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Carne bovina conquista espaço

As exportações brasileiras de carne bovina in natura e industrializada somaram US$ 1,013 bilhão no ano passado, cifra 27,83% superior aos US$ 792,45 milhões registrados em 2000. A receita cambial do produto cresceu no período, apesar da queda de 24,8% nos preços, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A desvalorização do real frente ao dólar em 2001 foi um dos principais fatores para o incremento nas vendas, segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Edivar Vilela de Queiroz.

A expansão verificada nas exportações do segmento também foi motivada pela ausência da participação da Argentina e Uruguai no comércio exterior. Ambos os países voltaram a enfrentar problemas com a febre aftosa em seus rebanhos a partir de 2000. No caso brasileiro, mais de 80% de seu gado está localizado em regiões livres da doença, o que corresponde a aproximadamente 100 milhões de cabeças. “A disseminação da “vaca louca” na União Européia (UE), considerada um grande entreposto do produto para outros mercados, foi outro fator que abriu mais espaço para a carne bovina brasileira”, diz o engenheiro agrônomo da FNP Consultoria & Comércio, José Vicente Ferraz.

Importadores, como os países árabes e do Leste Europeu, passaram a comprar carnes de outros fornecedores, entre eles o Brasil. Em volume, as exportações brasileiras de carne bovina aumentaram de 323,19 mil toneladas, em 2000, para 502,99 mil no ano passado, o equivalente a um crescimento de 55,63% no período. A carne bovina congelada, fresca ou refrigerada ficou entre os vinte principais produtos exportados pelo Brasil em 2001, de acordo com a Secex. Foi responsável pela receita cambial de US$ 738,8 milhões no exercício do ano passado, um incremento de 46,79% em relação a 2000. O preço médio da tonelada no período caiu de US$ 2,66 mil para US$ 2 mil. O Chile, maior importador no ano passado, respondeu por US$ 94,98 milhões, seguido da Holanda, com US$ 93,77 milhões, e do Egito, US$ 70,13 milhões.

Do total de 368,28 mil toneladas de carne de bovino in natura exportadas pelo Brasil no ano passado, o Chile comprou 56,57 mil toneladas. “O aumento das compras do Chile deveu-se particularmente à ausência da Argentina e Uruguai, tradicionais exportadores para o mercado chileno, do comércio exterior”, comenta Ferraz. No entanto, o Chile não adquire carne do Rio Grande do Sul desde maio de 2001, quando suspendeu a compra em razão dos focos da febre aftosa no Estado gaúcho. O Brasil também abasteceu, no ano passado, Israel, Países Baixos, Irã e Arábia Saudita, entre outros países. A maior competitividade da carne bovina no mercado internacional levou frigoríficos, como Frigoestrela, Frisa, Frigovira e Frigoalta a aumentar a capacidade de suas unidades para garantir o abastecimento ao exterior.

O Frisa – Frigorífico Rio Doce S.A., por exemplo, exportou cerca de US$ 17 milhões em 2001, um aumento de 70% em relação ao total registrado no ano anterior. O Bertin Ltda., tradicional e maior frigorífico de bovinos na exportação, somou uma receita de US$ 371 milhões em 2001. Cerca de 90% das exportações do Bertin são enviadas para os Estados Unidos, Reino Unido, Bélgica, Holanda, França, Itália, Chile e Israel. Para 2002, o frigorífico prevê manter as exportações no mesmo patamar, devido à volta da Argentina ao cenário internacional. No entanto, o Bertin está abrindo canais para China, Rússia e Arábia Saudita.

Em geral, as carnes brasileiras são destinadas para empresas de refeições industriais, catering, atacadistas, hospitais e escolas no exterior e vendidas com as marcas dos clientes. O Frigorífico Quatro Marcos Ltda., de São Paulo, exporta seus produtos com a marca Laschori para um cliente específico da Alemanha. Na maior parte das vezes, as negociações de carne in natura ocorrem com grandes tradings que se encarregam da distribuição local ou até para o continente, no caso da Europa. Entre os principais importadores estão os holandeses Tom Zandbergdn e Feburo, a italiana Inalca e a alemã Rari Foods.

Outras empresas também adquirem a carne cozida e congelada para preparar pratos prontos, como a Bird’s Eye, do grupo Unilever, na Inglaterra. Para supermercados, como os da rede de lojas das inglesas Marks & Spencer e J. Sainsbury plc, as carnes já são enviadas com etiquetas dos clientes. As exigências para compra dos produtos são diversas e incluem aprovação do frigorífico exportador, garantias quanto à origem da carne, data do abate, sexo, idade, características fisiológicas dos animais e tipo de alimentação. A Marks & Spencer envia técnicos especializados para analisar o fornecedor, segundo a Abiec. As perspectivas para o segmento de carne bovina em 2002 são de um acirramento na competição do mercado internacional. “O cenário neste ano é outro, pois o dólar caiu e a Argentina e o Uruguai estão com preços inferiores aos do Brasil”, explica Queiroz, da Abiec.

O preço da arroba do boi no Brasil está cotado em média a US$ 18,50, desfavorecido pelo enfraquecimento do câmbio. No Paraguai e Uruguai, o valor da mercadoria chega a US$ 15,5 e na Argentina a US$ 12. Apesar disso, Ferraz ressalta que os problemas econômicos da Argentina ainda devem complicar as exportações daquele país neste ano, devido a possíveis dificuldades de operações financeiras internas e liberalização de linhas de crédito para sustentar os contratos de exportação.

Agentes do segmento também acreditam que as perspectivas sejam favoráveis, mesmo na retomada de um ambiente mais competitivo, pois a carne brasileira apresenta hoje vantagens no processo de criação e produção. O rebanho de bovinos do Brasil, com mais de 160 milhões de cabeças, é o maior do mundo comercialmente e, por sua vez, não tem registro de casos da doença da “vaca louca”. Além disso, não há riscos de contaminação, pois o sistema de engorda de animais utilizado no Brasil é 99% a pasto, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. “Na percepção de segurança, a pecuária extensiva é mais atraente”, comenta o diretor executivo da Abiec, Ênio Marques. Em abril de 2001, a OIE divulgou como de risco um a classificação do Brasil em relação ao mal da “vaca louca”, o que significa incidência “muito, muito pouco provável”.

Em contrapartida, a febre aftosa ainda é um dos problemas que afligem o gado brasileiro. Mas o País está concentrando esforços no combate à doença, por meio do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa, iniciado em 1965 no Estado do Rio Grande do Sul. “Nos últimos anos, o governo brasileiro investiu mais de US$ 1 bilhão no combate à febre aftosa”, afirma o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcus Vinícius Pratini de Moraes. Os focos já caíram de 2.093 em 1994, para 37 em 2001 e, em 2002, não foram registrados focos no território nacional, segundo o ministério. O plano do governo é erradicar a febre no Brasil até 2005, ano em que a meta das exportações do complexo de carne é de chegar a US$ 5 bilhões.

Até meados de maio de 2001, foram encontrados focos nos estados do Amazonas e do Rio Grande do Sul. O Estado gaúcho ficou fora do mercado exportador entre maio e dezembro de 2001, quando a União Européia (UE) voltou a comprar carne bovina da região. A Rússia também deixou de importar carne do Rio Grande do Sul, mas já dá sinais de retomada. A carne bovina ainda enfrenta práticas protecionistas no mercado internacional, de acordo com o assessor técnico da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Paulo Sérgio Mustefaga. “As exportações de carne bovina são prejudicadas por vários fatores, que incluem desde barreiras sanitárias até elevadas tarifas de importação nos países destinos”, explica.

Alguns países não aceitam importar carne bovina in natura de regiões onde ainda existe gado em processo de vacinação, mesmo que a doença esteja sendo controlada ou que antes tenham sido submetidas a uma rigorosa análise de condições de criação e processamento. É o caso dos Estados Unidos e Japão, que só adquirem do Brasil corned beef (carne cozida e enlatada). No ano passado os norte-americanos compraram US$ 85,72 milhões do produto e os japoneses, US$ 2,96 milhões. O processamento térmico ao qual o produto é submetido atende às garantias de sanidade exigidas por esses países.

Os agentes do setor trabalham para manter a posição do Brasil de importante competidor no mundo. Juntos, Abiec, Mapa, CNA e a Agência de Promoção de Exportações (Apex) estão realizando campanhas de promoção do produto nacional no exterior, com a marca Brazilian Beef.

Fonte: Gazeta Mercantil (por João Mathias), adaptado por Equipe BeefPoint

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