A indicação geográfica da carne de gado criado no Pantanal deve sair até julho, projeta a Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável (ABPO). Eduardo Cruzetta, presidente da entidade, explica que a identificação reconhece não só as características do produto final como todo o modelo de produção.
“A identificação vai mostrar ao consumidor que a carne foi produzida a pasto, de forma natural e sustentável, com o bovino livre e saudável”, afirma Cruzetta. A ABPO pretende usar o mecanismo como um selo de qualidade que diferencie e valorize os produtos, o que permitirá remunerar os produtores por seus serviços ambientais.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), mais de 85% da mata nativa do Pantanal está intacta. A proporção é bem maior que os índices de preservação de outros biomas.
Atualmente, a associação tem filiados apenas em Mato Grosso do Sul. Mas, em paralelo ao processo para conseguir a indicação geográfica, a ABPO negocia a adesão de produtores de Mato Grosso.
No ano passado, 79 mil bovinos foram abatidos sob os protocolos da ABPO de carne sustentável ou orgânica, gerando 14,5 mil toneladas de carne, um volume duas vezes maior que o de 2021. Neste ano, a expectativa é abater 130 mil cabeças certificadas.
A associação também espera contribuir com o debate nacional sobre a rastreabilidade de bovinos, que ainda esbarra na dificuldade de se identificar os fornecedores indiretos dos frigoríficos. O protocolo da ABPO já exige a rastreabilidade desde o nascimento dos animais, mas com outro fim: garantir que eles tenham sido criados dentro do bioma. Apenas o abate pode ocorrer fora do Pantanal, desde que em frigoríficos autorizados.
O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Certificação por Auditoria e Rastreabilidade (Abcar), Luiz Witzler, que ajudou a ABPO a desenvolver o protocolo de carne sustentável, destaca a importância de a certificação ser feita por uma terceira parte.
No caso do protocolo da pecuária pantaneira, é a IBD Certificações que audita o extrato de movimentação de gado das fazendas uma ou duas vezes ao ano. O processo é feito a partir da numeração dos bovinos fornecida pelo banco público do Ministério da Agricultura.
“Com ele, é possível identificar os animais e rastrear sua origem”, explica Witzler. Segundo ele, é possível aplicar esse tipo de estratégia em todo o país.
O presidente da Abcar diz que mecanismos que valorizem o produto sustentável são importantes para destravar a rastreabilidade no Brasil. “O pecuarista que vende ao frigorífico muitas vezes é recompensado, mas o produtor de cria, não”, afirma.
Fonte: Valor Econômico.