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Cadeia da carne bovina não pode deixar dúvidas quanto à sua credibilidade

O saldo da balança comercial brasileira continua aumentando. O agronegócio tem sido e continua sendo o grande responsável por esse aumento. A agricultura brasileira como um dos principais celeiros do mundo está passando de promessa a realidade.

No caso dos grãos, em especial da soja, o potencial da agricultura brasileira já vinha sendo reconhecido há algum tempo, tanto pela extensão das áreas disponíveis em termos de solos e de clima como pela tecnologia de ponta existente rapidamente incorporada em sistemas eficientes de produção pelos produtores.

No caso da pecuária de corte, até recentemente nosso potencial parecia estar em estado latente. Apesar de muitos saberem dele, em geral não era levado muito a sério. Um dos principais problemas era o da pecuária de corte, tanto em termos de terras como de animais, ser usada mais como atividade especulativa numa economia com alto índice de inflação.

A terra, com baixa rentabilidade e baixa liquidez, mas de risco muito baixo, servia como reserva de capital. Os animais serviam como investimento de alta liquidez e risco também muito baixo, pois com a inflação galopante praticamente não existia negócio ruim. Essa condição oferecia pouco ou nenhum incentivo para os produtores investirem em desenvolvimento tecnológico da atividade. Nos últimos 10 anos, essa característica da pecuária de corte tem mudado drasticamente. Só estão ficando ou têm condições de entrar na atividade aqueles que sabem usar as tecnologias disponíveis em sistemas eficientes de produção em termos técnicos e econômicos.

Embora o mercado interno deva ser prioritário e mereça toda a atenção da cadeia da carne bovina, a expectativa de exportações crescentes têm sido um estímulo adicional à evolução tecnológica da pecuária de corte brasileira. Como no caso de grãos, o potencial brasileiro de produção de carne bovina é muito grande devido à existência de terras, clima, raças e de tecnologia adequadas.

Ao lado desse cenário altamente positivo para a pecuária brasileira, existe um aspecto que deve ou pelo deveria estar preocupando todos os interessados no sucesso da cadeia de carne bovina brasileira. Trata-se da tão em moda e necessária segurança alimentar, envolvendo aí procedimentos sanitários e sistemas seguros de certificação e rastreamento. Uma Comissão do Mercado Comum Europeu esteve visitando o Brasil recentemente para atualizar sua avaliação das condições da nossa cadeia de carne bovina em atender às exigências desse mercado. Embora o relatório oficial da visita ainda demore algum tempo, comentários emitidos evidenciam que em alguns casos existem preocupações por parte de membros da mencionada Comissão.

Um ponto positivo é que tanto o Ministério da Agricultura como as Secretarias e outros órgãos estaduais deram atenção especial à Comissão, procurando prestar de maneira transparente todas as informações para permitir que os membros da mesma possam entender as características peculiares da cadeia de carne bovina e conseqüentemente fazer uma avaliação correta. Esse fato pode ser constatado pela declaração, de membros da referida Comissão, que entendiam nossas dificuldades em atender rapidamente todas as novas exigências para exportação de carne bovina para o Mercado Comum Europeu.

Apesar do MAPA estar sendo hoje gerenciado como uma grande empresa, tendo em postos chaves pessoas bem sucedidas como empresários e executivos do agronegócio, sem o apoio decidido do setor privado da cadeia da carne, todo o esforço para aumentar a credibilidade da mesma será em vão. Temos a sensação que estamos em um momento único para quebrar de vez a sensação de falta de credibilidade e de desconfiança que a cadeia da carne bovina brasileira parece transmitir.

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