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Carne bovina: por que exportações para os EUA caíram, mesmo sem tarifa de 50%?

As exportações de carne bovina para os Estados Unidos têm caído nos últimos dois meses se comparadas à tendência de alta registrada nos quatro primeiros meses do ano (veja tabela abaixo). De abril para maio, a queda foi de 42,7%, e, de maio para junho, de 33,5%.

Foi na primeira metade de abril que a primeira tarifa anunciada pelo governo dos Estados Unidos – 10% — começou a valer. Com isso, a alíquota da carne bovina, que era de 26,4%, passou para 36,4%. Mesmo assim, os números fechados de abril indicam o melhor desempenho mensal no primeiro semestre do ano, com 47,8 mil toneladas direcionadas para esse destino.

Na avaliação de analistas de mercado, esses dados têm que ser observados levando-se em consideração outras conjunturas e não apenas o início da tarifa de 10%. 

Há uma tendência de queda? 

Para o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, é preciso comparar o período deste ano com o mesmo do ano passado. Isso quer dizer, maio com maio e junho com junho, ou os dois meses deste ano com os dois meses de 2024. Olhando por esse lado, foram 45,6 mil toneladas enviadas aos americanos frente às 33,3 mil toneladas de maio e junho de 2024, o que é 36,7% a mais.

Outro aspecto é que, no começo do ano, os países exportadores correm para pegar a maior parcela da chamada cota erga omnes. Ela prevê a entrada nos Estados Unidos de 65 mil toneladas de carne sem tarifas e recebe esse nome porque é para todos os países, ou seja, quem chega primeiro se beneficia mais. Por isso, os volumes nos primeiros meses tendem a ser maiores.

Por isso, a opinião de Torres é de que não há indicativo de recuo nas exportações para o mercado americano nesses últimos dois meses. Ele ainda afirma que, mesmo com os 10% aplicados a partir de abril, a carne brasileira ainda é mais atrativa do que a carne americana.

“O preço da arroba nos Estados Unidos está entre US$ 120 e US$ 130 e o preço da arroba no Brasil está entre US$ 50 e US$ 55. Nós somos competitivos em preço, em qualidade e em compromisso. A gente entrega o que eles pedem e entrega no prazo sem erro. Ainda com o imposto [de 10% a mais], nossa carne chega muito vantajosa para os importadores norte-americanos”, analisa ao Agro Estadão.

Ele acrescenta que o apetite americano não alcançou apenas o Brasil, mas também outros países produtores, como Argentina, Uruguai e Austrália. “O rebanho norte-americano hoje é o menor rebanho desde 1951”, justifica, ao pontuar que a quantidade de cabeças nos Estados Unidos está entre 50 milhões e 60 milhões.

Conjuntura de mercado 

O economista e analista da Safras & Mercado, Fernando Iglesias, também não indica que a taxa de 10% interferiu no mercado nesse período. Ele concorda com a avaliação de que, mesmo com a alíquota de abril, a proteína brasileira continua competitiva. Inclui também que o pico dos embarques em abril é que acabou sendo o ponto fora da curva, devido a uma necessidade naquele período.

“Apesar dessa tarifa adicional de 10%, os Estados Unidos tinham muito apetite por carne do Brasil. Eles compraram grandes quantidades de carne em abril até por uma questão de sazonalidade. A necessidade de compra ali naquele período era muito ampla. A oferta era bastante deficitária nos Estados Unidos em função da posição de rebanho. Em maio e junho, eu diria que, diante de uma compra tão avolumada, como aconteceu em abril, é normal que você tire o pé”, completa.

Iglesias ainda sugere que o ocorrido no primeiro semestre pode ser parte de uma estratégia das importadoras do país de Donald Trump. “Eu diria que, muito provavelmente, esse processo de declínio seja até uma estratégia do importador norte-americano antevendo eventuais adicionais tarifários em relação aos seus grandes parceiros comerciais. Já sabendo que o Trump poderia fazer isso, adotar esse tipo de medida, eles anteciparam compras, realizaram compras mais avolumadas ali em abril, aguardando medidas nesse sentido nos meses que se seguiram. O que, de fato, se mostrou uma estratégia assertiva diante do que aconteceu”, destaca o analista ao lembrar das novas tarifas, que, para o Brasil, devem ser de 50%. 

Fonte: Estadão.

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