O spread entre preço do boi gordo e equivalente físico é um indicador que pode nos "dar uma idéia" de como estão as margens dos frigoríficos. Hoje o spread (diferença) entre indicador de boi gordo e equivalente físico está em R$ 1,59/@, menor valor desde janeiro de 2007.
O spread entre preço do boi gordo e equivalente físico é um indicador que mostra como estão as margens dos frigoríficos.
Este valor não o lucro que o frigorífico está alcançando em sua operação. Primeiro porque não é só com a carne que os frigoríficos obtêm renda, existem também os sub-produtos que são vendidos no mercado interno ou exportados, como o couro, vísceras, sebo e um grande número de produtos que podem ser obtidos do boi. Também não só a compra da matéria-prima que compõe os custos do frigorífico, existem folha de pagamento e outros custos operacionais, transporte e distribuição, marketing, impostos entre outros. Vale lembrar ainda que cada empresa tem seus custos operacionais específicos e também pode conseguir vender seus produtos por preços diferenciados.
Ou seja, analisando este indicador podemos estimar como está a margem bruta do setor, mais apertada ou não. E é ai que está a importância dele, somado a outros fatores e ínformações, o spread nos mostra de maneira simples se a venda de carne no atacado está dando sustentação ao mercado e se existe espaço para novas altas ou não. Ressalto que não é só o preço da carne que irá determinar o preço do boi e a tendência do mercado, mas este fator tem grande peso nesta relação e deve ser considerado nas análises.
Como é calculado o spread?
A conta é simples, ele é a diferença entre o preço do boi gordo e o valor da carne comercializada no atacado (equivalente físico). Para realizar esta conta utilizamos o valor do indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista em São Paulo e o equivalente físico, que é calculado a partir das cotações do atacado da carne bovina (preços do traseiro, dianteiro e ponta de agulha) em São Paulo – para este cálculo admitimos os pesos de 48% para o traseiro, 39% para o dianteiro e 13% para a ponta de agulha e encontramos o valor de uma arroba de carne bovina vendida no atacado.
Na última segunda-feira (05/01), o indicador de boi gordo foi cotado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP (Cepea) a R$ 85,88/@, registrando alta de 0,18%, 1,32% na semana e ficando 17,71% acima do valor cotado pelo mesmo centro em 4 de janeiro de 2008, quando a arroba do boi gordo paulista valia R$ 72,94/@.
No atacado da carne bovina de São Paulo também estamos observando valorização nos últimos dias, principalmente do traseiro, que nesta segunda-feira foi cotado a R$ 7,60, o dianteiro a R$ 4,10 e a ponta de agulha a R$ 4,30, segundo o Boletim Intercarnes. Assim o equivalente físico foi calculado em R$ 87,09/@, com valorização na semana de 2,06%, 8,46% no mês e 28,14% em relação ao mesmo período do ano passado.
Gráfico 1. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista x equivalente físico
Vamos ao spread, que está negativo, situação que não era observada desde dezembro de 2006. Ou seja, a indústria está ganhando mais com a venda de carne no atacado do que seus compradores gastam para comprar a matéria-prima, e assim os frigoríficos estão trabalhando com margens mais folgadas. Na segunda-feira este spread estava em -R$ 1,23/@. Ao comparar o valor atual com a média dos últimos 12 meses, que é R$ 7,63/@, temos uma diferença de -116,12%. Nos últimos dois anos a média deste indicador foi igual a R$ 6,64/@. Vale lembrar que quanto menor o spread maior será a margem da indústria.
Gráfico 2. Spread entre indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista e equivalente físico
Como citado acima, a alta do equivalente físico nos últimos dias foi impulsionada pela valorização da cotação do traseiro no atacado paulista, enquanto os outros cortes permanecem praticamente estáveis.
Tabela 1. Cotações do atacado da carne bovina
Segundo notícia da Agência Estado, os preços da carne bovina estão no patamar mais elevado dos últimos doze anos. O quilo do traseiro, carne mais nobre e mais valorizada no mercado atacadista de São Paulo, alcançou R$ 7,60 na última sexta-feira, de acordo levantamento do Cepea.
O preço médio do traseiro em dezembro do ano passado foi de R$ 6,90, valor que supera em 20,84% o desempenho registrado em dezembro de 2007. Naquela época, o preço médio do traseiro no atacado paulista foi de R$ 5,71.
Gráfico 3. Cotações do traseiro no atacado paulista
Apesar da carne estar se mantendo em alta, os sub-produtos não vão tão bem assim. O couro salgado, por exemplo, hoje está valendo R$ 0,77. No dia 1 de dezembro do ano passado, o Boletim Intercarnes apontava cotação de R$ 1,15 para este produto e em 2 de abril de 2008 este valor era de R$ 2,30. Uma desvalorização de 33,04% e 66,52%, respectivamente, afetando o resultado da indústria.
André Camargo, Equipe BeefPoint