O BeefPoint conversou com Eliel Marcos Palamin, médico veterinário da Fazenda Yakult (Bragança Paulista-SP) e técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Wagyu para mostrar as particularidades da raça, seu sistema de produção e forma de comercialização da carne.
A Fazenda Yakult foi a primeira no Brasil a importar animais Wagyu na década de 1990, dos EUA, entre um casal de animais, embriões e sêmen para começar a própria produção e seleção. No início dos anos 2000, a fazenda começou seu melhoramento genético para atender a demanda de restaurantes da cidade de São Paulo pela carne diferenciada, que teve início após os donos destes restaurantes conhecerem a carne no mercado internacional.
No primeiro leilão de animais puros da raça no país, em 2007, todos os animais foram vendidos para criadores, restaurantes de alta gastronomia e frigoríficos. Segundo Eliel, “o que tinha no Brasil de animais prontos para abate foi vendido no leilão”.
Atualmente no Brasil, há centrais importadoras de embriões e sêmen de vários países, como do Japão, dos EUA, Canadá, Itália e Chile. Essas importações visam trazer novos pedigrees para o país, de linhagens com histórico de DEPs para bom marmoreio da carne, e assim melhorar o rebanho nacional.
Buscando esse melhoramento, a Fazenda Yakult faz a avaliação da carcaça de seus próprios animais e de abates de clientes criadores, para conferir o marmoreio encontrado nos descendentes e selecionar seus reprodutores. A Yakult é a unica criadora no pais a abater animais puros para venda de carne e o volume é de aproximadamente 4 a 5 cabeças por mês, “muito limitado ainda”, comenta Eliel, não suprindo a demanda dos restaurantes. A fazenda fornece carne para cinco restaurantes na cidade de São Paulo desde 2009.
Ainda consolidando a seleção genética no Brasil, os julgamentos desde 2007 eram conduzidos por juízes japoneses, e a partir de 2011 a Associação buscou por juízes brasileiros de outras raças já consolidadas no mercado, para utilizar a experiência e conhecimento existente e o julgamento ser focado principalmente na carcaça e conformação, diminuindo a ênfase na linhagem genética, foco dos juízes japoneses. O objetivo foi buscar a visão de outra raça e aprimorar a seleção, já que ainda não há juizes brasileiros formados da raça Wagyu.
Comercialização
Palamin explica que a comercialização de carne Wagyu não segue o mercado convencional, baseado no indicador da arroba ESALQ/BM&F. “Este nicho de mercado foge da linha de frigorífico”, o cliente compra direto da empresa produtora. Todos criadores e associados da raça no Brasil fazem o ciclo completo e venda final da carne, terceirizando o serviço de abate pelo frigorífico.
Em média, um animal terminado para abate pesa 750kg e tem rendimento de carcaça de 57%. O rendimento de carne comercial (limpa e desossada) é de 280kg /animal e é considerado mais importante do que o rendimento de carcaça. Consequência do tempo necessário de confinamento para se atingir um bom nível de marmoreio, de cada animal são descartados 100kg de gordura na toalete de abate.
O preço de venda de toda a carne desossada é em torno de R$40,00/kg, totalizando um faturamento de R$11.000 a R$12.000 por animal. No caso da maioria dos restaurantes, as peças consideradas nobres são negociadas a R$210,00/kg, principalmente o contra-filé. Eliel comenta que cada animal chega a produzir 30kg de contra-filé, abrangendo assim 50% do faturamento total por animal e há poucos restaurantes que possuem estrutura para comprar a carcaça, diminuindo assim o preço pago por essa carne.
Sobre a picanha, o técnico explica que todo o melhoramento é direcionado para o contra-filé, devido ao maior peso atingido pela peça. “Um animal produz no máximo 5 kg de picanha, já de contra-filé são 30kg”. As duas peças são vendidas pelo mesmo preço, e a qualidade da picanha é a mesma do filé segundo o técnico.
No caso da Fazenda Yakult, a carne considerada menos nobre pelos restaurantes é vendida na região de Bragança Paulista, com fiscalização municipal. A empresa também produz hambúrguer para agregar valor à carne comercializada e está se preparando para receber a fiscalização do SIF e vender na região da grande São Paulo.
No mundo, os maiores países criadores da raça e consumidores da carne Wagyu são o Japão, EUA e Austrália. No brasil, são 3.500 animais puros cadastrados pela Associação. O cruzamento também é utilizado para o fornecimento de carne, e o maior produtor no Brasil fica em Campo Grande-MS, com 15.000 cabeças. Registados na Associação, são 35.000 animais cruzados, e as raças mais utilizadas são a Brangus e Angus, Eliel comenta. Quanto à adaptação ao sistema tropical, Eliel explica que há criadores no oeste paulista, no MS, norte do MT e BA. O animal é “mais resistente em relação a outras raças taurinas, o touro reproduz no calor intenso. Os dois maiores problemas são ectoparasitas e diarreia neo-natal”.
Comparando a comerciaização da carne de animais Wagyu puros e de cruzados, a diferença está na quantidade de marmoreio e no preço de venda. Se o quilo do contra-filé de animais puros é vendido a R$210,00, para animais cruzados será vendido a R$110,00, se o marmoreio for bom.
Sistema de produção
Na Fazenda Yakult, os bezerros são desmamados com 8 meses de idade e pesam em média 220kg aos 13 e 14 meses. Neste ponto, é realizada uma análise por ultrassom em cada animal para se verificar o potencial de marmoreio e de área de olho-de-lombo (AOL). Esta ferramenta é utilizada para selecionar quais animais serão selecioandos para reprodutores e quais serão abatidos.
Palamin explica que na Yakult são selecionados 2% dos animais para touros reprodutores, dependendo do pedigree e do marmoreio, mantendo assim os melhores acasalamentos encontrados. A reprodução é realizada por inseminação artificial e transferência de embriões. “Uma boa doadora fornece em torno de dez embriões viáveis”, comenta Eliel, e é utilizada a coleta e transferência tradicional.
Os animais selecionados para corte são confinados dos 14 aos 28 ou 30 meses de idade, até alcançarem os 750kg. A dieta utilizada é baseada em silagem de milho e concentrado. Dependendo da região e disponibilidade o concentrado pode variar, na Yakult são utlizados principalmente milho, farelo de soja e farelo de trigo.
A terminação de animais cruzados também é feita em confinamento, até os 26 ou 28 meses de idade. E como o nível de marmoreio não será o mesmo de animais puros, por motivos genéticos, esta categoria pode entrar em confinamento com mais idade, reduzindo assim o custo de produção.
Eliel acredita que a ultrassonografia ainda vai ser utilizada para animais cruzados, pois identificando exemplares com baixo potencial de marmoreio, estes podem ser confinados por menos tempo e vendidos com peso menor, melhorando o custo beneficio da produção.
Por curiosidade, perguntamos ao Eliel se os animais realmente recebem massagem ou tomam cerveja. Ele explica que no Japão isso é praticado porém no Brasil o custo é inviável. “A massagem melhora o marmoreio e a cerveja altera a microbiota ruminal, aumentando o apetite e melhorando o aproveitamento de nutrientes na digestão pelos animais”, explica.
Classificação, marcas de carne e projeções futuras
Questionado sobre marca própria para venda de carne, Eliel explicou que marcas de criadores de animais puros ainda não existem. A Yakult vende e distribui sua própria carne, porém ainda sem um selo de identificação. O posicionamento da empresa é interessante: em casos de baixo marmoreio, o preço de venda praticado é menor, garantindo assim padrão de valor e qualidade da Fazenda Yakult. Existem marcas próprias de criadores de animais cruzados, que também terceirizam o abate, embalam e distribuem sua carne identificada.
A associação está desenvolvendo um selo de classificação e de garantia da carne entre os criadores associados. Como há vários níveis de marmoreio entre as diferentes linhagens genéticas da raça, é necessário criar uma tabela de classifcação, na qual a associação está trabalhando. A tabela brasileira será baseada na tabela japonesa, com 12 pontuações de marmoreio para diferenciar as peças por meio de um selo. A pontuação média de marmoreio atingida pela Yakult ainda é de 04. No Japão a média é de 08 a 12, segundo Eliel.
Sobre o crescimento da raça no Brasil, Eliel comenta que a projeção é otimista e a demanda pela carne é crescente. O número de restaurantes buscando pelo produto aumenta, e de 2007 a 2010, as vendas de sêmen cresceram 700% segundo a ASBIA. “Mesmo com um volume baixo comparado à outras raças, este número demonstra o potencial do Wagyu no Brasil”.
Desta forma, o mercado de carne com alto nível de marmoreio cresce no país, demonstrando o maior poder de consumo do brasileiro e a busca por alimentos de alto valor agregado. Tratando de carne bovina, este produto é interessante pois mostra uma opção num mercado cada vez mais variado, com diferentes perfis de consumo (de baixo a alto preço de venda) e mercado para diferentes tipos de carne: desde a carne light (baixo teor de gordura), carnes para churrasco (com cobertura de gordura e médio marmoreio) até a carne com alto marmoreio.
Foto: Eliel Marcos Palamin
Artigo escrito por Marcelo Whately, analista da Equipe BeefPoint.
19 Comments
A Associação Wagyu agradece pelo artigo que de uma forma bem resumida mostrou que a raça possui um futuro promissor, onde atraves de um serviço paralelo dentro da propriedade e em conjunto com produçoes extensivas poderão agregar valores satisfatórios no sistema operacional e principalmente ser produtor de uma carne diferenciada e sentir o prazer de ouvir comentarios cheios de adjetivos a respeito de seus produtos.
Um forte abraço a equipe BeefPoint.
att,
Eliel Marcos Palamim
Quais os restaurantes que servem Wagyu em SP ?
Eliel, parabéns pelo artigo.
Em Guaraçaí, região de Andradina/SP, exite um produtor da raça, desconheço se ele faz parte da Associação Wagyu.
Vejo que é um Bom trabalho de diferenciação de mercado.
Att,
Polles, A.C.
Parabéns Eliel, adorei o artigo.
Olá,
primeiramente parabéns pelo artigo, muito interessante!!!!!
Eu gostaria de saber se já existe uma analise econômica para avaliar a rentabilidade da
produção desta raça ?
Creio que a partir de índices econômicos favoráveis podemos atrair mais investidores e assim alavancar a produção de carne de qualidade e ajustar a oferta à demanda dos restaurantes e países importadores.
muito obrigado
Muito bom artigo. animais muito bonitos, é uma carne com sabor e somente para os conhecedores.
Tenho interesse em conhecer a raça Wagyu, minha região em Santa Catarina ,Serra ,minha cidade Lages desenvolve uma pecuaria de alta linhagem com raças europeias.
Sr.
Excelente matéria…..
Obrigado Edson!
Um abraço,
Marcelo
Insemino com Wagyu desde 2009.
Por enquanto, só para consumo próprio. Termino animais 1/2 sangue brangus e 1/2 sangue wagyu à pasto, com suplementação no cocho.
Abati 2 fêmeas de 24 e 26 meses, com peso médio de 14,5@.
Em relação à carne, é muuuuito diferente!!!
Bife de paleta: sensacional.
Acém de panela: senscional.
Contra-filé na churrasqueira: sensacional.
Bife de tira na brasa: sensacional.
Costela de ripa no forno : sensacional.
Picanha na brasa (3 minutos de cada lado): não consigo descrever… pena que só tem 2…
Moro no Japão e fiquei muito feliz em saber que existe Wagyu (和牛) no Brasil. Já tive muitas oportunidades de comer desta carne e digo que é muito saborosa. Muita gente não sabe mas existem várias “grifes” de carnes aqui, as mais conhecidas são a Kobe-gyu e a Matsuzaka-gyu. Esse ano eu comprei Matsuzaka-gyu em uma viagem de final de ano que fiz para a região de criadoros desta raça, o preço variava de 1200 ienes pra mais de 3000 ienes – preço para 100 gramas -, as mais caras geralmente são os corte de steak.
Parabéns pelo artigo, agora já sei que vou poder continuar comendo essa carne se tiver que ir embora um dia, rs.
Abraço
Olá Eliel,
Gostei muito do artigo. A carne Kobe, muito saborosa e macia, tem sido um sucesso de venda nos nossos restaurantes Rubaiyat.
E é importante conhecermos mais sobre esse produto Premium.
Estou passando a matéria para o nosso pessoal.
Parabéns pelo texto !
Abraços,
Ana Lucia Iglesias
Excelente Matéria!!!
temos uma grande predileção por esta carne tanto em nosso restaurante quanto no atendimento aos clientes de nossa loja. com certeza os funcionários da Prime Cut terão acesso a esta matéria.
Parabéns
Flavio Saldanha
Olá, queria saber quanto vale um bezerro desmamado wagyu? obrigado
Muito bom Eliel!! Parabéns
Ola
Adorei a reportagem sobre o gado WAGYU; poderia informar se já existe alguem vendendo a carne no RIO DE JANEIRO. Estou curioso em degustar esta maravilha, ou se possível onde vende.
Obrigado.
JAYME.
Prezado Eliel,
Gostamos muito da reportagem. Estamos buscando algumas referências de fornecedores deste tipo de carne que tenham interesse em fornecer para a praça do Rio de Janeiro. Você teria alguma sugestão? Desde já agradecemos.
Adorei a reportagem. Gostaria de saber se em Belo Horizonte tem algum restaurante com a carne no cardápio. Onde posso conseguir informações sobre onde posso conhecer o gado, preço de venda do semestre, etc., caso eu queira investir.
obrigada.
Olá Eliel gostaria de saber o preço de um bezerro e de um embrião?