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Caso Frigoalta x Perdigão

Por Renato Vilela Cunha1

Alguns dias atrás foi publicado nos meios de comunicação o acordo de parceria entre o Frigoalta, unidade de Cachoeira Alta (GO), com a Perdigão.

É de conhecimento comum que o Frigoalta, pertecente ao grupo Aderbal Arantes, entrou em dificuldades financeiras este ano, paralisando suas atividades com prejuízos financeiros a expressivo número de pecuaristas.

No caso específico da unidade de Cachoeira Alta – GO, os abates foram paralisados no início do mês de junho. Pelos dados apurados chegou-se a 413 produtores com valores a receber, num total de 16 milhões de reais.

Desde a publicação do anúncio de parceria, nenhum esclarecimento foi dado aos pecuaristas sobre a quitação dessas dívidas. As informações que correm dizem que o início das atividades estava programado para o dia 17 de outubro próximo, mas como o Frigoalta ainda não terminou as reformas previstas, essa data será adiada.

Um grupo de pecuaristas entrou com ação na justiça impedindo a venda do frigorífico, mas como a parceria firmada entre os dois grupos é de prestação de serviço do Frigoalta para a Perdigão, a ação não tem efeito sobre o acordo.

A grande questão que fica no ar é: com a volta do funcionamento do frigorífico as dívidas com os produtores serão quitadas?

No frigorífico nenhum esclarecimento foi dado a esse respeito. Entrando em contato com a assessoria de imprensa da Perdigão a resposta foi que “a retomada das atividades do frigorífico (…) reaquecerá o movimento econômico do município (…) além do incremento da arrecadação de impostos. Traz como benefício adicional aos pecuaristas locais a abertura de um novo canal de escoamento de seu plantel com a garantia de uma empresa como a Perdigão.”

Nota-se que a Perdigão em nenhum momento esclarece a questão colocada, mostrando apenas vantagens em seu acordo.

Diante de tal cenário, se for constatado que o frigorífico não quitará suas dívidas com os produtores, fica a pergunta: a Perdigão, empresa séria e de nome forte na economia brasileira será capaz de fechar um acordo com uma empresa que não honra os compromissos com seus fornecedores?

A entrada da Perdigão no mercado da carne bovina é muito bem vinda e deve ser recebida com satisfação. Mas é preciso que a classe produtora, sempre classificada como desunida e muitas vezes com razão, veja tal união como desfavorável.

A melhor arma dos pecuaristas contra esse descaso é o não fornecimento de matéria prima. Aliás, essa deveria ser uma regra constante quando uma unidade frigorífica deixa de cumprir seus compromissos com os pecuaristas. Nenhuma fábrica consegue produzir sem matéria-prima. O produtor simplesmente ignora a força que tem, bastando para isso um bom trabalho em equipe.

Diante do quadro apresentado fica a esperança que a Perdigão tenha a preocupação social de só fechar esse acordo mediante a iniciativa do Frigoalta de quitar todos os débitos com os produtores prejudicados.

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1Renato Vilela Cunha, pecuarista e engenheiro agrônomo

0 Comments

  1. Marcio Lupatini Pereira disse:

    Realmente é desastroso para toda pecuária do vale do Araguaia,que sofre com a paralisação das atividades na região de Canarana-MT, onde o Frigoalta possui uma planta de abate.

    Muitos pecuaristas têm recebimentos pendentes com o frigorífico.

    Recentemente o Margen, da unidade de Barra do Graças – MT retomou os abates, mas com preços inferiores, que fizeram muitos invernistas mandarem seus animais para o Marfrig, de Paranatinga-MT.

    Vamos aguardar o desfecho desse caso, com pensamento positivo.

    Abraço a todos.

    Márcio Lupatini

  2. Celso Ricardo Cougo Ferreira disse:

    Eu, como um simples leitor, acho que neste caso, os pecuaristas devem levar em conta não a abertura das atividades pela Perdigão, e sim a Perdigão como uma consumidora ou um cliente, que comprará suas matérias-primas.

    Vamos ser bem realistas, pois sem esta compra, o pecuarista vai fazer o que? Segurar o boi no pasto, para perder peso? Claro que não. Ele terá uma grande empresa, responsável e cumpridora dos seus compromissos, que não tem nada que ver com os problemas deixados pelo Frigoalta.

    A questão hoje não é e não tem nada a ver com a Perdigão fechar contrato com uma empresa que não honra com seus compromissos, e sim um acordo onde a Perdigão se preocupará em cumprir com os próximos compromissos que estão por vir.

  3. sebastiao silverio filho disse:

    Eu estava dando uma olhada na revolta do pessoal de Goiás e quero deixar o registro do desprezo que foi dado pelo pessoal do Frigoalta aos produtores de Rondônia, pois nós também não estamos recebendo nada.

    Realmente é lamentável.