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Cepea: oferta de bois gordos supera aumento de demanda

A economia brasileira está vivendo o melhor momento deste governo. O crescimento do País está estimado entre 4 e 5%, enquanto o desemprego, o dólar e o “risco país” recuam. Enfim, trata-se de um cenário bastante desejado pelo governo. Com o crescimento mais acelerado da economia, porém, a inflação começa a preocupar.

O setor de carnes é geralmente apontado como um dos grandes vilões da inflação dos alimentos por representar, sozinho, entre 20 e 25% dos dispêndios com alimentação na maioria dos índices de inflação. Para os membros da equipe econômica e para os agentes do segmento pecuário, uma pergunta importante é: existe o risco de a carne gerar inflação nos próximos meses? A resposta exige uma série de ponderações do mercado e principalmente uma análise detalhada do comportamento dos componentes dos custos.

Neste ano, o ciclo de crescimento econômico vem acompanhado de um fato novo no tocante à produção de carne. Os preços deste produto no atacado estão em queda, mesmo no período atual de entressafra de boi gordo. A carcaça casada no atacado da Grande SP, em termos nominais, tornou-se 6,9% mais barata entre 02 de janeiro e 13 de setembro de 2004 – até agosto. A inflação medida pelo IGP-M acumulou alta de 9,5%. A queda foi mais acentuada para os cortes nobres: o traseiro perdeu 9,64%, enquanto o dianteiro manteve-se estável, variando apenas 0,64% negativamente.

De janeiro a julho, as exportações de carne (in natura e industrializada), segundo dados da Secex, tiveram um aumento em volume por volta de 35%, numa comparação com o mesmo período do ano passado. Os preços da carne exportada, no agregado dos corte in natura e industrializados, se elevaram na ordem de 27,5%. Com tais aumentos em volume e preço, a receita deu um salto de 72,6% em relação a 2003 (sete meses) e de 123,7% sobre 2002 (também parcial). Já os preços da arroba estão praticamente estáveis, comparando-se os valores do início do ano aos de meados de setembro, frustrando produtores que aguardavam os reajustes típicos da entressafra.

De acordo com cálculos econométricos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o crescimento da economia num ritmo de quase 5% ao ano deve significar um aumento de consumo da ordem de 450 mil bois de 17 arrobas, demanda que é reforçada pelos recordes de exportação. Considerando-se que o aumento de oferta de carne leva entre três e cinco anos, prazo necessário para que um investimento no segmento gere o produto final, como os preços podem estar em queda?

O normal seria esperar que o aumento da demanda favorecesse as cotações e desencadeasse um processo de investimento no setor e, assim, dentro de alguns anos, a oferta viesse a aumentar; neste momento, então, os preços reais tenderiam a cair. A expectativa de alta fez com que os agentes do mercado tomassem posições agressivas nos primeiros meses do ano, quando os contratos futuros com vencimento em outubro eram cotados entre R$ 65,00 e R$ 70,00 por arroba, à vista. Se esses valores representassem expectativas apenas de investidores ou de pecuaristas mais otimistas, seria uma situação normal, mas os frigoríficos também acreditaram nesse patamar, tomando posições e fazendo oferta de compras antecipadas. Enfim todos os agentes do mercado acreditaram nas altas.

O segmento de insumos, onde as empresas são mais concentradas, também acreditou que o ano seria muito bom para os donos de boi e, como acontece em praticamente todos os setores da agropecuária, procuram reajustar seus preços.

O pecuarista teve uma redução de margem em torno de 7% por conta do aumento dos custos de produção num período em que os preços do boi se mantiveram estáveis. Essa redução de margem foi transferida aos frigoríficos que, com a diminuição dos preços da carne no atacado doméstico (Grande SP tomada como referência), também por volta de 7%, deram aos varejistas a possibilidade de oferecer um produto mais barato ao consumidor. Nessa dinâmica, os frigoríficos estão sendo menos castigados por esses efeitos graças às exportações.

Fonte: Equipe BeefPoint, com dados do Cepea

0 Comments

  1. Konrad W.W. Güth disse:

    ótimo informativo! Continuem assim
    Konrad