EUA: US$ 13,4 milhões para nova campanha promocional da carne bovina
7 de novembro de 2002
Exportação: animais devem estar rastreados há 15 dias
11 de novembro de 2002

Carne bovina: produto de briga?

Por Miguel da Rocha Cavalcanti1

Uma justificativa muito comum para a dificuldade de se vender carne bovina com qualidade diferenciada e preço superior é a de que o produto carne é apenas uma commodity e que os consumidores buscam apenas preço.

Dessa maneira, a alternativa seria a busca pela diminuição de custos e aumento da escala de produção. Só assim seria possível obter uma maior rentabilidade na pecuária de corte.

Em todos os países produtores, a cadeia da carne tem enfrentado dificuldades em oferecer um produto com maior valor agregado e receber mais por isso. Mas afinal, o que significa maior valor agregado? É um produto que apresenta atributos adicionais aos seus concorrentes. Para a carne, esses atributos seriam: maior maciez, suculência, sabor, garantia de procedência, rastreabilidade, certificação orgânica e quem sabe valores não-tangíveis, com apelo emocional.

Iniciativas de sucesso existem em vários países, como o Certified Angus Beef nos EUA, Norteños Excellent Beef e carne orgânica na Europa. Mas e no Brasil? Será que nossos consumidores estariam dispostos a pagar mais por esse produto especial?

Iniciativas como a do novilho precoce no estado de São Paulo não deram certo. Muito provavelmente o que ocorreu foi que não conseguimos realmente “agregar valor” (ou aumentar o valor percebido) no produto carne. Com uma variação grande dentro dos padrões aceitos como peso, idade e acabamento máximos e mínimos, além do grupo racial, a carne que recebia o selo “Novilho Precoce” era originada de carcaças muito diferentes. Com isso, a carne também variava muito em seus atributos como cor, tamanho do corte, maciez, capa de gordura etc. Essa variação tornava impossível que o consumidor (em geral sem muito conhecimento sobre carne) identificasse e reconhecesse a carne de novilho precoce como uniforme e, mais difícil ainda, como de qualidade superior.

Hoje existem marcas de diferentes produtos buscando abocanhar a preferência dos consumidores mais exigentes e de mais alta renda. Visitando um supermercado hoje no Brasil é possível encontrar diversos produtos premium, como: café gourmet, arroz pré-pronto em caixinhas, com um preço por quilo bem superior ao das marcas líderes, batatas fritas pré-prontas e congeladas, legumes descascados e cozidos embalados a vácuo, entre outros inúmeros exemplos. Porque então não desenvolver um produto para esse mesmo mercado alvo, com a carne bovina? Com o insucesso da iniciativa do Novilho Precoce, acreditava-se que não era possível diferenciar carne no varejo brasileiro. Felizmente novas iniciativas começam a mostrar resultados e a tomar força.

Projetos como o Montana Premium Beef à venda na rede Pão-de-Açúcar, carne Nelore Natural em alguns supermercados em São Paulo e Rio de Janeiro, Garantia de Origem da rede Carrefour mostram que esse mito está caindo por terra.

Há três semanas atrás a rede Pão-de-Açúcar anunciava no jornal Folha de São Paulo preços especiais para a carne do projeto Montana Premium Beef. Provavelmente foi a primeira vez que a mensagem não era “temos o preço mais baixo” mas sim, “temos uma carne especial, com um preço que não é caro”.


Foto: Anúncio do Pão de Açúcar na Folha de São Paulo de 18/10/2002

Essa semana o BeefPoint (por reunir representantes de todos os elos da cadeia da carne bovina brasileira, no Brasil e exterior) foi escolhido para divulgar o lançamento de uma nova marca de carne. A carne Teen Beef do frigorífico Camp Boi, que visa oferecer uma carne de alta qualidade, com sabor e maciez garantidos e bem característicos. Detalhes do projeto ainda não estão sendo amplamente divulgados, mas sabe-se que nos supermercados onde se testou a reação dos consumidores ao novo produto a resposta tem sido muito boa, chamando atenção especial para a aceitação dos cortes de dianteiro.

Todo produto que tenta se posicionar como superior precisa realmente ter atributos que garantam a satisfação do consumidor. Essa satisfação é mais difícil de se alcançar quando o preço cobrado é superior, pois as expectativas também são maiores.

Para uma nova marca de carne se firmar no mercado e atender às expectativas dos consumidores mais exigentes, é preciso oferecer maciez e sabor superiores e uniformes. Em situações onde o consumidor não tem muito conhecimento sobre como utilizar bem o produto, também é interessante informar ao consumidor como proceder para garantir o resultado esperado. Para a carne bovina isso também se aplica, pois a cada dia sabe-se menos como prepará-la. Ensinar aos seus clientes quais são os cortes mais indicados para cada tipo de prato e dicas para se manter a maciez ou aguçar o sabor de pratos específicos pode, além de deixar os clientes mais satisfeitos, garantir que não tenham uma experiência desagradável com seu produto devido ao preparo indevido. Nesse caso, com certeza a culpa será colocada no produto.

Novos projetos buscam quebrar o paradigma de que carne bovina é um produto de briga, servindo apenas como arma para a guerra de preços baixos entre redes de supermercados. Conseguir lançar e comercializar com sucesso marcas de carne com qualidade superior e melhor remuneração a todos os elos da cadeia é um grande desafio, mas com certeza fortalecerá a cadeia da carne brasileira frente à concorrência com outros países e produtos substitutos.

_______________________________
1Miguel da Rocha Cavalcanti é Engenheiro Agrônomo pela ESALQ/USP, pecuarista e coordenador do BeefPoint.

*************

O BeefPoint precisa de sua colaboração!

Estamos realizando uma pesquisa inédita no Brasil, com o objetivo de levantar os maiores confinamentos do Brasil. Busca-se assim mais informações para o setor produtivo, que muitas vezes por falta de informações confiáveis fica vulnerável a boatos que afetam o mercado.

Participe você também do TOP BeefPoint de Confinamento, indicando os confinamentos com mais de 1000 cabeças que você conhece. Clique aqui para saber mais

Obs.: Os dados só serão divulgados com autorização do proprietário.

0 Comments

  1. Caio Tacito Gomes Alvares disse:

    Parabenizo e apoio com veemência seu ponto de vista!

    Temos no Brasil um grande e imensurável patrimônio “cárneo” e simplesmente não sabemos ainda como fazer todo esse complexo ser rentável, afinal, as idéias, ainda que interessantíssimas, tornam-se diminutas quando defrontadas no contexto do mercado nacional.

    Digo isso pois, aqui na Bahia por exemplo, trabalho em regiões excelentes para criação, estou perto dos melhores focos turísticos (Eixo Porto Seguro, Ilhéus, Salvador), tenho porto, malha viária, e compro carne de frigorífico goiano… Corre o risco do teen beef chegar e aqui só irão constatar.

    Somos poucos, mas com adeptos de idéias rentáveis. O nicho de carnes “specialitys” chegará!
    Obrigado!

    Caio Alvares
    Médico Veterinário
    Marketing & Agribusiness