Brasil “dificilmente” será remunerado por cumprir o Código Florestal
30 de outubro de 2025
Três gerações, três velocidades: como a Agro Cantareira aprendeu a alinhar o motor da família
30 de outubro de 2025

Cientistas reforçam papel da carne na saúde humana e questionam dietas baseadas em plantas

O debate sobre a relação entre carne e saúde humana ganhou força durante o painel “Consumo de proteína animal e a relação com a saúde humana”, realizado no World Meat Congress 2025, em Cuiabá (MT). Especialistas internacionais defenderam que as dietas equilibradas, com presença de alimentos de origem animal, são não apenas seguras, mas essenciais para o desenvolvimento humano e a prevenção de doenças crônicas.

A nutricionista britânica Carrie Ruxton, uma das vozes mais reconhecidas no tema, analisou a nova versão do relatório Eat-Lancet 2.0, lançada em 2025. Segundo ela, a proposta mantém um viés ideológico e ignora a realidade nutricional e socioeconômica global. “A dieta recomenda o equivalente a apenas uma porção de carne vermelha por semana. Isso não é realista nem acessível. É uma visão utópica e impossível de implementar”, afirmou.

Ruxton alertou ainda para o impacto socioeconômico que a adoção desse modelo poderia trazer. “Eles estimam que metade dos empregos do setor pecuário desapareceria. Além disso, pretendem taxar alimentos de origem animal e deslocar subsídios agrícolas para frutas e leguminosas. É uma ameaça direta a milhões de famílias e à segurança alimentar”, ressaltou.

A palestrante destacou que o desafio não está em eliminar a carne, mas em produzir de forma cada vez mais sustentável e comunicar melhor os avanços do setor. “O consumidor quer comer carne — e com razão. Ela é rica em proteínas de alta qualidade, ferro, zinco, vitaminas do complexo B e outros nutrientes essenciais. O papel da indústria é ajudar o consumidor a se sentir confortável com essa escolha”, disse.

Na sequência, o pesquisador belga Frédéric Leroy, da Universidade Livre de Bruxelas, ampliou o debate ao questionar as chamadas “transições proteicas” e os modelos de alimentação ultraprocessada. Segundo ele, as dietas que reduzem drasticamente o consumo de proteína animal tendem a gerar deficiências nutricionais severas.

“O limite seguro para garantir boa nutrição parece estar em torno de 30% das calorias vindas de alimentos de origem animal. Abaixo disso, surgem deficiências de vitaminas e minerais importantes. Não se trata apenas de proteína, mas de um pacote completo de nutrientes que só os alimentos de origem animal fornecem com eficiência”, explicou.

Leroy também criticou a simplificação das políticas públicas que buscam impor dietas “sustentáveis” sem base científica sólida. “A ideia de que é possível substituir toda a pecuária por alimentos de laboratório ou bioreatores é uma ficção perigosa. O gado é, há milênios, o meio mais eficiente de transformar recursos não comestíveis em nutrição humana de qualidade”, afirmou.

O terceiro painelista, Andrew Mente, epidemiologista da Universidade McMaster (Canadá), apresentou dados robustos da PURE Study, pesquisa que acompanha mais de 200 mil pessoas em 80 países. O estudo mostra que dietas moderadas, com equilíbrio entre gorduras, proteínas e carboidratos, são associadas a menor mortalidade e menor risco cardiovascular.

“Encontramos menor risco de doenças cardíacas e morte entre pessoas que consomem quantidades moderadas de carne, laticínios e peixes. Já dietas com excesso de carboidratos refinados estão ligadas ao aumento da mortalidade”, destacou.

Os resultados também reforçam o valor dos laticínios integrais. “Consumir até duas porções por dia de produtos lácteos está relacionado a um risco até 22% menor de doenças cardiovasculares. Isso desafia décadas de recomendações equivocadas que demonizavam a gordura saturada”, completou Mente.

Ao final, os palestrantes convergiram em um ponto central: a carne não é inimiga da saúde, mas parte essencial de uma alimentação equilibrada e sustentável. Mais do que excluir alimentos, o desafio é promover dietas que respeitem a biologia humana, a cultura alimentar e a sustentabilidade produtiva.

“Precisamos recuperar o bom senso alimentar dos nossos avós”, resumiu Leroy. “Frutas, vegetais, laticínios, carne e peixe — os mesmos alimentos que sempre sustentaram a humanidade — continuam sendo a base de uma nutrição saudável e acessível.”

Fonte: Feed&Food.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *