Os custos de produção estão dando alguns sinais de queda ou, ao menos, de contenção das altas. Os preços do boi gordo, porém, não estão reagindo e, no mercado futuro, a arroba está sendo comercializada a valores menores que os praticados em 2004. Também preocupante para o setor são as quedas dos preços do bezerro, que refletem o desinteresse por reposição. O clima é de excessivo pessimismo e contrasta com as perspectivas do mesmo período de 2004, quando a euforia era generalizada.
Produtores de praticamente todas as regiões brasileiras estão operando com margens negativas. Em alguns Estados, especialmente no Rio Grande do Sul e em Goiás, nem os custos operacionais efetivos estão sendo cobertos. Como resposta, constata-se a baixa demanda por insumos como sementes, indicando que a formação e a renovação de pastagens estão muito inferiores à de outros anos. Mesmo assim, itens como o sal mineral, que representa 15% dos custos de produção nesta época do ano, estão em alta.
O mercado neste início de ano reflete um certo desequilíbrio entre a oferta e a demanda. O volume disponível está superando a procura há vários meses, e neste momento está bastante claro que os aumentos de produtividade da pecuária nacional elevaram a oferta de carne numa proporção superior ao crescimento da demanda, tanto no mercado brasileiro quanto no externo.
O consumo interno é ditado pelo crescimento da renda que, neste ano, deve ficar entre 3 e 4%. Isto terá um impacto menor sobre o consumo do que no passado, pois deve impulsionar apenas o consumo doméstico das camadas de baixa renda, enquanto no passado elevaria o consumo em geral. Além disso, é crescente a parcela da população que se alimenta fora de casa e a elasticidade de consumo dessas pessoas é pequena. A média do brasileiro, segundo o IBGE, está estabilizada em torno de 35kg de carne bovina por ano e não há sinais de grande aumento.
O Brasil tem horizontes favoráveis no mercado internacional, mas a vulnerabilidade ainda é grande. Em 2003, de acordo com a FAO, 54% das nossas exportações de carne bovina foram para países desenvolvidos, enquanto a Austrália comercializou com esse tipo de cliente 81% e o Canadá, 89%. Há de se ponderar positivamente que, o Brasil vendeu, em 2003, 32% do total exportado para a Comunidade Européia e, portanto, recebeu em euro, moeda valorizada perante o dólar americano – isso serve para atenuar os efeitos da valorização do real frente ao dólar.
No mercado futuro da BM&F, as cotações do boi e do dólar indicam que a arroba deve operar entre US$ 21,00 e US$ 23,00 neste ano, patamar elevado em dólar, ao ser comparando aos cerca de US$ 15,00 praticado nos últimos anos. Infelizmente, esse aumento se deve apenas à desvalorização da moeda americana. O que mais impressiona é que a valorização do real parece afetar apenas os valores de venda da carne, pois mesmo nos insumos importados não são sentidas quedas de preços.
Fonte: Cepea, adaptado por Equipe BeefPoint