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Carne bovina atiça protecionismo europeu

Setores protecionistas da Europa estão alarmados diante de indicações de que a União Europeia pretende oferecer ao Mercosul uma cota de entrada de 85 mil toneladas anuais de carne bovina com tarifa de importação mais baixa.

Existe um frenesi entre diplomatas e organizações agrícolas de vários países com a intensificação das negociações internas sobre a oferta agrícola europeia a ser apresentada no começo de outubro a Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

Diante de rumores da concessão do volume para a carne bovina do Mercosul, no futuro acordo, o deputado francês Michel Dantin enviou questão formal ao presidente do Conselho Europeu para confirmar a informação.

“Enquanto a troca de ofertas tarifárias nesse estágio é em desfavor dos europeus, a Comissão Europeia estaria no ponto de propor uma concessão tarifária de 85 mil toneladas equivalente carcaça de carne bovina”, diz o documento.

Ele questiona sob qual base essa “suposta proposta de concessão” teria sido estabelecida. Argumenta que estudo sobre impacto econômico acumulado de acordos de livre comércio negociados por Bruxelas indica “risco certo de degradação do superavit comercial agrícola para os setores de criação de bovinos europeus em qualquer hipótese de liberalização”.

Nesta sexta-feira, vários países deverão questionar no Comitê de Política Comercial, do Conselho Europeu, a “ameaça existencial” para o setor de carne bovina europeu por causa de acordo com o Mercosul, segundo o site Político.

No ano passado, um grupo de 13 países, incluindo França, Polônia, Irlanda, Hungria e Lituânia, conseguiu bloquear uma oferta inicial de 78 mil toneladas, dividida em duas cotas, para Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Indagada pelo Valor, a poderosa central agrícola Copa-Cogeca disse não estar certa sobre qual seria o novo volume de cota para a entrada de carne do Mercosul num futuro acordo birregional. Mas a entidade divulgou ontem novo comunicado detonando a decisão da Comissão Europeia de incluir a carne bovina na barganha final entre os dois blocos.

Jean-Pierre Fleury, presidente do grupo de trabalho “Carne Bovina” da Copa-Cogeca, declara no comunicado que a decisão da Comissão inquieta fortemente, já que o acordo com o Mercosul terá forte impacto no setor bovino europeu. Diz que isso é ainda mais preocupante quando o consumo de carne na Europa caiu 20% em dez anos e que não está claro o impacto do “Brexit” sobre o setor agrícola europeu.

Insiste, ainda, que a Europa tem regras estritas de segurança dos alimentos e bem-estar dos animais, e reclama que isso não seria o caso para as importações provenientes do Mercosul. E exemplifica que os europeus registram os movimentos de animais individuais desde seu nascimento até seu abate, enquanto no Mercosul essa rastreabilidade alcançaria apenas 10%.

Fontes da Comissão Europeia minimizam o ambiente pesado de suspeitas. Dizem que as discussões sobre a oferta agrícola estão em andamento e não se pode falar no volume de 85 mil toneladas para a carne bovina do Mercosul nesse momento. Para um alto representante do setor bovino europeu, parece difícil concluir que a nova oferta europeia virá a ser maior do que aquela já rejeitada no ano passado por vários países membros, ainda mais em razão de dois acontecimentos.

Primeiro, a decisão do Reino Unido de abandonar a UE. Isso significa que a Irlanda teria que encontrar mercado para mais de 200 mil toneladas de carne bovina nas mesmas condições de antes. Segundo, um estudo sobre impacto econômico acumulado de acordos comerciais, de dezembro do ano passado, apontou o setor de carne bovina teria de enfrentar a concorrência de 356 mil toneladas de carne importada a mais cada ano, sendo o segmento “ultra sensível” em qualquer tentativa de liberalização.

“Existe um frenesi novo, porque muita gente passou a tomar consciência de que a negociação UE-Mercosul poderá realmente ser concluída em dezembro”, diz uma fonte em Bruxelas. Esse ambiente de nervosismo entre protecionistas aumentou com um discurso do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, esta semana, colocando ênfase nessa possibilidade de entendimento entre os dois blocos. Novas rodadas de negociações estão previstas para as próximas semanas.

Fonte: Valor Econômico, adaptada pela Equipe BeefPoint.

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