Fechamento 11:40 – 10/10/01
10 de outubro de 2001
Antecipada a vacinação contra febre aftosa na Ilha do Bananal
15 de outubro de 2001

Cana-de-açúcar em sistemas de produção de carne e leite a pasto – parte inicial

1. INTRODUÇÃO

Exaustivamente temos repetido que a “Estacionalidade de produção das plantas forrageiras” é uma expressão utilizada quando queremos nos referir à redução de produção das pastagens em períodos em que há redução da disponibilidade de luz (dias são mais curtos), a temperatura média é menor e a pluviosidade é drasticamente reduzida, ou seja, chove muito pouco. Esses três fatores juntos impedem que a pastagem cresça de uma forma uniforme durante o ano todo. Os efeitos desse fato sobre a pecuária de leite e corte são evidentes. Para tentar solucionar ou pelo menos minimizar o problema e estratificar uniformemente a produção de carne ou leite durante o ano, o pecuarista pode adotar inúmeras estratégias, cada uma mais apropriada às condições do sistema de produção que estiver sendo utilizado na propriedade. São exemplos dessa estratégia: a vedação de pastagens; a cana-de-açúcar; a ensilagem; a fenação; culturas de Inverno; pré-secados e outras alternativas (palhadas, bagaço de cana, restos de cultura, etc.).
Independente da técnica adotada, ou de várias delas utilizadas simultaneamente, o mais importante é que o pecuarista esteja consciente da ocorrência da estacionalidade de produção das plantas forrageiras e as suas conseqüências danosas sobre a pecuária leiteira e corte e tome as devidas providências para que no inverno haja disponibilidade de forragens suficientes para solucionar ou minimizar adequadamente o problema em questão.

É importante que a fazenda se torne uma empresa agrícola e planeje adequadamente suas atividades agrícolas, havendo portanto coleta de dados, emissão de relatórios e tomada de decisões baseados nos dados gerados pelo próprio sistema de produção, melhorando-se continuamente os seus índices de lucratividade. Ou seja, a tomada de decisões seja feita baseada em dados coletados no próprio sistema de produção e do mercado, havendo portanto aumento de receita

Questões de preservação ambiental, visão ampla de negócio e de mercado, associativismo ou cooperativismo, coleta e manuseio de dados, cálculos de produtividade por área, e não por animal e ênfase em custos e não em preços são fatores que diferenciam sistemas de produção eficientes ou não

2. O USO DA CANA-DE-AÇÚCAR COMO RECURSO FORRAGEIRO

O Estado de São Paulo é responsável por 60% da cana-de-açúcar, 62% do álcool e 56% do açúcar produzido no Brasil. A produção total de açúcar foi de 12,5 milhões de t , enquanto a de álcool foi de 13,7 bilhões de litros na safra 1996/97.

A cana-de-açúcar também tem seu uso na alimentação animal e representa um importante elo entre as cadeias produtivas da cana-de-açúcar e da pecuária , tanto dentro da cadeia da produção de proteínas animais (bovinos de corte e leite, ovinos, caprinos e bubalinos), como a de agricultura familiar. O uso da cana-de-açúcar na alimentação animal, principalmente de ruminantes, tem tido importância cada vez maior no Brasil.

Com o objetivo de reduzir o custo da alimentação, sem perdas expressivas de desempenho animal, sistemas de produção, tanto de leite quanto de corte, vêm adotando a cana-de-açúcar em substituição às silagens de milho e sorgo, que são as fontes de alimentos volumosos mais divulgadas.

Além da cana-de-açúcar, a agroindústria canavieira pode fornecer vários ingredientes para o confinamento de bovinos ou para manutenção de peso de animais em períodos de escassez de pastagens e sistemas de produção de leite. O produtos que podem ser utilizados como ingredientes de ração animal, tais como ponta de cana, bagaço hidrolisado e peletizado, melaço, vinhaça, torta de filtro e levedura seca.

O uso da cana-de-açúcar como recurso forrageiro para alimentação de ruminantes durante o período de escassez de alimentos é quase tão antigo quanto à introdução desta planta no Brasil. As razões principais para esse fato foram e ainda são: alta produção por unidade de área e conseqüente menor custo de produção quando comparada a outras culturas, apesar dos recentes aumentos dos valores de mercado; coincidência da disponibilidade (colheita) dessa cultura com a época de escassez de forragem nas pastagens, de maio a outubro na maioria das regiões e facilidade de manejo.

As principais limitações nutricionais são: baixo teor de proteína (aminoácidos sulfurados são os mais limitantes); baixo teor de lipídeos (gordura); alto teor de carboidratos de rápida fermentação no rúmen e ausência de amido (degradação ruminal mais lenta e precursor de glicose); baixo teor de minerais (principalmente o fósforo); fibra de baixa digestibilidade; baixo consumo de matéria seca (fatores anteriores associados).

Com relação ao valor nutritivo, vale a pena relembrar que a cana pode ser considerada um volumoso energético, por apresentar uma alta concentração de sacarose e um teor de proteína muito baixo. Ao contrário de outras gramíneas, que diminuem o valor nutritivo à medida que se aproximam da maturidade, ela mantém o valor nutritivo mais ou menos constante durante todo o ciclo, principalmente na fase de utilização durante o período seco do ano. Devido à esse aspecto, os trabalhos têm mostrado que quanto maior a concentração da sacarose (0Brix) maior o valor nutritivo da cana-de-açúcar, ou seja, devemos sempre colher a cana-de-açúcar madura (aproximadamente 1 ano e meio de ciclo de crescimento no primeiro corte e 12 meses nos demais).

A digestibilidade da matéria seca e o teor de nutrientes digestíveis totais (NDT) está em torno de 60%. A cana-de-açúcar apresenta teor muito baixo de proteína (1,5 a 4%, base seca) e de minerais. Portanto um cuidado especial precisa ser tomado no fornecimento deste volumoso, principalmente em relação à categoria animal e função produtiva.

A CANA-AÇÚCAR É UM INGREDIENTE DA RAÇÃO, E NÃO UM ALIMENTO COMPLETO PRONTO PARA USO. LEMBRAR TAMBÉM QUE A CANA PODE SER UTILIZADA PARA DIVERSAS CATEGORIAS, INDEPENDENTE DA UTILIZAÇÃO DE OUTROS VOLUMOS NA PROPRIEDADE

No entanto, além de algumas limitações nutricionais que precisam ser corrigidas no balanceamento das rações, o uso intensivo da cana-de-açúcar apresenta uma restrição muito grande no que diz respeito à mecanização do corte. As máquinas nacionais utilizadas para essa atividade ainda são precárias, apresentam baixos rendimentos, necessidade freqüente de manutenção e, principalmente, o tamanho de corte das partículas não é adequado. Além disso, alguns aspectos de manejo agrícola restringem a expansão da cana-de-açúcar como planta forrageira.

A dificuldade de se prever com boa aproximação a produção esperada implica produções acima das necessidades, o que se torna um grande problema, até mesmo em regiões produtoras de açúcar e álcool. A cana “bis” apresenta problemas de acamamento que impedem o corte mecanizado, causando grande transtorno para o sistema de produção, o qual se utiliza de pouca mão-de-obra. No entanto, o problema de acamamento não é só no caso da cana bisada, e sim um problema de alta produção que está associado com manejo de adubação e também com efeito varietal. Vale lembrar que essa escolha da cana-de-açúcar a ser usada para alimentação animal deve ser realizada sempre dentro das variedades já reconhecidamente indicadas para a indústria e disponíveis na região onde se pretende usá-la.

LEMBRAMOS QUE A PROIBIÇÃO DO USO DE CAMA-DE-FRANGO PARA ALIMENTAÇÃO ANIMAL (BOVINOS DE CORTE) NOS DEIXOU SEM UMA IMPORTANTE ALTERNATIVA PARA USO DA CANA-DE-AÇÚCAR COMO RECURSO FORRAGEIRO, PORÉM A URÉIA PODE SER UTILIZADA ADEQUADAMENTE EM SUA SUBSTIUIÇÃO

Comentário BeefPoint : Há uma preocupação da pesquisa, através da ação conjunta do Instituto de Zootecnia e do Instituto Agronômico, ambos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em determinar nas variedades industriais, variedades com algumas características superiores para uso na alimentação animal, tais como: crescimento rápido para fechamento das entrelinhas, espessura e dureza do colmo, maturação média ou uso de variedades com maturações diferentes para colheita durante todo o período de inverno, despalha fácil, ereta e com pouco acamamento, alto teor de sacarose, alta produtividade, maior resistência a pragas e doenças, resistência ao florescimento, queda de qualidade lenta e alta qualidade da fibra. A melhora da qualidade das máquinas de colheita, associada a menores danos no sistema radicular das plantas durante a colheita também são preocupações constantes.

FONTE: DEMARCHI, J.J.A.A. Palestra proferida no 18º Simpósio de Manejo de Pastagens da ESALQ, em Piracicaba, SP, de 05 a 06 de setembro de 2001.

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