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Caso de ‘vaca louca’ no Japão mostra lacunas no sistema dos EUA

O último caso de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), conhecida como doença da ‘vaca louca’, que foi registrado no Japão, aumentou as preocupações com a decisão tomada pelo governo dos Estados Unidos de reabrir sua fronteira à carne bovina do Canadá, devido à possibilidade da entrada de produtos oriundos de animais infectados, segundo um grupo de consumidores e um ex-veterinário do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

O caso japonês também expôs lacunas no programa de vigilância dos EUA para a EEB. Isso porque as autoridades japonesas registraram, na última segunda-feira, o abate de um touro de 23 meses de idade em Ibaraki no dia 29 de setembro, o qual apresentou resultado positivo no teste de EEB. Este foi o oitavo caso da doença detectado no país asiático.

A descoberta da doença em um animal tão jovem poderá ter implicações globais porque existe uma concordância geral de que a EEB não se desenvolve em animais de até 2 a 3 anos de idade, como ocorreu com a maioria dos bovinos infectados no Reino Unido. Como resultado disso, alguns países europeus e o Reino Unido não testam o animal para a doença a não ser que este tenha pelo menos 24 meses de idade. Muitos países não testam animais com menos de 30 meses de idade.

O USDA decidiu reabrir em agosto a fronteira à carne bovina canadense após o surgimento de um único caso de EEB neste país em maio. Apesar das preocupações de grupos de consumidores, oficiais norte-americanos decidiram permitir importações oriundas de bovinos de menos de trinta meses de idade – baseado, em parte, no fato de que estes animais eram considerados de baixo risco para a doença.

“As implicações deste caso não são boas para o USDA porque sugerem que animais infectados podem vir do Canadá aos EUA e para nossa cadeia de alimentos”, disse o pesquisador sênior associado à União dos Consumidores de Yonkers (em Nova York), Michael Hansen.

Seguindo esta mesma linha de pensamento, o ex-veterinário do USDA, Lester Friedlander, disse que o caso japonês mostra que “os sistemas norte-americano e europeu não estão funcionando”.

Com o objetivo de garantir a segurança da carne, disse ele, todos os bovinos deveriam ser testados, o que é exigido pelo sistema japonês. Até agora, o USDA tem resistido a esta estratégia. Atualmente, a agência testa menos de 1% de todo o gado bovino dos EUA. “O USDA não está fazendo nada para obter a confiança dos consumidores dos EUA”, disse Friedlander.

Henses notou, entretanto, que testar todos os bovinos pode não representar uma solução porque o atual teste escolhido pelo USDA, chamado ensaio imunohistoquímico, foi usado pelas autoridades japonesas no touro de Ibaraky e falhou em detectar a doença. Somente quando as autoridades usaram um tipo diferente de teste, chamado Western Blot, a EEB foi detectada no animal. Isso indica que o USDA poderia não somente mudar seu sistema para testar animais jovens rotineiramente, mas também, poderia empregar um teste diferente, disse ele.

A descoberta também pode ter repercussões comerciais para os EUA porque poderia levar o Japão a parar de importar carne bovina norte-americana, continuou Hansen. O Japão é o maior importador de carne bovina dos EUA, de forma que esta decisão poderia ter um impacto significativo na indústria de carnes.

As autoridades japonesas já expressaram preocupações sobre as importações de carne bovina americana sendo possivelmente infectadas com EEB depois do caso registrado no Canadá, de forma que a revelação de que a doença pode ocorrer em animais mais jovens do que se pensava anteriormente poderá reduzir a confiança na segurança da carne bovina dos EUA, disse Hansen.

O USDA não comentou como o caso japonês poderia afetar seu programa de vigilância contra a EEB. “Ainda é muito prematuro para dizer”, disse a porta-voz da agência, Julie Quick. “Nós ainda estamos trabalhando para obter maiores detalhes sobre este caso no Japão”.

Quick disse que os inspetores do USDA provavelmente teriam detectado o touro japonês porque o programa do departamento não é dependente da idade do animal. Ao contrário, o programa determina que se teste qualquer animal que apresente sintomas de EEB.

Entretanto, Friedlander disse que esta medida é falha no ambiente de hoje, de abatedouros de massa, onde mais de 2 mil bovinos são abatidos em um dia típico. Os inspetores do USDA precisam observar os animais antes deles irem para o abate, mas com um alto número pode produzir grupos, “caminhando quatro ou cinco lado a lado. Sendo assim, como um veterinário, eu não posso ver todos os animais. Isso é impossível”.

Isto significa que pode acontecer de algum animal com sintomas de EEB – como modo de andar anormal, paralisia facial ou orelhas caídas – não ser detectado e não ser selecionado para o teste. A solução, disse ele, é testar todos os animais que vão para o abate para eliminar dúvidas nas cabeças dos consumidores ou oficiais de países importadores.

Fonte: United Press International (por Steve Mitchell), adaptado por Equipe BeefPoint

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