Carmen J. Contreras Castillo, leitora BeefPoint, comentou sobre a notícia A inviabilidade técnica dos pequenos matadouros. Leia na íntegra:
“Gostaríamos de parabenizar o Prof. Dr. Pedro Eduardo de Felício pela abordagem crítica no texto intitulado “A inviabilidade técnica dos pequenos abatedouros”.
Com o crescente aumento da população mundial, espera-se que o Brasil seja a solução para suprir a alta demanda por alimentos. Afinal, o país possui grande potencial de crescimento, uma vez que dispõe de recursos naturais, potencial de produção e tecnologia, além de competitividade frente a países que terão dificuldades de atender suas demandas por causa do esgotamento das suas áreas agricultáveis.
Entretanto, apesar da posição de destaque ocupada no cenário internacional (o Brasil foi em 2012 o maior exportador mundial de carne bovina com 1,244 milhão de ton) a pecuária brasileira ainda apresenta números pouco animadores no que diz respeito a qualidade de carne e eficiência produtiva.
Além dos problemas citados pelo Prof. Dr. Pedro Eduardo de Felício também deve ser destacada a ineficiência na coleta de dados (O Brasil não dispõe de uma base de dados confiáveis), fato que dificulta o planejamento e a adoção de medidas corretivas adequadas em sistemas agropecuários. Os números de animais abatidos divulgados são muito discrepantes e a participação das diferentes categorias animais como: fêmeas de descarte, machos inteiros, castrados e imunocastrados nos abatedouros brasileiros são desconhecidos.
Diante deste contexto, como atender a demanda mundial de carne oferecendo produtos cárneos de qualidade e seguros? Esta pergunta parece não ter resposta, a curto prazo, no Brasil, pois os números de abates não inspecionados pelo SIF (cerca de 47%) mostram a ineficiência da fiscalização e o descaso das autoridades em relação ao fato.
A fiscalização é onerosa e ninguém quer arcar com esse ônus, assim, a essa responsabilidade é transferida para orgãos menores (estaduais e municipais) que não tem a estrutura mínima necessária para fazê-la de modo correto. Com a ausência de fiscalização efetiva e a preservação de pequenos abatedouros que não apresentam garantias da sanidade da carne, o consumidor continuará correndo riscos e o país sofrerá novos embargos em exportações.
É inegável que a interdição ou fechamento de abatedouros, que não apresentem condições mínimas de segurança e higiene, implicará em problemas sociais, econômicos e culturais como: monopolização das grandes redes, prejuízo aos pequenos pecuaristas e a ruptura de tradições regionais. No entanto, quando o abate é destinado ao comércio, a segurança dos consumidores tem que ser prioridade.
Atenciosamente Carmen J. Contreras Castillo/Felipe Azevedo Ribeiro”
2 Comments
Vejo que, dos tres principais atores desta cena, cada um tem uma parcela de responsabilidade pelo setor da carne bovina ter evoluído mais lentamente que outros setores, como o da carne suina por exemplo. Os produtores rurais podiam ser mais unidos e progressistas, investir em tecnologia no campo é uma novidade em pleno 2013; as associações de classe pecuarista também poderiam ser mais atuantes no sentido de incentivar os pequenos a se desenvolver. As industrias caminharam para dois opostos extremos: a informalidade e o oligopólio das grandes exportadoras, isso pode ter sido forçado pelas situações de mercado, que foram foráveis para os grandes exportar (e melhorar as plantas por conta disso) e jogar o “resto” no mercado interno, puxando o patamar de preço para baixo, pela qualidade da materia prima oferecida, o que dificultava os pequenos abatedouros a valorizar um gado de melhor qualidade já que tinha que ser competitivo com esse patamar do “resto” deixado pelas grandes, e acabaram também economizando no pagamento das “taxas” da Inspeção Federal; houveram industrias médias, que ja estavam na fase de pagar premio por qualidade de carcaça e manter o Serviço de Inspeção Federal, mas não tiveram fôlego suficiente para superar a crise da aftosa… Agora só falta o terceiro elemento: o governo, este sim poderia ter feito uma diferença significativa, mas não fez, talvez por não ter sido solicitado pelos beneficiados, ou talvez por não ter dado espaço para isso, ou tavez por ter outras prioridades como a arrecadação de verba (para si mesmo e não pra a o setor), em suma a verdade é que a fiscalização pode sim ser muito desonerada, para que atinja também as pequenas indústrias, e mais que desonerada precisa ser mais abrangente, dividir o bolo na mão de mais fiscais, talvez uma postura mais consultiva, sustentável e promotora de boas ações em larga escala, seria pedir demais?
Olhar o passado não serve apenas para achar o culpado, podemos aprender com ele e construir um novo futuro…
A propósito a Professora Carmen Castillo é Dra em Tecnologia de Carne na ESALQ, montou um laboratório excelente com seus projetos e tenho o orgulho em dizer que foi minha orientadora de Iniciação Científica.
“Antes de qualquer comentário, quero parabenizar a todos que tem discorrido sobre este tema, e dizer que concordo com tudo que foi dito, mas que sobretudo precisamos olhar para o elo principal desta cadeia, o nosso pequeno produtor, o pequeno pecuarista”
Uma reflexão sobre quem são estes pequenos é sempre muito bem vinda, como o Prof. Dr. Pedro Eduardo de Felício citou de início, a maioria destes animais abatidos nos matadouros municipais ou clandestinos muitas vezes, é proveniente de um rebanho de vacas leiteiras, que acabou por virar descarte, claro que também temos sim pecuaristas voltados a bovinocultura de corte em pequena escala que acabam por fazer uso destes recursos. Quando falo sobre esta reflexão, é importante que saibamos que em sua grande maioria, são pessoas desprovidas de conhecimento acadêmico, que não conhecem as diversas ferramentas tecnológicas do mundo moderno, e principalmente que não possuem aspirações mais ambiciosas a não ser a condição para estudar seus filhos e mandá-los para a cidade grande, infelizmente, esta ainda é a mentalidade da maioria dos produtores rurais brasileiros. Como podemos pensar em uma cadeia beneficiadora de boa qualidade, sendo que nossos produtores não se preocupam ou muitas vezes não sabem a importância da sanidade do seu rebanho? É importante sim que tenhamos os matadouros municipais, eles são muito necessários para a manutenção da economia regional, uma vez, que em determinadas regiões, os grandes matadouros praticamente inexistem ou são economicamente inviáveis aos produtores, por outro lado, é inegável a necessidade de melhoria nesses ambientes, é necessário que se faça cumprir a lei e que o consumidor, consuma com qualidade e segurança.
Mas então, como fazer ? Se precisamos melhorar a qualidade dos matadouros, se precisamos fiscalizar mais e melhor e fazer-se cumprir a lei, mas se por outro lado os produtores ainda atuam com práticas antigas e incoerentes a necessidade atual? Não é uma resposta simples, não é uma atuação simples, mas acredito ser a melhor e mais eficaz. As cidades interioranas possuem seus Sind. de Prod. Rural, que quase sempre são ocupados por alguém influente também no Governo Municipal, além disso, quantos filhos de produtores vão estudar Med. Veterinária, Zootecnia, Agronomia e não retornam a suas casas por não haver mercado de trabalho valorizado? Todos conhecemos casos assim, portanto ai pode estar a solução, os órgãos municipais atuando de forma consultiva propiciando melhoria a qualidade e a produtividade na zona rural, sem a desculpa de ausência de mão de obra ou mão de obra cara. Uma vez o projeto piloto sendo encaminhado, rebanhos geneticamente melhores, com controle de sanidade, produtores mais técnicos, e até mesmo o animal de descarte não seria aquele doente, mas sim, o animal que já não é estrategicamente necessário, contudo, as alterações e a rigorosa fiscalização nos matadouros poderiam ser realizadas até com muito mais facilidade.