O presidente da Rússia, Vladimir Putin, chega ao Brasil no próximo dia 21 e deve se encontrar com autoridades para discutir um aumento nas cotas de importação de carnes brasileiras. Mas, mesmo que concorde em negociar as cotas, Putin já se comprometeu com os Estados Unidos em reservar boa parte do mercado russo para as carnes americanas.
Para que a Rússia possa fazer parte da OMC, Moscou precisa negociar acordos comerciais com seus principais parceiros. O problema é que, no setor das carnes, a Rússia optou por fazer acordos setoriais e dividir a cota que oferecerá aos principais fornecedores, entre eles Brasil, EUA e Europa. Documentos refletem o entendimento fechado com a Casa Branca e que deverá ser incorporado ao entendimento final entre os dois países quando os demais setores do comércio entre EUA e Rússia também forem negociados. O entendimento, pelas regras internacionais, deve ser mantido em sigilo.
No setor de carne bovina, por exemplo, os russos destinarão quase um quinto do mercado aos americanos. Além disso, analistas contam que a porção dada à Europa nesse setor seria significativa. Já no setor de carne suína, os europeus ficariam com mais de 50% das cotas, enquanto os americanos ficariam na média com 10% das cotas para entrar no mercado russo. Já o Brasil teria de competir com outros países para ocupar 6% dos consumidores.
Não é apenas a divisão das cotas que vai gerar prejuízos ao Brasil. Pelo acordo feito entre russos e americanos, será a Casa Branca que terá o direito de administrar como distribuirá as cotas que recebeu dos russos. Em muitos casos, são os países importadores que administram para quais empresas vão dar a licença de comercialização.
Na prática, portanto, a cláusula no acordo russo-americano significaria dar todo o poder às empresas americanas decidirem como vão ocupar quase três quartos do mercado russo.
Na avaliação de especialistas estrangeiros, a oferta mostra que os russos optaram por agradar aos americanos para que a entrada de Moscou na OMC fosse facilitada.
O Brasil, que declarou apoio à entrada da Rússia à OMC e, em troca, ganhou o apoio de Moscou para sua candidatura ao Conselho de Segurança da ONU, agora terá de negociar para não sair no prejuízo.
Caso os entendimentos entre russos e americanos prevaleçam, a entrada de Moscou na OMC representaria prejuízos para o Brasil no setor que mais gera recursos para o país na relação comercial com o Kremlin.
Por enquanto, as cotas da Rússia não prejudicaram as exportações brasileiras. No caso da carne bovina, o Brasil exportou três vezes mais do que a cota permitida. O país vendeu 187 mil toneladas para a Rússia até outubro (a cota era de 68 mil), um crescimento de mais de 100% em relação ao mesmo período do ano passado.
OMC
O presidente russo, Vladimir Putin, em sua visita ao Brasil, também deve pedir o apoio do Brasil para a entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC). Ele já passou pela União Européia, Estados Unidos e China costurando acordos.
Como a OMC funciona por consenso, todos os membros precisam estar de acordo. Com a UE, a Rússia negociou a adesão ao protocolo de Kyoto. Com os EUA, fez o acordo sobre as cotas de carnes. Agora, a negociação no Brasil deve ser difícil. A principal reivindicação brasileira é a eliminação das origens das cotas de carnes, isto é, os brasileiros não querem que as cotas sejam direcionadas a países. Só que a Rússia já se comprometeu com os EUA.
O Brasil também quer negociar barreiras sanitárias. No caso do embargo às carnes, a Rússia contrariou a orientação da Organização Internacional de Epizootias, que determinou que o foco de aftosa do Amazonas não afetava a região exportadora do Brasil.
Fonte: O Estado de S.Paulo (por Jamil Chade e Patrícia Campos Mello), adaptado por Equipe BeefPoint