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Carnívoros avançam no prato dos veganos e impulsionam vendas de itens a base de plantas

Não foram só grandes nomes do showbiz que fizeram sucesso no Rock in Rio. O “hamburger de shitake” do restaurante que o Açougue Vegano montou na praça de alimentação do evento foi um dos mais disputados. Outros campeões de vendas que alimentaram os fãs do evento foram a coxinha de avelã com cacau e a moqueca de banana da terra.

Para quem estranhou o cardápio, vale ressaltar que o maior público a impulsionar o mercado de alimentos à base de plantas (plant-based, em inglês) não são nem os vegetarianos, nem os veganos e sim os consumidores batizados de “flexíveis”. Aquela parcela da população que não dispensa o bife bovino, mas não está fechado a novas experiências, seja em busca de uma alimentação mais saudável ou por consciência ambiental.

Um estudo conduzido por Gerson Charchat, sócio da Strategy&, consultoria estratégica da PwC, sobre os números atuais e as tendências do consumo de alimentos baseados em plantas, mostra que os chamados flexíveis somam pelo menos 60 milhões de pessoas, só no Brasil, mais que o dobro do número estimado de veganos e vegetarianos (25 milhões). “O Brasil hoje produz mais de 54 mil toneladas de proteínas alternativas e em 2023 deve chegar a 1 milhão de toneladas. É um dos mercados que mais cresce no mundo e com um potencial enorme por aqui”, afirma Charchat. Na América Latina, diz ele, o crescimento deve ser de pelo menos 23,5% ao longo dos próximos dez anos. De acordo com um estudo da Allied Market Research, o mercado vegano deve alcançar US$ 36,3 bilhões até 2030, quase o dobro de 2020 (US$ 19,7 bilhões), muito graças aos também carnívoros.

Os números explicam o sucesso do Açougue Vegano, que já foi batizado assim pra chamar a atenção de quem acha que proteína à base de plantas é só para vegetarianos. Inaugurado em 2017 pelos sócios Celso Fortes e Michelle Rodriguez, ambos oriundos da Faculdade de Gastronomia de Alain Ducasse, o grupo tem hoje duas lojas próprias, dez franquias, e os sócios estudam os candidatos a parceiros nos Estados Unidos, Portugal, Itália e Espanha. “Estamos na fase de definir detalhes. Se vamos exportar jacas daqui ou se vamos comprar da Jamaica”, afirma Fortes, que também negocia parceria de distribuição com a Amazon em Nova York e Miami (EUA), que serão as praças de estreia.

Além da internacionalização, a dupla quer chegar a 2023 com mais 30 lojas no Brasil e em novos mercados. A novidade por lá, é a inauguração da segunda fábrica, no final deste ano. Com investimentos de R$ 1,5 milhão, a unidade terá 500 metros quadrados com capacidade de multiplicar por oito a atual produção. Mas, o mais importante, segundo Fortes, é que fica no município de Maricá, no cinturão verde do Rio de Janeiro. Perto, portanto, dos principais fornecedores da marca.

Para dar certo, porém, é necessário uma combinação de sabor com uma cadeia de fornecedores bem azeitada. A logística, aliás, é um dos grandes desafios para quem atua no mercado de alimentos orgânicos – tanto o recebimento da matéria-prima dos fornecedores, quanto na entrega ao consumidor final, de acordo com Luiz Demattê Filho, CEO da Korin Alimentos, cujo portfólio vai de ovos de galinhas livres de gaiola a empanados vegetais sabor frango.

A maior parte dos fornecedores, explica o executivo, são pequenos produtores rurais – são 470 cadastrados – sendo 90% da produção orgânica baseada em itens in natura, altamente perecíveis. “Qualquer problema na entrega gera perdas muito grandes, então pode-se dizer nossa atenção está concentrada nesta parte da cadeia”, diz ele.

Mas não só. Demattê, que também é presidente da Câmara Temática de Agricultura Orgânica, do Ministério da Agricultura, reclama da falta de incentivo governamental para tornar os produtos mais competitivos. Desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, faltam insumos químicos. Os grandes produtores agrícolas correram atrás de insumos orgânicos, o que desequilibrou o mercado. “Só agora estamos voltando ao normal”, diz ele.

Nas quase 700 lojas do Grupo Pão de Açúcar, divididas entre as várias bandeiras da rede, são cerca de 1,2 mil itens com o selo orgânico em diversas categorias, sendo a dos hortifrutigranjeiros a mais representativa, de acordo com a gerente de sustentabilidade da companhia, Renata Amaral.

“Os clientes que compram orgânicos estão aumentando a frequência dessas compras para duas ou três vezes por semana. Não são compras pontuais. O desafio é ter escala que traga viabilidade econômica para tornar esse itens mais competitivos”, resume a executiva.

Fonte: Valor Econômico.

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