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China tenta combater contrabando de carnes

Como ocorre todo início de noite no Porto de Tai O, vilarejo de pescadores com menos de dois mil moradores, uma patrulha da polícia se prepara para procurar contrabandistas na Baía de Hong Kong. Usando máscaras de mergulho, armas sofisticadas e um barco inflável, os policiais procuram não apenas cigarros ou produtos eletrônicos contrabandeados entre Hong Kong, Macau e China. Eles atuam também para conter o tráfico ilegal de carnes brasileiras.

Há duas semanas, a visita do presidente chinês, Hu Jintao, ao Brasil resultou na assinatura de um acordo para a exportação de carnes brasileiras. Mas importadores de Hong Kong não acreditam que o acordo seja posto em prática antes de 2005. Enquanto isso, o contrabando da carne que sai do Brasil em direção à China, via Hong Kong, tende a continuar.

O fenômeno do contrabando é admitido também pelas autoridades de Hong Kong. Em documento oficial, as autoridades reconhecem que o tráfico de carne entre China e Hong Kong é “um tema preocupante para os dois lados da fronteira”, e sugerem que a melhor forma de controlar seria o desmantelamento das máfias.

Há cerca de um mês, um barco foi descoberto nas proximidades de Hong Kong com uma carga de frango do Brasil para o mercado chinês. A apreensão foi divulgada nos jornais locais, que destacaram o interesse das máfias pelo produto brasileiro. A carne exportada pelo Estados Unidos também é alvo desse contrabando.

Segundo especialistas, a prática ilegal ocorre basicamente por dois motivos. De um lado, o crescimento econômico chinês mudou, nos últimos dez anos, os padrões de alimentação da população, que consome carne cada vez mais. Os obstáculos tarifários e sanitários para a entrada da carne na China também incentivam o tráfico. Para completar, os territórios de Hong Kong e Macau servem como portos perfeitos. Apesar de devolvidos à China nos anos 90, têm regras aduaneiras e polícias separadas.

De fato, o contrabando de carne já ocorria antes de 1999. Na época, as tarifas chinesas eram de 45% sobre o produto, o que incentivava ainda mais a atuação das máfias, a partir de Hong Kong. O governo dos Estados Unidos estimou, já em 1997, que 88% do frango comercializado entre Hong Kong e China não estavam nos dados oficiais da aduana de Pequim. Entre as carnes vermelhas, o volume não registrado pelos chineses chegava a 82%.

No início desta década, porém, havia indícios do fim do contrabando. Com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), as tarifas para a importação de carne foram reduzidas para 20%, diminuindo os lucros dos contrabandistas. Segundo Porfírio Gomes, advogado em Macau, o surgimento da gripe das aves na região reforçou a vigilâncias nos portos e o número de barcos apreendidos pelos chineses caiu entre 2000 e 2002.

A esperança de por fim ao contrabando acabou no ano passado, quando uma nova onda voltou a movimentar a Baía de Hong Kong. Uma das explicações é a explosão do consumo e, portanto, do preço das carnes no mercado chinês. Desta vez, o contrabando que basicamente girava em torno da carne americana nos anos 90, passou a ter o produto brasileiro como principal foco diante do aumento das exportações nacionais.

O diretor da importadora Hing Lung Food Place, no setor há 35 anos, Eric Ng, é considerado um dos maiores comerciantes de carne brasileira de Hong Kong e se mostra pessimista quanto à possibilidade de a polícia local acabar com o contrabando. “A costa chinesa é muito extensa e não há como monitorar todos os pequenos portos”, afirma. “Cotas, exigências sanitárias e tarifas são os motivos que levam muita gente a buscar outro caminho para levar a carne do Brasil para a China de forma ilegal”, analisa. Ele importa, todos os meses, cinco mil toneladas de carne brasileira.

As quadrilhas locais também se modernizaram. O uso de barcos de alta velocidade reduziu o tempo da travessia em direção à China e dificultaram a ação da polícia. Em 2002, 20 barcos de alta velocidade foram interceptados. Em 2003 foram 122.

No Porto de Tai O, um dos barcos parados levantou suspeitas da patrulha. O barco era usado para transporte de passageiros entre o vilarejo e Macau durante o dia. Curiosamente, contava com quatro motores, daí a suspeita da polícia. Nesse dia, porém, o proprietário do barco não foi encontrado e os policiais não puderam agir.

Fonte: O Estado de S.Paulo (por Jamil Chade), adaptado por Equipe BeefPoint

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