Por Augusto Landim1
O FUNDEPEC, em parceria com o site BeefPoint, propõe uma discussão sobre um manejo sanitário para o gado de corte no Circuito Centro-Oeste (MG, MS, MG, MT, GO, SP, PR, TO).
A idéia é anotar todas as sugestões, e posteriormente encaminhar para as Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento.
Programa Sanitário para Gado de Corte
Os produtores devem possuir um Programa Sanitário previamente estudado e definido para a propriedade.
Os critérios são baseados na prevenção e na realização de exames de monitoramento e controle.
A prevenção se dá através da aplicação de técnicas corretas de manejo sanitário e imunizações das doenças que podem afetar o rebanho.
Os exames podem ter características preventivas ou de controle através da eliminação de animais com sintomas ou com exames positivos.
Cuidados com neonatos
Pasto maternidade com facilidade para observação do parto.
Ingestão de colostro nas primeiras horas de vida do bezerro para assegurar imunidade nos primeiros 90 dias de vida do animal.
Desinfecção do umbigo para prevenir infecções e lesões que podem levar o animal à morte.
Observar a aceitação do bezerro pela fêmea, utilizando este parâmetro para a seleção de matrizes.
Manejo sanitário das matrizes
Pasto maternidade com boa fonte de nutrientes e de fácil observação.
Prevenção, detecção e controle das doenças que afetam a reprodução, como brucelose, leptospirose, IBR e vibriose.
Castração
Desinfecção do curral e maior higiene possível.
Castrar apenas os animais sadios, evitando a operação em animais fracos e doentes.
Em caso de castração cirúrgica fazer uso de material inoxidável e aplicar ectoparasiticida de 5 a 7 dias antes para prevenir miíases.
Não colocar os animais castrados cirurgicamente em piquetes com eqüinos.
Fazer curativos com cicatrizantes e repelentes.
Cuidados com a água de bebida
Certificar-se quanto à qualidade e quantidade de água fornecida aos animais.
Realizar exames periódicos para avaliar a presença de ovos de tênia e exames microbiológicos.
Preservar os mananciais e nunca despejar carcaças de animais mortos, restos de embalagens ou qualquer material poluente próximo das aguadas ou dos enxurros.
Quarentena ou biosegurança
Os bovinos originários de fora da propriedade não devem ser incorporados ao rebanho de imediato, ficando em observação por no mínimo 60 dias para realização de exames, aplicação de vacinas e vermífugos.
O pasto utilizado deve ser bem cercado e o mais isolado possível.
Cemitério Pecuário
Todos os animais que morrerem na propriedade, incluindo animais silvestres, devem ser despejados em um cemitério onde deverão ser queimados ou enterrados com cal virgem.
O cemitério deve ser bem cercado e localizado estrategicamente na propriedade, devendo ter acesso rápido e fácil e estar longe das aguadas e enxurros.
Nunca deixar restos ou ossadas de animais mortos nas pastagens.
IMUNIZAÇÕES
Febre Aftosa
Vacinar conforme legislação específica para cada unidade da federação.
São Paulo: maio e novembro todo o rebanho.
Nunca aplicar no traseiro no lombo ou no cupim. O local correto é na tábua do pescoço, utilizando agulha 15X18.
A vacina deve ser conservada entre 2 e 8 graus Celcius, não podendo ser congelada ou exposta ao sol.
A dose é sempre de 5 ml independente do peso ou idade do animal.
Brucelose
Vacinar todas as fêmeas entre 3 e 8 meses de idade com dose única de vacina viva liofilizada, elaborada com amostra 19 de Brucella abortus (B19).
Nunca Vacinar machos.
Raiva
Vacinar todo o rebanho anualmente ou conforme recomendações oficiais.
Clostridioses
Vacinar todos os bovinos aos 4 meses e dar reforço após 30 dias.
Posteriormente, vacinar anualmente utilizando vacina polivalente de boa procedência.
Botulismo
Em regiões ou propriedades endêmicas vacinar todo o rebanho anualmente.
IBR
Vacinar o rebanho mediante comprovação de exames sorológicos juntamente com histórico de sintomas da doença e anaminese realizados por médicos veterinários.
Diarréia neonatal
Em regiões endêmicas vacinar as vacas prenhas até duas semanas antes do parto, contra paratifo.
Exames preventivos
Brucelose
O exame deve ser realizado através de teste sorológico de diagnóstico, realizado em fêmeas com mais de 24 meses, vacinadas ou não, além dos machos inteiros com mais de 8 meses.
O exame deve ser realizado nas matrizes adquiridas e periodicamente nas matrizes da propriedade, devendo descartar para o abate aquelas que apresentarem resultado positivo.
Tuberculose
Para diagnóstico indireto da Tuberculose devem ser utilizados testes alérgicos de tuberculinização intradérmica com idade superior a 45 dias.
Os exames poderão ser feitos em todos os animais citados para controle e erradicação ou por amostragem para monitoramento.
Deve ser dada especial atenção aos animais vindos de fora da propriedade.
Animais com exame positivo devem ser comunicados ao serviço oficial de Saúde Animal.
Vermifugação estratégica
Maio, Junho e Setembro todo o rebanho, e os bezerros também em dezembro.
Cuidados com ectoparasitos
Os ectoparasitos são a principal causa de comprometimento da qualidade do couro.
Mosca do chifre: recomenda-se pulverização quando o número de moscas for superior a 200 moscas por animal.
Na pulverização não pode ser usada sub-dosagem do produto e de preferência, deve ser realizada com os vizinhos.
Berne: tratamento apenas em caso de infestação.
Carrapato: a infestação depende também da região e tipo de animal explorado, seu controle é muito importante para a prevenção da Anaplasmose e da Babesiose.
Cisticercose: A contaminação através da água é a mais comum e pode ser comprovada através de exames específicos.
A restrição do trânsito de pessoas dentro da propriedade, fornecimento de antiparasitários aos funcionários e seus familiares, bem como o fornecimento de água com qualidade monitorada, são algumas das providências para se evitar a cisticercose bovina.
Bicheiras: Os bichos devem ser removidos após lavagem com sabão, aplicação de medicamento para matar os bichos e a remoção destes, em casos graves deve haver aplicação de antibióticos.
Obs: Não deve ser usado óleo queimado no tratamento dos animais devido a grande quantidade de resíduos tóxicos, óleos vegetais são mais indicados ex: óleo de soja, mamona, nujol etc.
Registros das realizações de exames, e aplicação de vacinas e medicamentos
Devem constar a data e o tipo de exame, o nome, o princípio ativo e a data da aplicação.
Deve-se respeitar os prazos de carência indicados nas bulas para abate dos animais.
Treinamento do Pessoal
Procurar sempre que possível levar informações sobre o controle sanitário, e discutir com os funcionários a respeito do programa em execução, tirando dúvidas e dando noções básicas de biologia, fazendo com que a equipe da propriedade se comprometa com os resultados, refletindo na qualidade da produção.
___________________________________
1Augusto Landim, Fundepec
6 Comments
Os comentários a respeitos dos prejuízos causados pelos ectoparasitas, deveriam abranger os problemas causados pelos mesmos aos animais e principalmente aos danos provocados no bolso dos produtores, pois a preocupação com a qualidade do couro, só caberá no dia em que os frigoríficos começarem a valorizar e pagar melhor por um couro de qualidade.
Eu jurava que o Estado do MT com o terceiro maior rebanho do Brasil(quase segundo) fazia parte fundamental do Circuito Centro Oeste…!
Resposta:
Prezada Cybele,
Obrigado pela participação. De fato, como está assinalado no próprio artigo ao qual você se refere, o Circuito Centro-Oeste compreende os estados de MG, MS, MG, MT, GO, SP, PR, TO. Mato Grosso, dessa forma, faz parte do circuito.
BeefPoint
Achei bastante interessante esta iniciativa de apresentar um calendário sanitário para uma grande região.
Finalmente parece que a sanidade do rebanho tem ganhado notoriedade entre os profissionais do meio.
Digo profissionais, pois esta questão vem sendo tratada até hoje de maneira totalmente amadora e sem a consultoria de pessoas especializadas.
Como médico veterinário com mestrado em medicina veterinaria preventiva, posso dizer que apesar dos avanços significativos da ciência no desenvolvimento de vacinas e endectocidas de última geração, nosso rebanho permanece altamente infestado e infectado por parasitas e doenças infectocontagiosas.
Os países desenvolvidos estão anos luz na nossa frente no que diz respeito ao controle e erradicação de doenças.
Gostaria até de fazer uma sugestão quanto ao fato desta instituição recomendar o uso das vacinas de IBR e leptospirose em rebanhos onde houver diagnóstico positivo destas doenças.
Percebe-se que nao conhecem a prevalência destas doenças no Brasil, que são altíssimas, diga-se de passagem.
Ao se recomendar um calendário sanitário deve-se ter pelo menos uma noção de epidemiologia e controle de doenças.
As vacinas são fabricadas para doenças que têm grande importância para a pecuária, pois se assim não fosse os laboratórios não as fabricariam. Além disto elas também são feitas para prevenir ou seja, mesmo fazendas que ainda não tem incidência destas doencas- eu desafio qualquer fazenda do Brasil que não vacina e que não seja positiva – também devem vacinar para que realmente nunca tenham problemas.
O uso de produtos de ponta e a adoção de calendários completos de vacinação aumenta muito pouco o custo de produção, mas fazem uma diferença muito grande na produtividade e na taxa de desfrute, conseqüentemente na lucratividade do setor. Isto é o que temos observado nas fazendas que adotam este tipo de postura. E nao se enganem, quando o Brasil finalmente se ver livre da aftosa – que já foi erradicada nos países desenvolvidos há mais de 50 anos – e comecar a incomodar o mercado internacional da carne, fatalmente virão novas barreiras sanitárias e neste campo realmente ainda estamos muito aquém do que poderíamos estar.
Acho muito interessante, porem ele não propõe nenhum avanço, no controle sanitário do rebanho brasileiro.
Considero excelentes as observações aqui contidas.
A solução consiste em instruir, não em proibir!
Porém fica a indagação: Porque temos que revacinar em Maio, animais vacinados em Fevereiro? Se a vacina tem poder de imunização por 1 ano e as crias com menos de dois meses não desenvolvem imunidade, por já serem imunes naturalmente!?
As opinioes divergem e isto é da democracia. Eu parebenizo pelas consideracoes do artigo. Considero uma grande contribuicao para os profissionais da area. Certamente ninguem tem a pretensao de resolver todos os problemas do Brasil. Qualquer contribuicao e sempre bem vinda. Prabens. Vilmar Fruscalso, Engenheiro Agronomo da EMATER-RS