O primeiro ponto a ser defendido pelo vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira e pecuarista, Cesário Ramalho da Silva, sobre as mudanças do Sisbov, foi a consolidação da não obrigatoriedade de sua adoção por todo o pecuarista em todo o território nacional.
No entanto, segundo ele, é necessário que o produtor compreenda que a pecuária no Brasil não tem outra saída que não seja atender às exigências dos clientes internacionais, já que o mercado interno não teria capacidade de absorver nossa produção.
Propriedade certificada fortalece o setor
Essa mudança, que é principal dentro da proposta que vem sendo discutida para implementação do novo Sisbov é “um grande avanço” na opinião de Cesário. Segundo ele, é muito mais consistente porque formaliza o conceito de “unidade produtora”, que adota determinadas práticas de produção, tais como bem-estar animal, gestão ambiental etc, melhorando as condições de se explorar isso. “É a unidade produtora adequada aos mercados mais exigentes”, afirmou.
Outro ponto que deve fortalecer o sistema na opinião de Cesário é a valorização de animais de reposição qualidade, que será uma conseqüência da exigência de se ingressarem animais somente rastreados na propriedade certificada. “De que adianta ter uma fazenda cadastrada, se ele não é valorizado por isso?”
Para ilustrar isso, ele recorreu ao exemplo argentino, onde, segundo ele o Terneiro se valorizou cerca de 10% imediatamente após ser feita uma exigência semelhante para o sistema de rastreabilidade naquele país.
Integrar sanidade e rastreabilidade
Uma das novas regras que vêm provocando intenso debate é sobre o controle das movimentações, que serão feitas pelas agências sanitárias de cada estado. Cesário, mesmo reconhecendo a necessidade de se informatizar urgentemente esses órgãos, para se adequarem à nova responsabilidade, defendeu a idéia.
“É impossível adotar um programa de sanidade e certificação se as duas coisas não estiverem juntas”, afirmou, explicando a importância de se integrar o controle sanitário e a rastreabilidade. Ele enfatizou a importância de se criar uma forma de unificar a GTA e o controle das movimentações na rastreabilidade. Isso também seria uma forma de reduzir a quantidade de documentos.
Processo auditável
Cesário explicou que, até hoje, o trabalho das certificadoras é puramente burocrático. Com as novas regras, essas empresas passam a certificar o processo produtivo, o que deve gerar uma grande exigência operacional, tais como transporte e hospedagem dos técnicos.
Devido às dimensões do Brasil, é muito provável que surjam unidades regionais dessas certificadoras, sendo muito importante estas sejam auditadas por uma entidade de respaldo internacional, a exemplo da ABNT, conferindo credibilidade ao sistema.
Definição à UE
“A UE não quer o ótimo. A UE quer transparência”, afirmou. Ele defendeu que é extremamente importante que o Brasil defina um plano claro com prazos factíveis de rastreabilidade ao bloco. Cesário lembrou que em junho a UE deve enviar uma missão ao país, sendo que teremos “graves problemas” caso não tenhamos um plano bem definido.
Sanidade animal
Por fim, Cesário ressaltou a importância da criação de uma instituição que defenda os produtos agropecuários do país do ponto de vista da sanidade animal, internacionalmente.
Esta deveria ser representada por uma pessoa não apenas de conhecimento técnico, mas extremamente articulada. “Falta uma liderança suprema para a sanidade das três carnes”, concluiu.
Otavio Negrelli, Equipe BeefPoint