O Brasil perde anualmente mais de US$ 5 bilhões por causa dos defeitos do couro produzido no País. Para aumentar a rentabilidade do produto, o setor pretende implantar um programa de qualidade, que está em discussão com o governo. Além disso, foram investidos R$ 1,9 milhão para a construção do Centro de Tecnologia do Couro, em Campo Grande (MS), que é inaugurado hoje e pretende pesquisar a melhoria do produto.
O Centro de Tecnologia do Couro será o primeiro no Centro-Oeste, região que responde por 36% do rebanho nacional, de 180 milhões de cabeças. O projeto completo está orçado em R$ 6,5 milhões, mas inicialmente foram investidos R$ 1,9 milhão nos laboratórios de curtimento e tratamento de efluentes.
No próximo ano, devem ser iniciadas as obras dos laboratórios de análise físico-química, análises mecânicas e biotecnologia. Segundo Cardoso, além de discutir a qualidade do couro, o centro se propõe a formar profissionais na área e fazer pesquisas para determinar a melhor matéria-prima para determinado fim. Além dos bovinos, estarão em estudos peles de outros animais.
O centro tem capacidade para processar até três mil peles por dia, porém não deve atingir esse volume de imediato, já que o objetivo é estudar minuciosamente as alterações que sofre o produto em cada etapa e buscar a melhoria constante da qualidade.
Segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), anualmente o país perde US$ 1 bilhão em cinco milhões de peles inutilizadas por causas de defeitos. Além disso, calcula-se que se o País tivesse um índice de qualidade semelhante ao dos Estados Unidos, poderia exportar US$ 6 bilhões frente aos quase US$ 1,5 bilhão comercializados atualmente.
De acordo com dados da Embrapa Gado de Corte, 85% do couro americano é de primeira qualidade ante a 8% no Brasil. Na avaliação do Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB), se a qualidade do produto nacional fosse melhor, as exportações atuais poderiam, pelo menos, dobrar.
Segundo o coordenador do Centro de Tecnologia do Couro, Edson Espíndola Cardoso, enquanto um couro de boa qualidade pode fazer até 25 pares de sapatos e render US$ 500 a peça, um couro com defeito não produz mais que dois pares. Ou seja, o Brasil perde em agregação de valor.
“É preciso um programa que remunere o produtor pelo couro de melhor qualidade”, afirma o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira. Segundo ele, desde o governo passado discute-se uma ação dessas, mas ainda não foi feito acordo com os curtumes e frigoríficos.
No final de 2002, o governo federal baixou instrução normativa que estabelecia os critérios de classificação do couro. De acordo com as normas, o produto seria avaliado no animal vivo. No entanto, uma pesquisa da Embrapa tenta demonstrar que é impossível classificar a pele neste estágio. Segundo a pesquisadora Mariana de Aragão Pereira, a avaliação deve ser feita na esfola, antes do produto ir para o curtume.
Para Cardoso, seria possível a peça valer até o dobro do preço atual, cerca de 7% a 10% da arroba do boi, se o produto tivesse qualidade. No entanto, o vice-presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), Leogenio Luís Alban, afirma que o couro de melhor qualidade já está sendo remunerado. Segundo ele, nos últimos quatro anos o valor pago pelo couro passou de 7% para 12% do valor da arroba.
Conscientização
A instituição vem investindo na melhoria da qualidade do produto, por meio de um programa que tenta conscientizar pecuaristas e frigoríficos. Foram investidos R$ 3 milhões no projeto, nos últimos dois anos, em parceira com a Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex). “É preciso que o produtor se conscientize, pois ele perde dinheiro na valorização do couro e também na produtividade do animal, no caso de infestação de parasitas”, diz Alban.
Cardoso afirma que uma das maneiras de melhorar a qualidade do produto é investir na sanidade animal, pois um percentual alto dos defeitos das peles é decorrente de parasitas. Outra solução é aperfeiçoar o manejo do gado na fazenda, no que se refere a arames e marcações. Segundo dados do CICB, apenas 30% do rebanho é marcado seguindo as normas técnicas.
Pior que a qualidade do couro, a tributação tem sido considerada o maior problema para os curtumes. De janeiro a agosto, as vendas externas de produtos semi-acabados caíram 6,1%, totalizando US$ 111,6 milhões, enquanto as exportações de wet blue aumentaram 25,6% no período (US$ 311,98 milhões). Isso porque em janeiro foi reduzida a alíquota de exportação do wet blue de 9% para 7%. No total, as vendas externas chegaram a US$ 825,45 milhões (alta de 24,4%).
“Estamos exportando matéria-prima”, afirma Alban. Enquanto um couro acabado é comercializado a US$ 80 a peça, o wet blue é vendido a US$ 30. Segundo ele, isso significa que o país perde divisas ao não agregar valor a seu produto.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Neila Baldi), adaptado por Equipe BeefPoint
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Como pecuarista, e analisando a cadeia iniciando-se na produção onde estou, até o calçado e artigos de couro, o pecuarista não recebe nada de incentivo para produzir um couro melhor, de fato não estamos nem sendo adequadamente compensado pela carne produzida.
Agora com o tal de rastreabilidade lançada pelo Ministério da Agricultura, um trabalho sem serventia alguma, pois tive a oportunidade de ver uma caixa de carne vinda do Brasil que chegou em Dubai -UAE – nada encontrei que identificasse de qual boi era aquela carne.
Este programa parece ate piada, acho que as pessoas envolvidas pensam que os pecuarista não saem de suas fazendas, são analfabetos e presa fácil para ser explorada.
Nós temos que fazer algo para que estas empresas que nos exploram nos vejam como parceiros no negócio e nos compense pelo que produzimos adequadamente.