O senso comum diz que a indústria de carnes é horrível, que a produção animal contribui para a mudança climática e para poluir a água – com cada vez mais organismos resistentes a antibióticos – e o abate industrial poderia se qualificar como tortura. Além disso, há a sopa fecal.
Mas a carne continua deliciosa. Sim, os substitutos de carne existem, mas o que os onívoros que se sentem culpados realmente querem é exatamente o que têm agora, mas sem o lado ruim. A resposta para isso é a carne produzida em laboratório, a partir de amostras de células que crescem formando o mesmo tecido produzido na natureza (o couro produzido em laboratório também existe, a propósito, e é feito através de um processo similar). O problema é, seu sabor ainda não está muito bom – além do fato de um hambúrguer de laboratório custar US$ 330.000. Resolvendo esses problemas, a carne produzida em laboratório poderá substituir uma das maiores indústrias dos Estados Unidos.
Porém, a carne cultivada, como também pode ser chamada, nunca avançará se o público não estiver interessado – e é difícil saber se está. A opinião pública sobre a carne produzida em laboratório foi pouco estudada. Em 2013, antes do primeiro hambúrguer de laboratório ter sido consumido, somente 13% de 180 belgas sabiam o que era carne produzida em laboratório. Mais da metade nunca tinha ouvido falar sobre isso. Do outro lado do Atlântico, uma pesquisa de 2014 mostrou que somente 20% dos americanos estariam dispostos a experimentar carne cultivada. E embora você possa esperar que os vegetarianos estejam entre eles, o estudo belga descobriu que os vegetarianos (ou, pelo menos 70 que foram entrevistados) mais frequentemente esperam que a carne produzida em laboratório não é saudável do que os não-vegetarianos, e eles geralmente veem o produto de forma mais desfavorável.
As marés podem mudar, no entanto. Após os pesquisadores belgas explicarem como a carne é feita, a maioria dos participantes da pesquisa disse que podem estar dispostos a experimentar. Apostaram em educação sobre os benefícios nutricionais e o número de pessoas que estão definitivamente dispostas a experimentar quase dobrou.
Infelizmente, análises maiores são muito esparsas e a pesquisa sobre isso não existe. Um levantamento informal feito pelo blog The Vegan Scholar descobriu que a carne produzida em laboratório era muito mais palatável aos vegetarianos do que aos veganos, cuja adversidade vem do fato de que, de laboratório ou do gado, a carne ainda tem células animais. Alguns levantamentos feitos pelo Reddit e pelo SurveyMonkey chegaram a conclusões similares. Novamente, nenhuma dessas análises foi revisada por pesquisadores.
Porém, os pesquisadores sugeriram que a mídia superestima muito a importância das opiniões dos vegetarianos e dos veganos com relação à carne produzida em laboratório. Essa carne terá sucesso ou fracasso dependendo da aprovação ou não dos consumidores de carne. E eles não terão razões convincentes para mudar (apesar das supostas práticas horríveis da indústria) até que os custos caiam. Não há razão para ter um hambúrguer feito em uma placa de petri quando um hambúrguer produzido em uma fazenda é milhares de vezes mais barato.
Os cientistas envolvidos estão otimistas que podem reduzir os custos e melhorar o sabor até 2020, principalmente aumentando a eficiência e a produção de carne em grande volume. Aqui está o futuro dos bifes, hambúrgueres e salsichas – sem o problema da culpa.
Veja abaixo um vídeo (em inglês) com 4 coisas que você precisa saber sobre a carne produzida em laboratório, que são:
1) A produção de carne em laboratório já é possível e se torna mais prática todos os dias. O processo pioneiro foi desenvolvido por Mark Post da Maastricht University. O processo consiste em obter células-tronco de pequenas amostras de tecido muscular animal. Essas células se diferenciam em células musculares, que naturalmente formam fibras pequenas chamadas miotubos. Esses são colocados ao redor de uma estrutura circular na placa contendo gel, essas células se multiplicam formando um pequeno pedaço de tecido muscular. Colocando esse pedaços de tecido muscular junto com um tecido de gordura, forma-se algo que parece e tem sabor de carne.
2) De acordo com um estudo da Universidade de Oxford, essa carne cultivada emite 96% menos gases de efeito estufa (GEE) do que a carne tradicional. Isso é importante, porque a indústria pecuária contribui com 44% das emissões de metano e 53% do óxido nitroso.
3) A carne cultivada em laboratório usa de 82% a 96% menos agua do que o sistema tradicional.
4) O primeiro hambúrguer produzido por Post em 2013 custou US$ 330.000. Ele espera produzir a carne em laboratório em larga escala, a um custo de menos de US$ 10 por hambúrguer até 2020.
Fonte: Wired, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.