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Certificação e qualidade de carnes

Por Kátia Leal Nogueira1

Quais são as melhorias e quanto de valor agregado uma empresa pode obter quando se implanta um Programa de Qualidade “Certificado”.

Implantar um Programa de Qualidade na empresa implica em mudanças que certamente farão com que a empresa torne-se muito mais competitiva e diferenciada no mercado. Entre os requisitos, necessários, a empresa deve investir em tecnologias, treinamentos e qualificações, incorporar produtos e serviços que atendam as necessidades dos consumidores e desenvolver um programa de marketing para divulgar tais investimentos.

Tantos investimentos e mudanças, por si, já significam uma atitude empresarial diferenciada e bastante valorizada num mercado onde os consumidores são disputados crescentemente.

A melhor maneira de demonstrar de que forma um Programa de Qualidade pode trazer benefícios é estabelecer, um paralelo entre as diferentes estratégias de investimentos (Formação de marcas, Investimento em tecnologia, Marketing e Segurança do alimento) que podem ser implantados na empresa.

Formação de marcas e utilização de selo de qualidade

Segundo Jank e Nassar, autores do livro “Economia e Gestão dos Negócios Agroalimentares”, de 2000, a exploração da marca e utilização de selos de qualidade são estratégias consideradas como fator de sucesso nos negócios.

A formação de marcas no setor pecuário é de fundamental importância, isso porque os critérios de escolha para o produto “gado” ou carne são subjetivos e de difícil mensuração por parte dos compradores. A constituição de uma marca nesses casos trará diferenciação e distinção do produto em relação aos demais disponíveis no mercado.

Mas não basta somente criar uma marca para obter sucesso; esta tem que carregar consigo requisitos de qualidade esperados pelos consumidores como, por exemplo, animais com garantia de procedência, selecionados para características produtivas e reprodutivas de importância econômica, que proporcionem carne de qualidade, segurança e padronização e que sejam criados dentro de padrões de bem estar animal e cuidados com o meio ambiente.

Outro passo nesse processo é tornar publico e facilmente reconhecido, pelos consumidores, os requisitos de qualidade vinculados à marca. É importante que estes estejam disponíveis na forma de um regulamento ou manual de qualidade.

Nesses sistemas, normalmente, uma entidade independente, chamado organismo certificador, monitora e controla se o produto corresponde às especificações alegadas como forma de fornecer credibilidade e aumentar a confiança do produto perante os consumidores.

É bastante comum o processo de formação de marcas estar associado a um Programa de Qualidade monitorado por um organismo independente. Isto se justifica pelo fato dos consumidores atuais procurarem, como garantia de qualidade dos produtos, que estes cumpram requisitos pré-estabelecidos e avaliados de forma imparcial.

Investimento em tecnologias

A tecnologia é um dos principais fatores determinantes da competitividade das organizações. O aumento da velocidade e dinamismo do processo inovativo exige que elementos de gestão do processo de desenvolvimento e uso de tecnologias sejam incorporados à rotina, administrativa, esclarece Waack, no livro já citado.

Um dos pontos críticos para qualquer empresa que decida investir nesta área, portanto, está na capacidade de identificação das diversas alternativas tecnológicas que despontam e que, provavelmente, não são facilmente visíveis.

As preferências dos consumidores, a segurança do alimento, a sustentabilidade dos sistemas produtivos e a globalização dos padrões de consumo de alimentos são temas altamente relevantes e com forte impacto na definição das estratégias tecnológicas das empresas.

Para atender de forma ampla à expectativa do consumidor, o varejo, a indústria de processamento e o produtor rural, ou seja, todos os elos da cadeia de produção agroindustrial, devem se mobilizar para se adaptar à nova realidade. E a nova realidade é a demanda por um alimento com qualidade e segurança, com o qual o pecuarista deve-se considerar envolvido, já que faz parte dessa cadeia. Somente assim, é possível manter a competitividade do setor frente aos mercados e a outros produtos concorrentes.

Durante a preparação da regulamentação de um Programa de Qualidade, todas as regras, normas e critérios buscam atender requisitos gerais de qualidade e segurança exigidas pelos consumidores. Atentando para investimentos em sistemas de produção que forneçam animais que proporcionarão carne com padrão, acabamento, maciez e sabor, além de estar livre de resíduos e doenças, entre outros requisitos. Essas mesmas normas e critérios também são aplicados para os frigoríficos através da implantação de BPF e HACCP, chegando até os pontos de venda, onde também são controlados recebimento, estocagem, higienização e outras tecnologias que proporcionam melhor qualidade ao produto.

Marketing

Fornecer produtos e serviços diferenciados, utilizando estratégias de qualidade, segurança, aparência, credibilidade, freqüência de entrega, promoção e consolidação da marca: estas são ferramentas que torna o produto diferenciado em relação aos concorrentes e, portanto constituem uma estratégia mercadológica que, entre outros benefícios altamente valorizados, agrega valor ao produto comercializado.

Para detectar estas estratégias, há necessidade de pesquisar o mercado e encontrar quais são os atributos valorizados, pelos consumidores, para um determinado produto ou serviço. Incorporar ao produto ou serviço esse conjunto de diferenças, dar garantias de que essas diferenças estão realmente presentes no produto para então distinguir as ofertas dos concorrentes o que é uma alternativa não só de competitividade empresarial, mas de sobrevivência.

Como um panorama do comportamento do mercado nos últimos anos, facilmente são levantadas as expectativas e exigências dos consumidores, quando o assunto é carne bovina. Matérias de revistas, anuários, artigos de sites especializados, feiras e pesquisas envolvendo esse assunto trazem a resposta: GARANTIAS DE SEGURANÇA, QUALIDADE E CONSTÂNCIA.

Mais uma vez verifica-se que um Programa de Qualidade, além de ser uma ferramenta de marketing, bastante eficaz por trazer um diferencial dentre os concorrentes, pode fornecer garantias de segurança ao produto e auxiliar na busca pela qualidade, como explica figura 1.

Figura 1. Fluxo Programa de Qualidade


Segurança do alimento

É importante iniciar definindo o conceito: segurança do alimento, que tem sido, em alguns casos, utilizado com dois significados distintos. Quando o enfoque utilizado é quantitativo, referindo-se ao abastecimento adequado de uma população a expressão correta é segurança alimentar e, nos casos em que o enfoque é qualitativo, ou seja, ligado à saúde e segurança, usa-se segurança do alimento.

Um passo fundamental para as empresas relacionadas ao setor agroindustrial é avaliar a demanda do consumidor por atributos relacionados à segurança do alimento e investir em estratégias que visem manter e conquistar novos consumidores. Segundo Spers, no mesmo livro, “Um produto alimentar deve ter atributos de segurança e qualidade para ser competitivo”.

Com o objetivo de alcançar altos padrões de qualidade na produção de um alimento, atender às atuais exigências e manter-se competitivo, o sistema agroindustrial da carne está se voltando para processos que enfatizam o controle de cada ponto crítico da produção envolvendo, assim, toda a cadeia. É o que chamamos de coordenação vertical, estratégia que possibilita um maior controle sobre as etapas pelas quais passam o alimento até o consumo final.

Embora os produtos provenientes de processos com coordenação vertical agreguem qualidade, muitas vezes essa qualidade está intrínseca ao produto e não é facilmente percebida pelos consumidores. Nesses casos, é necessário um “certificado” ou “selo” de qualidade para comprovar tais atributos e fazer com que os consumidores sintam-se mais seguros quanto ao seu consumo.

Segundo Spers, as exigências da certificação quanto à comprovação dos insumos utilizados propicia maior interação entre os agentes do sistema agroindustrial e, como conseqüência, maior competitividade do sistema como um todo.

Como se pode verificar, a implantação de um Programa de Qualidade abrange todos os departamentos e funcionários de uma empresa, assim como todos os envolvidos no sistema de produção. A integração e a comunicação decorrentes do processo são responsáveis pela melhoria da qualidade e conseqüentemente maior competitividade da empresa gestora.
_______________________
1Kátia Leal Nogueira é médica veterinária e coordenadora nos segmentos de pecuária e carne da SGS do Brasil, empresa Suíça que opera em Programas de Qualidade em mais de 142 países.

Artigo originalmente publicado no Anualpec 2003

0 Comments

  1. Angélica Simone Cravo Pereira disse:

    Kátia,

    Parabéns pelo artigo!

    Acredito que é necessário criarmos um elo maior em toda a cadeia da carne bovina, e além disso entre os próprios produtores.

    Dessa forma, conseguiríamos agregar mais valor à carne bovina, como o que ocorre com a cadeia da carne de aves, cada vez mais promissora…