Silvana Bonsignore é a diretora de marketing do INAC, Instituto Nacional de Carnes do Uruguai. Ela é responsável pelo programa de marketing da Carne Natural Certificada do Uruguai, um programa pioneiro que busca aumentar o valor da carne uruguaia no mercado internacional, através da oferta de um produto de qualidade superior e certificada.
Fernando Mattos é produtor de gado de corte e diretor da Associação Rural do Uruguai.
Silvana e Fernando deram essa entrevista ao BeefPoint, explicando como funciona o programa de certificação da carne uruguaia, quais os objetivos desse programa e quais as perspectivas para a cadeia produtiva da carne uruguaia.
BeefPoint: Você poderia explicar como funciona o programa Certified Natural Beef?
Silvana Bonsignore: O programa de Carne Natural Certificada do Uruguai surgiu a partir do desafio vivenciado pela cadeia da carne uruguaia de satisfazer as demandas dos consumidores, nos mercados de maior desenvolvimento econômico e exigência.
BeefPoint: Quais são os pré-requisitos desse programa?
O programa está orientado fundamentalmente para a segurança alimentar, bem-estar animal, produção sustentável e respeito ao meio-ambiente.
O programa, de escala nacional, garante entre outras coisas:
a) Os animais nascem no Uruguai e são criados a pasto, durante todo o ano
b) Não se utilizam hormônios, anabolizantes ou promotores de crescimento
c) Não se utilizam proteínas de origem animal na alimentação do gado
A adesão ao programa é voluntária. A inscrição no programa é feita no Instituto Nacional de Carnes (INAC), que coordena e fomenta a relação entre os diferentes elos da cadeia: produtores rurais, indústria frigorífica e empresas certificadoras.
Produtores e frigoríficos se comprometem a cumprir com todas as normas descritas no Protocolo de Certificação e a atuar de acordo com os direitos, obrigações e funções estabelecidas no Manual de Procedimentos.
Cada um dos requisitos estabelecidos, em cada etapa do processo agro-industrial, é verificado por uma empresa independente, reconhecida internacionalmente, escolhida pelas partes envolvidas e aprovada pelo INAC.
Assim se garante a transparência e o estrito cumprimento do Protocolo de Certificação em todas as etapas da cadeia produtiva da carne.
O INAC é o proprietário intelectual da “marca país” (Uruguay – Certified Natural Beef e Uruguay – Certified Natural Lamb) e outorga o usufruto, sem custos, ao frigorífico atuante, uma vez comprovada o atendimento dos pré-requisitos pela empresa certificadora.
BeefPoint: Como você definiria o posicionamento da marca Uruguay – Certified Natural Beef no mercado internacional?
Silvana Bonsignore: Os consumidores mais exigentes demandam segurança alimentar e o Uruguai tem as melhores condições para oferecer carnes saborosas como sinônimo de “confiança”.
As carnes uruguaias se apresentam como muito seguras para a saúde humana e produzidas em harmonia com o meio ambiente.
Os principias argumentos da carne uruguaia ressaltam a criação sem stress dos animais, a alimentação baseada em pastagens naturais e ao não-uso de hormônios.
No entanto não basta dizer que a carne tem todos esses atributos, é preciso poder provar essas afirmações. Por isso a rastreabilidade e a certificação dos processos produtivos adquirem tamanha importância nos dias de hoje.
BeefPoint: Quais são os diferenciais em relação à carne argentina, por exemplo?
Silvana Bonsignore: As carnes argentinas e uruguaias têm muitos atributos em comum. Ambas são seguras e de excelente qualidade. O mesmo se pode dizer das carnes brasileiras.
No entanto acredito que quando falamos de implementar uma “marca país”, associada a programas de certificação nacionais, a tradicional desvantagem da pequena dimensão geográfica do Uruguai em relação aos países vizinhos se transforma em uma vantagem, por torna mais fácil a implementação e o controle do programa de qualidade, em país de pequena área.
BeefPoint: O que o Uruguai tem feito para divulgar sua carne no exterior? Temos visto vários materiais, inclusive um logo muito bonito (“from nature to consumer“). Onde esse trabalho está sendo divulgado?
Silvana Bonsignore: A campanha publicitária desenvolvida pelo INAC para o programa de Carne Natural Certificada ganhou o prêmio máximo da publicidade no Uruguai (Gran Campana de Oro) e o logo Uruguayan meat. From nature to consumer já obteve vários prêmios internacionais de design (Cannes, New York, Ojo de Iberoamérica, Festival Iberoamericano).
INAC, que é o órgão encarregado da promoção externa da carne uruguaia, lamentavelmente não conta com recursos financeiros suficientes para uma campanha de massa. Até o presente momento, a divulgação tem sido feita em feiras internacionais, como ANUGA e SIAL e degustações em mercados prioritários. Recentemente também divulgamos esse programa durante o Congresso Regional da OPIC/IMS, realizado em Punta Del Leste, Uruguai.
Sem dúvida temos muito trabalho pela frente.
Silvana Bonsignore: Apesar da forma de divulgação parecer se direcionar apenas para o consumidor final, nosso público alvo é mais abrangente, incluindo varejistas, distribuidores, traders internacionais. Dessa maneira essas empresas conhecem mais sobre o nosso produto e podem divulgá-lo de forma melhor ao vender aos consumidores finais.
O maior desafio da cadeia da carne no Uruguai é deixar de vender commodities e agregar maior valor aos nossos produtos. Essa é a orientação do INAC e é nesse sentido que estamos trabalhando.
BeefPoint: Qual é o maior desafio para os produtores de carne do Uruguai?
Fernando Mattos: Sabemos que somos uma parcela pequena no comércio internacional de carne. Isso nos obriga a ter uma estratégia de busca de produtos diferenciados, contemplando as características exigidas pelos consumidores do mercado externo.
Devemos identificar quais são os atributos mais valorizados por nossos clientes e trabalhar nesses pontos, buscando aumentar o valor do produto uruguaio.
Outro aspecto importante a se levar em consideração é a necessidade de se alcançar uma maior constância na oferta de nossa carne. Esse é um grande desafio de um sistema de produção baseado a pasto, dependente da variabilidade climática.
A integração da cadeia é outro ponto que deverá se tornar a ferramenta fundamental para fortalecer nossa presença no mercado externo, que a cada dia está mais competitivo.
BeefPoint: Qual é o futuro da produção de carne bovina no Uruguai?
Fernando Mattos: Nosso futuro é brilhante, não apenas para o setor produtivo, mas para toda a cadeia da carne. A chave para isso é a manutenção do status sanitário, condição indispensável para o acesso a mercados, para a comercialização de qualquer excedente de produção.
A crise da aftosa nos ensinou muito bem o que significa perder repentinamente, todos os mais de 80 países para os quais exportávamos.
Nossa produção para o ano 2003 está estimada em 487 mil toneladas, com exportações superiores a 300 mil toneladas.