se alinha com a do economista e analista de Safras & Mercado, Fernando Iglesias. Para ele, a concentração não significa necessariamente prejuízo para o produtor, já que o foco da fusão ficará na MBRF, especialmente no processamento de alimentos, como produtos congelados, pratos prontos e hambúrgueres. “Que também faz parte do DNA e do core business da companhia nos últimos anos”, lembra o especialista; 

Em relação ao mercado de bovinos, Iglesias reconhece que há preocupações em algumas regiões, mas lembra que quanto maior a demanda internacional por carne brasileira, maior a necessidade das indústrias em abater animais e exportar volumes crescentes. “Como que o pecuarista vai ganhar dinheiro nessa situação? Investindo em genética, investindo na precocidade dos animais que estão indo para o abate e em performance, fazendo boas estratégias de comercialização”, afirma Iglesias. Para ele, quem conseguir se alinhar a esse padrão de eficiência terá condições de ser rentável mesmo diante dos desafios impostos pela concentração da indústria.

Oligopsônio

Já o CEO da Scot Consultoria, Alcides Torres, lembra que  o setor já opera em regime de oligopsônio — estrutura de mercado com poucos compradores e uma um grande número de vendedores. Isso, na visão dele, gera um impacto contraditório: por um lado, fortalece a competitividade global das empresas brasileiras e, por outro, reduz o poder de negociação do produtor.

Por isso, para Torres, o ponto mais sensível da mudança está na tendência de os próprios frigoríficos ampliarem sua atuação no confinamento de bovinos, pressionando os pecuaristas. “Você começa a assistir uma coisa preocupante, que é o confinamento de bovinos pelos próprios frigoríficos. Isso já acontece. Mas, nós poderíamos ter uma legislação de defesa da diversidade econômica que impedisse esse exercício, o poder econômico verticalizando tudo”, argumenta.

Além disso, Neto destaca que, na distribuição, há uma certa sobreposição entre BRF e Marfrig, embora cada uma atue em segmentos distintos. “A Marfrig trabalha mais no B2B, com clientes corporativos, enquanto a BRF tem forte presença no varejo, com suas marcas reconhecidas pelo consumidor final. Então, mesmo que haja sobreposição de produtos, eles não necessariamente competem nos mesmos elos da cadeia”, explica.

Apesar disso, ele ressalta que a fusão gera um ganho de força significativo para a nova empresa no escoamento de produtos, ampliando sua capacidade de atuação tanto no mercado interno quanto no externo.

Fonte: Estadão artigo 1 e artigo 2.

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