A Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Carne Bovina deve encaminhar nos próximos dias ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, um estudo para criação de uma linha de financiamento de retenção de matrizes bovinas, a fim de evitar o elevado índice de abate desses animais. A decisão foi anunciada ontem, durante a primeira reunião ordinária do ano do órgão consultivo vinculado ao Conselho do Agronegócio (Consagro), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
O aumento do abate de matrizes no Brasil está preocupando a cadeia produtiva da carne bovina. “Nos últimos oito a dez meses, segundo dados do Centro de Pesquisas e Estudos Agrários e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse abate tem sido em torno de 37% a 40% a mais do que se vem abatendo na média normal de desfrute e de reposição do setor pecuária”, revela o presidente da Câmara, Antenor Nogueira. “Isso significa que já teríamos cerca de dois milhões e meio de bezerros a menos para engorda no País em 2005”.
De acordo com ele, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) também está elaborando uma proposta para retenção de matrizes. “O produtor precisa de condições para que possa ter acesso a um determinado volume de crédito para suprir suas necessidades de dinheiro. Com isso, não vai matar suas matrizes para fazer caixa”. Nogueira ponderou, porém, que ainda não foi apurado qual o valor do limite de financiamento por pecuarista para implementar o programa.
Aftosa
Durante a reunião da câmara, também foi apresentado um sistema desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para detectar se o animal foi ou não vacinado contra a febre aftosa. “É um trabalho excepcional. O Brasil precisa patentear logo esse sistema e deixar de importar tecnologia semelhante”, defendeu Nogueira.
De acordo com o pesquisador da Embrapa, Carlos Bloch, “as metodologias atuais têm como base a detecção indireta, a partir de anticorpo contra o anticorpo do vírus. A nossa proposta é a detecção das proteínas do vírus ativo dentro da célula do hospedeiro”, explicou, acrescentando que o novo método vai trazer mais precisão na detecção e nos tipos de variantes da aftosa que possam ocorrer, além de exercer maior controle de qualidade das vacinas, que poderão se tornar mais eficientes.
Para o técnico da Embrapa Gado de Corte, Kepler Euclides Filho, esse tipo de controle tem grande importância para a implementação das políticas de certificação e rastreamento do gado, propostas pelo ministério. “Nesse aspecto, manter o controle (da doença) com vacinação e ter um instrumento que permite assegurar se o animal foi vacinado e não é doente, abriria as portas do mercado, com certeza”, avaliou.
Outra inovação proposta pelo pesquisador é a utilização de um método direto de identificação de resíduos de proteínas de origem animal na ração servida ao gado bovino.
Segundo o pesquisador, o método, conhecido como “espectometria de massa” é capaz de identificar moléculas de algumas proteínas-chave, como a hemoglobina, presente no sangue, além daquelas encontradas na farinha de osso do animal.
A presença de proteína animal na ração é uma prática proibida por lei. Com o novo controle, seria possível garantir o cumprimento da lei, além de assegurar mais qualidade na carne que chega à mesa do consumidor.
Outro tema tratado na reunião foi o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bobina e Bubalina (Sisbov). A coordenadora nacional do Sisbov, Denise Euclydes Mariano, apresentou aos integrantes da Câmara da Carne Bovina as novas regras operacionais do sistema, que permitem padronizar o selo de identificação, ajudar no combate às doenças e rastrear os animais a partir dos 40 dias de idade.
Também foi discutida a forma de inclusão dos pecuaristas de pequeno porte ao Sisbov. Os pecuaristas de menor porte argumentam que para este segmento os custos da inclusão são elevados em função da baixa escala de produção. Para solucionar essa deficiência, eles sugerem uma forma diferenciada de inclusão entre grandes e pequenos criadores ao sistema de rastreabilidade.
Fonte: Assessoria de Imprensa do Mapa, Clic RBS/Agrol e Gazeta Mercantil (por Luciana Otoni), adaptado por Equipe BeefPoint